estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2006-06-26

AZAMBUJA BLUES

Às 12h00 de uma sexta-feira cuja temperatura ronda os 29 graus, o largo fronteiro ao edifício da Câmara Municipal da Azambuja é um deserto humano apenas contrariado pela presença de um ou outro comerciante à porta do estabelecimento. "Está tudo apavorado aqui", comenta a dona de uma papelaria. "Eles decidiram fechar a fábrica, decidiram. Não há volta a dar-lhe. As pessoas sentem-se vencidas, sabem que isto está mau e vai ficar pior ainda".
Mais adiante, numa churrasqueira, o sentimento é o mesmo. "É um caso decidido. Agora, vai ser complicado. Para aí um terço dos trabalhadores afectados são aqui da Azambuja. Já imaginou?", pergunta Francisco José Vieira, enquanto abre a grelha onde colocara diversos frangos a assar.
Muita gente na vila tem familiares ou amigos a trabalhar na GM. "Um familiar meu com 26 anos está lá a trabalhar. Comprou uma casa há pouco tempo e está a pagar o carro, é muito complicado", explica Francisco José Vieira.
Nos cafés e lojas da vila, não se fala noutra coisa. Muitos vêem a decisão da empresa como algo de poderoso, que vem de cima, quase impossível de contrariar. "Ninguém pode exigir que eles cá fiquem", desabafa um morador. "O que é que se pode fazer? Se fosse uma empresa nacional...agora assim, as pessoas têm de se limitar às ordens superiores...", comenta outro habitante.
No Café e Pastelaria Favorita, enquanto se abastecem de pão e de pastéis, não há quem não comente. "O fecho da fábrica vai pesar muito na zona e vai fazer muita falta. De certeza que vai afectar o comércio da vila. Quanto? Passe aqui daqui a um ano, que eu depois faço-lhe um balanço. Que vamos ter uma quebra, vamos...", explica o proprietário.
Em frente aos portões da fábrica, o discurso dos elementos da comissão de trabalhadores é de maior combatividade e esperança. Acaba de terminar a sessão da manhã de um plenário que se estenderá pela tarde para abranger os dois turnos e a comissão de trabalhadores explica às televisões os últimos desenvolvimentos. Paulo Vicente, porta-voz da comissão de trabalhadores (CM), recém-regressado de Bruxelas, fala em propostas concretas de viabilização, na vontade da germânica Wagon Automotive de instalar uma prensa junto à GM para produzir componentes.
Ao lado, Luís Figueiredo, outro elemento da CM, exprime o sentimento generalizado dentro dos portões da fábrica. Lá dentro, as situações variam. Há gente que trabalha ali há 29 anos, 30 anos. Há quem ali esteja há três anos. "A indemnização que vão receber não dá nem para os tremoços", desabafa Luís Figueiredo. Há inclusivamente o caso de um casal da Azambuja que, com um filho de três anos, trabalham há vários anos na fábrica.
"As pessoas estão preocupadas, ansiosas mas ao mesmo tempo com esperança. Ao fim de contas são 1.800 pessoas que vão para a rua. Não podemos deixar de lutar. Vamos lutar até ao fim", garante Luís.
Às 14h35, os trabalhadores do primeiro turno saem pelos portões fora com a mesma rapidez e alívio com que vemos os estudantes a sair da escola mal terminam as aulas. Uns precipitam-se de lancheiras e sacolas na mão em direcção aos carros e outros vão entrar, no parque de estacionamento da direita, em autocarros da empresa que os levarão a casa. Há ali quem more no Carregado, Alenquer, Vila Franca de Xira, Aveiras de Cima, Cartaxo. "Oh chefe, escreva aí que o dinheiro dura pouco tempo!", grita um.
Sendo a zona de entrada toda ela alvo de video-vigilância, é natural que a maioria não se queira identificar. "Não está nada decidido", diz um trabalhador", e como não está nada decidido, a minha filosofia é trabalhar o dia-a-dia enquanto o portão estiver aberto. Enquanto a porta não for fechada, vamos trabalhando. É assim..."
Outro operário que trabalha na GM há seis anos fala nas consequências psicológicas do arrastar da situação: "Há tensão lá dentro e as pessoas andam aborrecidas. Era bom que o governo desse uma ajuda ou fosse tomada uma decisão. Mas ouça, quando falo em tensão, não é tensão de as pessoas andarem à porrada, é nervosismo..." Um trabalhador que passa por perto comenta alto e bom som: "Isto aqui não é a GM, é o Júlio de Matos!"
Os operários do turno da manhã saem aos cachos, em bandos. Há ali de tudo, até motards que desaparecem num ápice na voragem da Estrada Nacional 3. Dois operários mais jovens abraçam-se, querem falar, desabafar: "O pessoal está triste, não sabemos o que vai acontecer, é tudo incertezas. Escreva aí que há tristeza, desânimo..."

