estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2008-01-29

PATTY GRIFFIN



A melancolia como arte

PORTUGUESE AND PROUD


Sarah Borges, a country-rocker luso-americana do momento. De Boston para o mundo!

O fogareiro

Afasta lá o fogareiro!

Rua da Palma: A camioneta de mudanças de caixa aberta ultrapassa repentinamente o táxi sem sinal nem aviso prévio. À minha frente, o toldo da parte de trás esvoaça enquanto o taxista trava a fundo e pragueja: “Grande camelo, ‘tás na corrida, logo de manhã!” A carrinha desaparece por momentos engolida pelo tráfego congestionado da manhã do Martim Moniz mas o taxista não desarma. Alcança-a em plena Rua dos Fanqueiros, junto à porta de uma loja. Roda rápidamente a maçaneta da porta e dispara: “Andas a dormir? Vê lá se acordas, oh palhaço!” O discurso tem de ser curto e incisivo, que mais tráfego se adivinha pelo vidro coberto de chuviscos da traseira. O camionista debruça-se quase deitado sobre o colega sentado no lugar do morto e responde em bom português: “Afasta lá o fogareiro, oh animal!”

Wilson Pickett


Que se lixe a melancolia, então. Querem festa? Wilson Pickett, Gana, 1970!!!

2008-01-28

AVETT BROTHERS


Porque é que eu gosto tanto dos The Avett Brothers?

OBAMA!!!


Se votasse nas próximas eleições norte-americanas, o Estradas Perdidas já tinha o seu candidato. Obama, traz a verdadeira América de volta!

TACUARA, em versão toma e embrulha



Isto é assim, quem sabe sabe e mais tarde ou mais cedo mostra que sabe ou pensam que é só importar um paraguaio de 22 anos e a jogar na Argentina, colocar num botão e exigir dele o máximo, como se não tivesse saudades de Assunção e das garotas de olhos pretos e cabelos pretos...

