estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2006-10-31

MST

Não há ninguém capaz de mandar calar o Miguel Sousa Barbaridades? Agora o Katsouranis é um jagunço parte-pernas a soldo da mafia sulista e encarnada?

Calendário afectivo

Dia 1 de Novembro, Estádio da Luz, Bancada PT, Benfica-Celtic
Dia 19 de Novembro, The Point, Dublin, Bruce Springsteen

2006-10-30

VIAGEM AO FIM DO MUNDO

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No Cabo Horn



Cabo Horn. Repeti para mim, como se não conseguisse que o meu cérebro reagisse, “estou no Cabo Horn”. Vestido com um salva-vidas cor de laranja e o gorro preto de tapa-orelhas peludo comprado em Ushuaia enterrado pela cabeça abaixo, não cabia em mim de excitação. A aproximação do cruzeiro Mare Australis a um dos cabos mais míticos do planeta transformou-me, de repente, numa criança de 5 anos que visita a Disneilândia pela primeira vez.
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É certo que a bordo todos esperavamos ansiosamente por aquele momento ventoso e agitado. Zarpáramos de Ushuaia, a cidade mais austral do mundo cerca das 20h00 da noite anterior. Estávamos prestes, em breve, a aproximarmo-nos de um rochedo e de uma passagem que são simplesmente um mito e uma tentação para gerações de marinheiros, o Cabo Horn. E, no entanto, tudo o que se passara em Ushuaia conservava-se-me na retina.
Por momentos, esqueci onde estava, respirei o ar frio e seco do extremo sul, fechei os olhos e voltei a ver a neve dos picos andinos naquela que fora uma das mais belas e electrizantes aterragens da minha vida, a aproximação por ar ao Canal Beagle, a visão nocturna e fria de uma Ushuaia outonal, o glaciar Martial a pairar por cima da antiga colónia penal. No Outono não neva mas faz suficientemente frio para que o primeiro impulso de muitos viajantes seja o de comprar um daqueles gorros quentes e felpudos e passear pela Avenida San Martin, a artéria principal da cidade, a observar as geometrias e cores dos rostos indígenas. Homens e mulheres exibem olhos largos e pretos e cabelo negro, vestem anoraks passeando crianças de gorros coloridos por entre casas de madeira a lembrar um pouco a Escandinávia no pólo oposto do mundo.
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Acordei do meu sonho e recordações de Ushuaia quando o comandante anunciou a aproximação ao Cabo Horn. Dois botes da tripulação do Mare Australis baixaram para avaliar da possibilidade do contigente de turistas americanos, franceses e latino-americanos desembarcar naquele simultâneo hino à desolação e desafio aos mais intrépidos marinheiros. No deck do cruzeiro, sob a agitação das ondas austrais, torci para que tudo desse certo. Queria pisar o cabo, cheirar-lhe a terra, fazer-me fotografar junto à mais solitária das bandeiras chilenas, colocada em cima do telhado da caserna onde dois marinheiros do Chile vivem por dois meses.
Pela lente do telescópio do deck superior, pude ver à distância um mínusculo marinheiro a descer as escadas que transportam os visitantes até ao topo da ilha- o Cabo Horn é uma ilha de falésias e escarpas esverdeadas pelo musgo, sem árvores, sem vida- a transportar uma caixa do que supus mantimentos e os botes a regressarem ao navio.
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BAÍA WULAIA NA ISLA NAVARINO

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Gorada a possibilidade de descer no Cabo Horn, o comandante Juan Reiman contornou a Isla Hornos, serpenteou pelas Islas Wollaston e acabou por desembarcar ao fim da tarde no cenário bucólico e florestado da grande Isla Navarino. Era ali, na baía Wulaia, que os índios Yamanas se abrigavam dos rigores do Inverno e foi ali que o capitão inglês contactou pela primeira vez com os indígenas. Foi ali também, que ultrapassámos autênticas represas feitas pelos castores locais, trepámos por entre árvores secas e terra muito escura e terminámos no alto de um monte de onde avistámos a baía em todo o seu esplendor de fim de tarde: Neve nas montanhas da Isla Hoste, o sol tardio a iluminar a Isla J. Button e muito verde, azul e verde a encher o horizonte.
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GLACIARES SENO E CHICO

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Ao terceiro dia, o Mare Australis navega pelo esplendor glacial do Canal Beagle. Um a um, do lado direito do navio sucedem-se os glaciares da grande cordilheira Darwin. Todos os dias, o café dos madrugadores é servido no salão Yamana às 7h00. O salão é o espaço privilegiado para quem quer apreciar em sossego a navegação entre as paredes rochosas, as águas turvas e salpicadas de gelo do Canal Beagle. Desde muito cedo que alguns turistas, munidos de binóculos e livros abertos sobre o colo, se deixam ficar a apreciar a paisagem austral que emerge entre a neblina.
Nesse mesmo dia, desembarcamos de bote no seno Chico, um fiorde de mais de 11 quilómetros perto do qual se escondem dois glaciares o Piloto e o Nena. É nestes desembarques que se pode vivenciar mesmo o privilégio de atravessar o Canal Beagle: pequenos blocos de gelo bóiam junto aos zodiacs, água escorre das montanhas, o ar frio acelera-nos a curiosidade e a expectativa. De repente, um virar de esquina e lá estão eles, os glaciares Piloto e Nena, uma pequena amostra do mundo de gelo que se esconde na Cordilheira Darwin.
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Estava na cabine, por volta das 18h00, quando se ouviu nos altifalantes: “Do vosso lado direito, aproximamo-nos do Glaciar Gunther Pluschow”. Subi ao último deck a tempo de assistir a uma aproximação à montanha de gelo em câmara lenta. No dia seguinte visitaríamos a colónia de pinguins da Isla Magdalena antes de desembarcarmos em Punta Arenas, no Chile mas a aproximação cinematográfica, à luz coada do fim do dia ao gigante branco com o nome do piloto pioneiro alemão conservava-se-me no cérebro.
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ISLA MAGDALENA

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