2006-06-25

Loucura ou a vitória sobre o caos

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Portugal 1-Holanda-O e a explosão total da folia na minha rua, nas varandas, nos carros, na rotunda junto à Orbitur. Um vizinho meu colocou uma cadeira em cima da passadeira em frente ao café onde toda a gente foi aparecendo em dilúvio como se tivessem acabado de assistir a um combate de boxe. Não foi bonito nem muito dignificante para um Campeonato do Mundo mas um tal de Ivanov ajudou à festa e deixou que o caos e o descontrole se instalassem em campo. Portugal venceu a Batalha de Nuremberga. Figo, Deco e Simão, por exemplo, não estão isentos de culpas mas quem abriu as hostilidades, pergunto eu, que sou português? Foram eles, que arrumaram com Cristiano Ronaldo para as boxes e foram sempre demasiado jovens e indisciplinados. Van Basten foi sempre o rosto da tensão desse mesmo nervosismo holandês. Venham os ingleses. Estamos nos quartos de final. Obrigado Scolari.

P.S. mauzinho : Ainda não foi desta que os Pintos da Costa pularam de alegria...

2006-06-23

Calendário afectivo

Meu querido diário:
Portugal joga com a Holanda no domingo em Nuremberga
O Brasil joga com o Gana na terça-feira em Dortmund

A montanha russa

Um Campeonato do Mundo de Futebol é como uma Montanha Russa feita de dribles emocionais, repentismos cardíacos, festa e euforia mas também muita ansiedade, solidão e tristeza. Vale a pena, não vale?
1- A SOLIDÃO
solidão
2-A MANIFESTAÇÃO DA AUTORIDADE
quem manda
3-A ARTE E PAIXÃO
paixão
4- A fÚRIA
italia 1
5- A TRISTEZA ORIENTAL
gueisha chorosa
6- O TERCEIRO MUNDO EM CASA
Gana na Times Square
(Imagem de um golo do Gana na vitória contra a selecção dos Estados Unidos em plena Times Square)
7- O ADEUS
derrota
8- SOI ITALIANO!
Soi un italiano
9- AFRICAN PRIDE
African pride
O Gana bateu os Estados Unidos

Todas as imagens são Reuters e Associated Press

2006-06-21

JOE COLE ou o melhor golo do Mundial 2006 até agora

j cole 1 34 minutos do Suécia-Inglaterra. Cole está a uns bons 30 metros da área, do lado esquerdo do campo, pára a bola com o peito e remata fortíssimo, a bola a descrever um arco e a entrar no canto superior direito da baliza de Isaksson
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j cole 3

2006-06-19

Energia, muita energia

Ao fim destes anos todos, eis o que homem providencial, o prometedor de amanhãs que cantam e de um Portugal Europeu e Resplandecente ainda tem para nos dizer:

"Espero que a energia positiva que se tem vindo a criar em Portugal de norte a sul também seja utilizada para o desenvolvimento do país, para a recuperação da nossa economia, para o aumento do bem-estar da nossa sociedade".
Cavaco Silva, Braga 19 de Junho de 2006

Calendário afectivo

Quarta-feira, às 15h00, México-Portugal e Angola- Irão
Quinta-feira, Brasil-Japão
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Oh vizinha, é uma sandes de courato embrulhada no último editorial do Miguel Sousa Tavares!

2006-06-15

Sábado, às 14h00, pra o que der e vier!!!

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Ah e tal porque foram treinar para o calor absurdo de Évora, ah e tal porque o seleccionador é brasileiro, ah e tal porque o melhor guarda-redes do Sistema Solar não foi convocado, ah e tal porque não nos deslumbraram contra Angola, ah e tal porque ou nos deslumbram ou ficamos amuados, ah e tal porque...sabem que mais? Vão dar banho ao cão! PORTUGAL SEMPRE!!!

P.S. Faço minhas as palavras do Scolari: ""Esses comentaristas não entendem nada de bola. Não sabem quantos gomos tem. Não sabem quanto pesa. Não sabem nada, só ficam dizendo um monte de asneiras".