Uma tarde na esquadra

Braços estendidos no rebordo da janela do guichet da esquadra, um homem desespera. A fé na justiça portuguesa já teve melhores dias. “Seguimento? Isso tem sempre, desde que sejam encontrados suspeitos. Parado é que não fica. Há-de chegar uma altura em que por falta de provas ou de suspeitos, a investigação chega ao fim”, explica-lhe o sub-chefe. Mesmo por trás, sentado numa mesa com três telefones à frente, um guarda pergunta: “O quê? Foi furtado? Já apresentou queixa?”
Ao contrário de outras esquadras, onde existe muita vida nocturna, as noites na dos Olivais costumam ser mais ou menos calmas. “É um dormitório, depois das 2h00, o atendimento morre”, explica o sub-chefe, um molhe de impressos à sua frente a preencher detalhadamente de cada vez que alguém se abeira, de rosto angustiado, da janelinha do guichet.
“Isto aqui é imprevisível. Estive de serviço na noite de Natal e não apareceu ninguém”. Naquele preciso momento, lida com o que poderíamos designar de pequenas queixas: um furto no interior de um veículo e o roubo de um telemóvel de um operador de câmara da televisão.
Surge do nada um homem forte, encorpado, respirando auto-confiança. Ergue um cartão à janela do guichet e dispara: “Boas tardes, sou sargento da força-aérea!” Os agentes entreolham-se, como se perguntassem um ao outro: “E daí?”
O homem está indignado com o que alguém anda a fazer a uma vistosa viatura estacionada algures junto a uma bomba de gasolina da Encarnação. “Mas é que o carro está a ser descascado completamente. Mete pena, está a ver? Provavelmente foi roubado e deixaram-no ali”. Pergunta o subchefe: “E já sabe se nós sabemos se o carro foi roubado?” Um guarda de cabelos aloirados, que segue toda a conversa, mostra conhecer bem o que se passa: “Já sei que carro é. Não consta para apreensão”. O homem não se demove: “É pena, está a ver, um carro quase novo que ‘tá ali e mete pena, de dia para dia a descascar”. O guarda esforça-se por mostrar que compreende a situação: “Certo. Simplesmente já fizemos diligências e o carro não consta para apreensão...” O sub-chefe levanta-se da cadeira, abre os braços e questiona, a menos de um metro do sargento da força-aérea: “Se o proprietário não se importa, a polícia vai-se importar? Temos os nossos parques cheios...temos a apodrecer carros melhores que aquele...”
O rádio da polícia, ligado permanentemente aos carros-patrulha, anuncia que uma residência da Avenida Gago Coutinho foi assaltada. Uma mulher loira, de nariz levemente esmurrado e casaco peludo, interrompe a conversa: “Desculpe lá. Não se esqueceu de mim, pois não?” É a dona de um café na Encarnação que foi vítima de agressão no interior do estabelecimento. “Foi um guarda ao local? Ah sim? Então, temos aqui a ocorrência. Vão procurar o registo da ocorrência, na segunda-feira às 12h00”, pede o sub-chefe. “O rapaz fugiu mas o pai e o meio irmão ficaram lá...” O rapaz? Isso significa que ele é menor? “Tem 14 anos... mas é forte, deu-me um soco no nariz e atingiu-me aqui” A mulher mostra o queixo levemente vermelho. “Já fui duas vezes ao hospital”.
O sub-chefe abana a cabeça. O rapaz pode ser forte, ter todo o corpo do mundo mas é menor. “Ele vai ter de ir para o tribunal de menores. A lei considera que ele ainda não é consciente do que faz”, explica. A dona do café discorda, sabe que ele faz aquilo com toda a consciência alicerçada nos ombros largos de delinquente: “Não vai à escola, passa a vida a fazer distúrbios, vai para a porta das escolas roubar e meter-se com os estudantes”. Paciência, nada a fazer, espere pelos 18 anos.
“O quê?”, pergunta o guarda de serviço aos telefones, “estão a chamar-lhe nomes e a dar-lhe pontapés na porta? Ok, ok, vou mandar já um carro passar aí, tenha calma!”
Uma mãe e filha, irrompem com o susto estampado nos rostos. Querem apresentar queixa por causa de uma tentativa de roubo e agressão à porta de casa. A filha foi a vítima mas a mãe parece bem mais perturbada. “Lá na nossa rua, assaltaram dois carros e acho que tem tudo a ver”. O sub-chefe quer que a jovem lhe descreva o assaltante. “Era um rapazito, atacou-me com uma navalha, agarrou-se-me à mala, eu agarrei-me a ela...” Viu bem a cara dele? “Vi”, diz a rapariga, de ar determinado. Bom, pista já existe mas a acumulação de queixosos no hall da esquadra começa a atrasar o trabalho de atendimento do sub-chefe.
“Ouça, o problema é que neste momento a queixa vai demorar uma hora e meia porque está mais gente à espera. Não pode cá vir à noite?”

2008-01-01

ABRAM-NOS A PORTA

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Imigrante em Tenerife, Canárias, fotografado por Manuel Lérida

MÚSICA PARA 2008



F THE CC


I used to listen to the radio
And I don’t guess they’re listenin’ to me no more
They talk too much but that’s okay
I don’t understand a single word they say
Piss and moan about the immigrants
But don’t say nothin’ about the president
A democracy don’t work that way
I can say anything I wanna say

So fuck the FCC
Fuck the FBI
Fuck the CIA
Livin’ in the motherfuckin’ USA

People tell me that I’m paranoid
And I admit I’m gettin’ pretty nervous, boy
It just gets tougher everyday
To sit around and watch it while it slips away
Been called a traitor and a patriot
Call me anything you want to but
Just don’t forget your history
Dirty Lenny died so we could all be free

FELIZ ANO NOVO VERSÃO SARKOZY

crs-sur-champs-elysees-decembre-2007-2452393[1]

A passagem de ano ontem nos Champs-Elysees. O ministro do Interior francês diz que foi uma noite relativamente calma em França, só arderam 372 carros, um número menor do que no ano passado. "Oh la la, mais ça c'est bien..."