2006-06-14

E O SANTO ANTÓNIO JÁ SE ACABOU

Milhares e milhares de lisboetas saíram à rua para celebrar o Santo António na noite em que, pelo terceiro ano consecutivo, Alfama venceu as marchas populares. A marcha do bairro não só venceu em coreografia como no figurino, na análise global e no desfile na avenida, neste último caso empatada com a marcha da Madragoa.
A marcha de Alfama foi seguida no segundo lugar pela Madragoa, no terceiro pela de Alcântara, no quarto pela do Castelo e no quinto pela da Mouraria. Benfica venceu o prémio de melhor letra das marchas enquanto a dos Olivais venceu o prémio da musicalidade.
Mas se o epicentro das festividades foi o desfile das marchas populares na Avenida da Liberdade, os bairros históricos de Lisboa encheram-se com gente ávida de sardinhas assadas e vinho tinto. As artérias que se previam mais frequentadas foram cortadas ao trânsito muito cedo, o que fez com que a maioria das pessoas circulasse a pé pelos bairros históricos.
Cerca das 20h00, já era praticamente impossível encontrar em Alfama uma mesa ou um banco disponível para comer a sardinha assada, cujo preço esteve quase sempre no euro e meio. A partir dessa hora, o exercício mais vulgar de turistas e visitantes era o de subir e descer vielas e becos, observando a felicidade dos que, avisados, haviam chegado mais cedo.
Não só os retiros, improvisados e decorados pelos moradores, estavam apinhados, como as esplanadas dos restaurantes se enchiam de comensais.
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À mesma hora em que muitos visitantes procuravam uma mesa ou um banco, os moradores acotovelavam-se junto ao Largo do Chafariz de Dentro para se despedirem dos marchantes. "Vais linda, filha, vais linda!", gritava uma moradora para uma jovem que acabava de entrar no autocarro em direcção à avenida.
Como alternativa a Alfama, muitas pessoas acorreram ao cada vez mais popular Santo António da Bica e à Madragoa. A febre das sardinhadas estendeu-se também por toda a zona que vai de Alfama ao Terreiro do Paço. Não faltaram esplanadas na Rua do Jardim do Tabaco, quer junto a snack-bares e restaurantes quer em roulottes montadas para a ocasião. O Campo das Cebolas e a Ruas dos Bacalhoeiros foram também muito concorridos. Os donos dos restaurantes desta última transformaram a rua num mar de esplanadas.
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A afluência era tanta que junto a uma roulotte instalada entre a Rua do Jardim do Tabaco e a Avenida Infante D. Henrique, sob o som de música brasileira, houve mesmo quem lutasse por uma mesa. "Malcriadão, ordinário!", gritavam duas raparigas, a quem um homem retirou a mesa onde se haviam sentado. "É uma pouca vergonha!"
A Rua das Portas de Santo Antão, essa, beneficiou da proximidade da Avenida da Liberdade, que se encheu de tal forma que muitas pessoas não puderam ver as marchas em grandes condições. As bancadas metálicas estavam repletas de apoiantes dos marchantes e o gradeamento não foi suficiente para toda a gente que quis observar o desfile. "Ie, ie, ie, Mouraria é que é!", gritavam jovens apoiantes da Mouraria, empoleirados numa plataforma metálica precária junto ao Teatro Tivoli.
Junto ao Marquês de Pombal, pela Rua de Brancaamp, estendiam-se os elementos das marchas que ainda não haviam desfilado, muitos deles com o nervosismo estampado no rosto. Outros aproveitavam para cumprimentar os familiares e amigos. "Ritinha, oh Ritinha, olha a fotografia, filha", gritava uma mulher do lado de fora da grade para uma marchante. Um pouco por toda a zona histórica da cidade, a tendência dos últimos anos confirmou-se: o Santo António aparece cada vez mais como uma verdadeira festa de multidões.

2006-06-12

HOJE É NOITE DE SANTO ANTÓNIO

Pelas ruelas, becos e escadarias do bairro histórico mais castiço de Lisboa, os moradores retocam o que há a retocar na madeira dos balcões e das mesas dos retiros e calculam quantas sardinhas vão vender hoje à noite. "Uhhhh, isto é uma loucura. Na noite de sábado, não era ainda noite de Santo António e esgotei 150 quilos de sardinha", comentava ontem um morador e dinamizador de um retiro.
Por toda a Alfama, as ruas e ruelas estão decoradas com arcos e balões e qualquer páteo serve para os moradores montarem o respectivo retiro: umas mesas, uns bancos de madeira compridos, um assador, muito vinho, cerveja, muita febra e muita sardinha.
Ontem, cerca das 11h00, António Carvalho e mais dois habitantes, aprimoravam o Retiro dos Tesos. "O nosso retiro não é muito grande, há os que ocupam áreas muito maiores", comentava António enquanto pregava um balcão. "Estivemos a aumentar aqui o local, já colocámos as luzes. Amanhã (hoje) pode cá passar, que vamos ter sardinha assada, bacalhau e chouriço assado. A partir das 19h00, já temos aqui clientela e é clientela certa que vem para aqui todos os anos".
No Largo de São Miguel, três homens discutiam entre tábuas de madeira, bancos e mesas. Ali, o arraial é maior e exige mais trabalho. "Eu bem disse que aquele lado não é dali", dizia um. "Encosta lá isso, sai lá daí", dizia outro.
Se há quem se disponha a vender a sardinha a euro e meio a unidade, a maioria dos retiros do bairro deverá vendê-la hoje à noite a um euro, enquanto uma dose de febra deverá custar 6,5, uma dose de entremeada o mesmo, o chouriço custará seis euros e o caldo verde 1,5. Para acompanhar, o jarro de sangria andará pelos sete euros, a sangria pequena metade, um jarro grande de vinho custará cinco euros, um jarro pequeno 2,5. A imperial custa 1,5 euros, tal como os sumos e colas.
Este ano, ao contrário de outros anos, já muita gente tem acorrido a Alfama. "Não costuma ser assim. Costumamos ter a noite de Santo António com a grande enchente, mas este ano está a ser demais. No sábado já não se podia andar aqui", comentava José Pires, que montou o Retiro do Beco com a ajuda dos familiares: "Sou eu, a minha mulher, dois filhos, o meu genro...todos ajudam..."
Fosse a animação do conjunto a tocar num palco do vizinho Largo de São Miguel ou a maior publicidade feita este ano às festas, o que é certo é que em 2006, elas começaram mais cedo para José Pires. "Às duas da manhã de domingo esgotou a sardinha, já só vendi febras e entremeadas. Tive aí gente de todo lado, estava aí um grupo de oito pessoas do norte. Havia muitos turistas. Uh, comem muita sardinha. Esteve aí um grupo de 12 pessoas que comeram 250 delas!"
Logo à noite, José Pires espera a confusão: "Já encomendei 300 quilos de sardinha e conto vender tudo. Mal acabem as marchas na Avenida da Liberdade, vem tudo por aí acima. É o pandemónio do costume, já se sabe".Junto à porta da Junta de Freguesia de São Miguel, um monte de bancos de madeira espera pelos foliões da noite. Por todo o bairro, além dos retiros, há balcões atrás dos quais se escondem barris de cerveja, se vende ginja ou amêndoa amarga. "Ginjinha de Almeirim", lê-se num cartaz atrás de um balcão.
Mais acima, no Café Cunha, na Rua Castelo Picão, Nuno Cunha, 35 anos comparava o bairrismo de Alfama com o de outros bairros. "Já fui a muitos bairros. Em nenhum se vive os Santos Populares como em Alfama. Por alguma coisa, a marcha de Alfama é a rainha das marchas". Apesar da enchente que se adivinha para esta noite, o Café Cunha vai fechar como sempre às 21h30. "A partir de uma certa hora, não compensa. Temos de levar com pessoal que já vem bebido. Se partirem um retiro, aquilo é só tábuas...aqui este balcão vale muito dinheiro".

2006-06-10

VAMOS PINTAR O BAIRRO (FOTOS PROJECTO SEMENTES)

Os jovens envolvidos num projecto comunitário em curso na Rua João Nascimento Costa, na Picheleira, Lisboa, pintaram ontem a fachada do lote 6, o prédio onde fica a Casa da Juventude local, como forma de sensibilizar os restantes moradores a fazerem o mesmo.
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Antes da pintura (foto tirada pelos jovens)

O bairro, de nove lotes e 136 fogos geridos pela Gebalis (empresa municipal responsável pela gestão dos bairros camarários), foi criado para realojar, há cerca de cinco anos, os moradores das zonas degradadas da Quinta da Curraleira e do Casal do Pinto e foi recentemente notícia pelos piores motivos: um homem foi morto numa rixa na madrugada de dia 27 de Maio.
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A equipa de pintura antes de entrar em campo

"A ideia é os jovens fazerem com que os adultos dos outros lotes pintem as fachadas dos prédios e contribuam para melhorar a imagem do bairro. No mês passado, morreu uma pessoa da comunidade e o bairro recebeu muita publicidade negativa. Queremos mostrar que nem tudo o que se passa aqui é mau", explicou António Guterres, coordenador do projecto local Sementes (http://projectosementes.programaescolhas.pt/).
A iniciativa é destinada aos jovens e crianças do bairro e é apoiado pelo Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME). O objectivo é o de promover o sucesso escolar e vocacionar os jovens para uma futura ocupação profissional. O projecto possui um gabinete de informação e encaminhamento de jovens, atelier de acessórios e costura, aulas de capoeira, expressão dramática, videoteca, workshops diversos e ténis de mesa. Organiza também saídas de Verão de carácter cultural e social.
Ontem, o objectivo era o de levar os restantes moradores do bairro a aderir à ideia de pintar as fachadas e as entradas dos lotes neste momento muito grafitadas e degradadas. "É mais fácil começar com os mais jovens do que com os moradores mais velhos. Por outro lado, queremos que os jovens se sintam uma parte activa no bairro", explicou Guterres.
A tinta utilizada na pintura da fachada foi fornecida pela Gebalis. Depois de pintarem a fachada da Casa da Juventude, onde funciona o projecto Sementes, os jovens deverão fazer um concurso entre eles para escolher um desenho que os represente e sirva de mural.
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Em acção

Vasco Dias, jovem pintor no desemprego, era um dos mais activos. "Isto como estava e como está no resto do bairro só dá mau aspecto", explicava, de balde de tinta vermelha na mão. "Queremos o bairro mais limpo, mais saudável. Você vai aí às traseiras é só lixo, é uma vergonha!"Alguns adultos iam-se aproximando timidamente e observando os jovens a passar com a tinta vermelha por cima dos grafitti.
"Isto é uma maravilha", comentava Joaquim Maia, um vendedor de 48 anos cuja mãe vive no bairro. "Não podemos deixar degradar ainda mais um bairro que só de ser associado com a Curraleira já tem uma carga negativa muito grande.
"Uma idosa não cabia em si de contente: "Era bonito que estivesse sempre assim. Moro ali em baixo e os prédios estão uma vergonha. Precisam de arranjar tudo." A mesma idosa entrou no café vizinho e deparou com um sobrinho ocioso. "Pega no rolo e vai pintar!", disse-lhe. O sobrinho não gostou muito que provocassem o seu brio: "Até pintava, pintava aquilo tudo sozinho!"
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O observador

Um homem de etnia cigana aproximou-se de António Guterres para saber o que precisava para pintar o lote onde habita. "Ah, a Gebalis dá as tintas? Ok, tá-se bem, vamos combinar pintar aquilo", disse.
À medida que terminavam de pintar o lote 6, os jovens preparavam-se para, se a tinta chegasse, pintar outros lotes vizinhos. "A senhora do café aqui ao lado pediu para, se eles puderem, pintarem a fachada do lote dela e ofereceu-lhes alimentação durante a hora de almoço", explicou António Guterres.
No local, Ana Leonor Esteves, da Gebalis, explicou que, além do apoio a esta iniciativa, a câmara pretende que as lojas do bairro, algumas das quais devolutas, sejam entregues a instituições e associações que possam trabalhar com a população. "É bom que estejam aqui em permanência técnicos sociais", explicou.
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2006-06-08

SILVER WINGS

(Merle Haggard)

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William Eggleston

Silver wings shinning in the sunlight,
roaring engines headed somewhere in flight
Their taking you away, leaving me lonely,
silver wings slowly fading out of sight.
Don't leave me I cry, don't take that airplane ride
But you locked me out of your mind
left me standing here behind.
Silver wings shining in the sunlight,
roaring engines headed somewhere in flight.
Their taking you away, leaving me lonely.
silver wings slowly fading out of sight.
Silver wings shining in the sunlight,
roaring engines headed somewhere in flight,
their taking you away.
Leaving me lonely.
Silver wings slowly fading out of sight.
Slowley fading out of sight.

2006-06-07

O AMOLADOR

Hoje ouvi o som de um amolador na minha rua e lembrei-me deste texto...

"É assim, tudo acaba um dia..."desabafa José Loureiro, 22 anos de amolador, puxando o boné para trás, o suficiente para coçar a testa. "A malta nova não quer saber de aprender esta profissão".
Descobri o José amolando uma faca num esmoril aplicado à traseira de uma velha Famel-Zundapp. O som da gaita do amolador entrara-nos pela casa dentro como uma sedução. Era o eco de outros tempos. Depois de uma pequena perseguição, acabei por o encontrar em frente a um pequeno restaurante de Santo António da Caparica, a amolar umas facas e a comentar:"Isto está fraco".
José Martins Magalhães Loureiro, 37 anos, casado e pai de três filhas, pertence a uma família de amoladores, radicada no Monte da Caparica. "O meu pai era amolador e fulineiro, os meus primos também e dois irmãos meus eram amoladores também. Agora sou só eu e o meu irmão Manuel Loureiro. O outro desistiu", explica, junto à motorizada, que o transporta de rua a rua. "Há dez anos que trabalho de mota. Uma pessoa desloca-se de um sítio para o outro para mais depressa".
José começou a amolar facas, tesouras e a arranjar varetas de guarda-chuva aos 14 anos. "O meu pai andava a pé, empurrando uma roda de madeira, como os galegos. Eu ía muito com o meu pai. Depois comecei a trabalhar sózinho mas já de bicicleta".
O pai de José era amolador e fulineiro. "Naquele tempo, amolava-se mas também se soldava, tapava-se buracos das panelas e isso é que era um fulineiro". Hoje em dia, já praticamente ninguém pede para arranjar uma panela. "Antigamente, as pessoas eram pobres e não podiam comprar outra panela. Agora, mandam a velha para o lixo e vão ao supermercado comprar outra".
José ainda foi fulineiro. Aprendeu com o pai a espetar a "palanca" atrás da bicicleta e a arrebitar as panelas. "A palanca é uma estaca de ferro que se espetava no chão e em cima da qual colocavamos a panela. Arrebitar significa tapar o buraco da panela com um rebite", explica. José Loureiro ainda lembra os encontros, no tempo do pai, entre amoladores-fulineiros, que tocavam com o martelo na "palanca": "Ui, cada um fazia uma música diferente e tinha vaidade nela".
Hoje, já não se usa a "palanca" e também já nenhum amolador "gateia um prato": "Gatear um prato era colocar uma arame nos pratos das pessoas para depois os poderem pendurar na parede".
As gaitas, essas, verdadeiro símbolo e imagem de marca da profissão, são cada vez mais difíceis de arranjar. "Estas gaitas vinham da Galiza. Agora, nem sei onde arranjá-las e bem que precisava de arranjar uma ou duas. Só sei que lá em Espanha ainda há".
Para lá da gaita, dos " encabeços" (varetas largas para os chapéus de guarda-chuva), para levar a cabo a sua profissão de amolador, José precisa ainda da "montagem", a aparelhagem onde está instalado o "esmoril", a peça em que as facas são amoladas e que vem na parte de trás da motorizada. Numa pequena mala de ferramentas, José traz ainda alicate e martelo.
A clientela, essa, é cada vez menor. "Antigamente", conta José Loureiro enquanto passa a faca no esmoril, "havia mais costureiras, casas de confecções, fregueses certos em vários sítios, agora não". Para sobreviver, José Loureiro largou a bicicleta, aderiu à mota e quando pode, mete a mota dentro de uma carrinha e vai para o norte ou para o Alentejo. "Para ganhar algum, a pessoa tem de ir para muitos lados. Vou de carrinha e depois chegando lá, percorro as terras na motorizada. Durmo na carrinha. Às vezes, chego a estar por lá um mês".
O norte é melhor que o Alentejo. "Lá para os lados de Aveiro, Viseu, as pessoas procuram-me mais.O Alentejo está em baixo, é mais pobre que o norte". Os preços são módicos, cerca de dois euros e meio para amolar uma faca e uns três euros para arranjar a vareta de um guarda-chuva.
No concelho de Almada, José conhece mais três amoladores mas tem consciência de que pertence a uma espécie em extinção. "Já somos muito poucos. Em certos sítios, as senhoras vêem à porta das casas, admiradas e comentam: "Há anos que não via um amolador!"

BLUES NA BLOGOSFERA (clicar)

2006-06-05

El campéon

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Puerto Natales, Chile

Um dia vou voar sobre as montanhas nevadas e mágicas dos Andes que me cercam e encurralam e vou jogar no Colo Colo e ser uma estrela e terei Santiago a meus pés e uma casa nas colinas e uma namorada apresentadora da televisão e um olheiro do Real Madrid vai me a ver na ESPN e dizer: " este chico es o que precisamos". E um dia volto e compro ao pai a casa que sempre sonhou em frente ao lago com vista para as montanhas e levo a mamazita a Madrid e Paris e Londres e quien sabe Buenos Aires, Caracas, Miami, Los Angeles. Mama mia, tanto suenos, tanta loucura, que se pasa con usted Antonio?

2006-06-04

"Ie, Ie, Ie, Alcântara é que é!"

Pavilhão Atlântico, sexta-feira à noite, primeira apresentação perante o júri das 20 marchas populares antes do grande desfile de dia 12 na Avenida da Liberdade. Ainda não são 21h00 e já uma corrente de populares, idos dos bairros a concurso, acorre em cachos às imediações do pavilhão: rapazes de cabelo curto eriçado em cima e brinco na orelha, raparigas de rabo-de-cavalo e argolas nas orelhas, mulheres com crianças ao colo e idosas empurrando carrinhos de bebé, num atropelo de vozes e entusiasmo. "Oh vizinha, não me passe à frente, que eu e este senhor chegámos aqui primeiro!, grita uma mulher junto à bilheteira.
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Marcha do Alto do Pina, 2005 (foto CML)
Lá dentro, o entusiasmo é contagiante. Quando a estreante marcha de Santa Engrácia entra para desfilar, um grande pano azul onde se lê "Viva Santa Engrácia" ergue-se na bancada nascente. Jovens mulheres não param de incitar a marcha erguendo cachecóis azuis e amarelos - as cores da freguesia. Enquanto a marcha, toda ela um espectáculo azul marinho, evoluí lá em baixo, nas bancadas, entre duas a três mil pessoas, a maioria mulheres, batem palmas sincopadas ao ritmo da banda.
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Marcha da Mouraria em 2005 (foto CML)
As claques dos diversos bairros posicionam-se em zonas específicas do Pavilhão Atlântico. Um funcionário tenta, em vão, demover uma mulher em cadeira de rodas de assistir aos desfiles à beira de umas escadas. "Eu sou de Alcântara", diz a mulher, batendo com uma mão na palma da outra. "O meu pessoal está aqui e é aqui que eu quero estar. Não vou assistir à minha marcha ao pé do pessoal de São Vicente, não acha?"
À medida que a marcha infantil da Voz do Operário e as marchas de Santa Engrácia, Bica, São Vicente, Alcântara, Ajuda e Benfica desfilam pela noite dentro, as claques rivalizam com o seu tradicional grito de guerra: "Ie, ie, ie, Âlcantara é que é!" Nos corredores do pavilhão, circulam, entretanto, marchantes de marchas que ou já actuaram ou vão actuar. Quando é anunciada a marcha da Bica e se ouve um bruá vindo da ala norte das bancadas, marchantes da Ajuda, rapazes e raparigas, vestidos com as cores da cidade, o preto e o branco, correm para as entradas.
Os bairros que mais apoiantes levam ao pavilhão na noite de sexta-feira são os da Ajuda e de Alcântara. Na claque de Alcântara, quase toda composta por mulheres e crianças, muita gente veste t-shirts onde se lê "Alcântara 2006". Quando os marchantes do bairro, vestidos em tons de amarelo, vermelho e rosa entram com o sorridente padrinho Artur Garcia e a madrinha, Linda Rodrigues, à frente, o pavilhão canta "Cheira bem, cheira a Lisboa" ao mesmo tempo que se ouve "ie, ie, ie, Alcântara é que é!"
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Marcha do Alto do Pina de 2005 (CML)

2006-06-03

JUST ONE MORE

Just One More
(George Jones)

just one more
Henry Horenstein

Put the bottle on the table
Let it stay there till I'm not able
To see your face in ev'ry place that I go
I've been sitting here so long
Just remembering that you are gone
Well, one More drink of wine
Then if you're still on my mind
One Drink, just one More and then another
I'll keep drinking, it won't matter
I'll just remember that I once had her
I don't know why I sit and cry ev'ry day
I've been trying to forget, But I havent stopped it yet
Well, one more drink of wine
Then if you're still on my mind
One drink, just one more and then another
Put the bottle on the table
Let it stay there till I'm not able
To See your face in ev'ry place that I go
I've been sitting here so long
Just remembering that you are gone
Well, one more drink of wine
Then if you're still on my mind
One drink, just one more and then another

MAS QUAL ROCK IN RIO QUAL QUÊ...

festas

FADO A BORDO

Desde há cerca de quatro anos que por ocasião das Festas Populares, mês de Junho é mês de fado no eléctrico 28, às quintas e aos domingos, do Martim Moniz aos Prazeres e dos Prazeres ao Martim Moniz. Fadistas, músicos e aficcionados confraternizam num ambiente castiço e bairrista que chega a ser delirante. "Lindo!", gritam os passageiros, "é lindo!

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São quase 18h00 de quinta-feira, dia 1 e há duas mulheres que esperam nervosamente há quase uma hora na paragem junto ao cemitério dos Prazeres que chegue o eléctrico 28 que traz fadistas a bordo. Só um dos vários eléctricos da carreira carrega consigo a magia e a alegria do fado e as aficionadas aguardam sem evidenciar sinal de desalento ."Nunca faltamos", explica mais tarde Maria Teresa Rodrigues, empregada doméstica, "eu e as minhas amigas nunca faltamos, faça chuva ou faça sol. Os meus patrões que me desculpem, às quintas é dia de fado no eléctrico e ao domingo o nosso passeio é este".
No ano passado, Maria Teresa, a amiga Anabela Gomes Silva e Teresa, conhecida carinhosamente como a "Baixinha", não falharam um dia. "Para quem adora o fado, como nós, isto é lindo. Vamos vendo a cidade e ouvindo o fado, lindo".
Para os músicos, é uma experiência. "No ano passado", conta o tocador de viola Carlos Carvalho, " eu e o Gentil Ribeiro (guitarra) nem nos ouvíamos um ao outro e quase não nos víamos. Era por instinto".
José Beja, o homem que a câmara municipal de Lisboa convidou para coordenar mais uma edição do Fado no Eléctrico 28, explica o fenómeno: "Já que as rádios e as televisões não têm tempo para passar esta música, trazemos o fado até à população. Isto é feito para os populares e com qualidade. Está a ver a Lola Diniz ali sentada? Fora daqui, só a ouvem no Café Luso!"
Até ao dia 25 e para que os amantes do fado e interessados o saibam, qualidade é coisa que não falta na lista de 65 fadistas escolhida criteriosamente por José Beja. "Vamos cá ter, por exemplo, a primeira vencedora da Grande Noite do Fado, em 1953, Esmeralda Amoedo e a última vencedora, Raquel Peter".
A partida dos Prazeres, cerca das 18h00 de quinta-feira, não podia ser mais caótica. Alguns fadistas trouxeram amigos e familiares e todos querem assegurar um lugar a bordo. Em breve, o 28 parece uma taberna castiça de Alfama. "Primeiro os coxos e os moídos!", grita uma mulher. Uma outra passa sacos pela janela e tenta marcar lugares. "Oh minha senhora, não pode haver lugares marcados. Trouxe o seu neto, já agora traga a sua família toda!", grita uma. Uma das mulheres que marcou o lugar está nervosa. "Oh mulher, bebe água! Estás a dar confiança a mais!",diz outra.
A confusão está instalada no 28. Cheio como um ovo e aquecido pelo sol de fim de tarde, o eléctrico carrega estudantes, viajantes ocasionais, músicos, fadistas e respectiva trupe de amigos e familiares, numa amálgama que leva tempo a sossegar. Entre os solavancos e a trepidação, José Beja abre os braços e procura fazer-se ouvir: “Atenção, meus senhores, muito boas vindas ao fado no eléctrico. Convosco vai ficar a voz de Augusto Robalo!”.
O anúncio é saudado por fortes aplausos no eléctrico apinhado. Duas crianças já viajam em cima uma da outra. Um jovem de origem africana, boné e sapatilhas largas, espalmado entre outros passageiros, sorri e aplaude.
“Tenho o meu corpo cansado de viver na solidão”, canta Augusto, olhos fechados, óculos pretos presos ao cabelo encaracolado. “Sou companheiro da noite, faço dela a minha vida...”, continua o fadista, num soluço sofrido. O 28 já desce em direcção à Estrela, conquistado pelo fado, quando Fernanda Proença, de vestido preto e flor lilás ao peito, segura a mão esquerda num parapeito de madeira e outra num varão e desabafa: “Ao fim de tantos anos de ser tua...”
Uma nova discussão rebenta lá à frente — “é que eu fui operada à coluna!” —, mas quem se importa? Tudo isto é fado. Fernanda sobe para cima de um banco para que a vejam melhor e canta: “Que linda és Lisboa dos cabarets!”. Os fãs rebentam em coro no refrão: “Táxi! Táxi!”. Em São Bento alguém grita “Olha o Sócrates ali à janela!”.
Enquanto o eléctrico pára no tráfego, num cenário de lojas de velharias e cafés de bairro, a fadista seguinte, Fernanda Lemos, ergue o pescoço, os lábios como que a beijar o ar que respira: “Foi de saudades quem nega ou então devo estar cega de tanto esperar por ti!”. O 28 rebenta em palmas e incentivos: “Lindo! Muito bem!”.
Por vezes, o som estridente do rolar do eléctrico nos carris abafa a voz de quem canta. Alguém grita: "Ei, abra a porta se faz favor!" Uma mulher explica ao telemóvel: "Estou aqui no eléctrico a ouvir fado!" Na Calçada do Combro, os passageiros viajam encolhidos e comprimidos mas felizes, cantando a uma só voz. “Laralalalala... nananananana...”, o 28 transformado num pedaço da Lisboa antiga das colinas. Os fadistas riem ,convivem entre si. "Uma salva de palmas para os músicos!", pede José Beja.
"Formamos todos uma comunidade", explica-me entre os balanços e solavancos da subida por Alfama acima, o fadista João Ponces. "Vimos aqui por prazer. Apanhamos um ano que estava a chover, viemos ao final do dia, as pessoas entravam com os sacos das compras molhados...é sempre divertido!"
Fernanda Lemos, que canta com ele na "Esquina de Alfama" e na "Tasca do Careca", no Saldanha, pede para se sentar no nosso lugar e explica: "Nem a voz sai como deve ser com tanto balanço mas é uma alegria!"
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"Oh filha, tu não me digas isso..."

O 28 passa por paragens repletas de turistas que ficam encantados com o que vêem e ouvem mas dificilmente conseguirão um lugar. Fernando Gomes toca a viola há quase duas horas. Traz os olhos vidrados de contentamento e não pára. "Isto não cansa e é diferente", explica sorridente Fernando, que toca com Gonçalo da Câmara Pereira, Luísa Bastos e no "Alfama do Fado".
Em Alfama, entre ruelas e travessas, o 28 ganha finalmente alguma tranquilidade e entram finalmente turistas. "Tive tanta sorte, esta é a minha última noite em Lisboa, isto é fantástico!", comenta uma norte-americana com um guia da cidade na mão.
Beja não cabe em si de felicidade: "O público gostava que esta iniciativa fosse mais vezes. Está a ver ali aquela paragem?", pergunta já no Martim Moniz. "Falta meia hora para o próximo eléctrico do fado e já ali estão aquelas pessoas todas à espera..."