estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2007-11-21

PROBLEMAS COM A POLÍCIA? "JÁ SIM SENHOR"

No banco de madeira da entrada da esquadra, está sentado desde há uns tempos, um homem jovem, o cabelo acinzentado e grisalho, covas no rosto por barbear, vestido com um surpreendente kispo daqueles que se usa na Sierra Nevada mas não nas ruas dos Olivais. Alguém sussurra que foi apanhado a roubar no Pingo Doce.
“Eu ‘tava a acabar de almoçar”. A veterana gerente do supermercado começa lentamente, à janela do gabinete do sub-chefe, a narrar um filme que para ela, que traz muitos anos à frente de supermercados, já foi visto e revisto dezenas de vezes. “Foi quando o vi na caixa com aquele blusão muito arredondado, achei logo que aquilo não era normal. Disse à minha secretária para ir dizer ao seu colega de serviço. Eu juro que não vi meter nada mas que estava cheio de coisas, estava”.
O sub-chefe vira-se para trás na cadeira: “Oh Martins! Traga-me a identificação dele!” A gerente do supermercado continua a falar, como se não tivesse ouvido nada. “Aquele senhor é assiduo lá no Pingo Doce. E ele passava se eu não estivesse, porque o polícia que ‘tava lá, deixava-o passar. Já tenho muitos anos, muito calo, reconheci-o logo. Se tenho a relação dos objectos? Sei que era whisky e queijo mas o melhor é o senhor chamá-lo”.
O larápio, sempre de olhos no chão, vai ter finalmente oportunidade de se revelar. “Oh Martins, chame-me aí o homem!” A gerente vira a cara para o lado. É que de cada vez que alguém rouba uma caixa de fósforos ou uma garrafa de vinho do Porto, é ela que tem de esperar duas horas na esquadra para apresentar queixa, que tem de ir a tribunal. É compreensível que não lhe apeteça dar de caras com o homem. Mas é a custo que consegue reter a gargalhada quando o sub-chefe pergunta a profissão ao infeliz. Ele levanta-se e afirma com orgulho: “Desmontador de pneus, no desemprego”. Tem um olhar baço e indiferente de quem já cumpriu aquela rotina muitas vezes. “Já teve problemas com a polícia?”. Responde, sempre sem tirar os olhos do chão: “Já, sim senhor”.

2007-11-16

QUANDO ALDA ABRIU A PORTA

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Senhor Cabral. Chama-se Cabral. A próxima casa a ser demolida é a do senhor com nome de descobridor. “Somos humanos”, lê-se no muro branco sujo da casa do senhor Cabral. Do lado esquerdo da parede grafitada, ergue-se um monte de tijolo partido, muito tijolo partido. Por detrás da casa de Cabral, um bloco caótico de habitações clandestinas espera pela demolição. “Eles precisam de demolir a dele para abrir caminho para as outras”.
Há dois dias que um funcionário trabalha com uma escavadora, a fazer limpeza. “Ele diz que tem ordem para só fazer limpeza até ao fim de semana”, explica uma moradora, “ele diz que o camião para recolher o entulho ainda não chegou. Será que vai demolir no fim de semana?” Os últimos moradores da Azinhaga dos Besouros em círculo no páteo da casa do senhor Cabral entreolham-se. Quando chegará a sua vez?
As histórias de miséria circulam como o zumbido das abelhas num pinhal em pleno Verão : “Deixaram na rua uma senhora com quatro filhos”, “uma senhora de 74 anos ficou na rua”. Pior só o que fizeram à “avó” Justina, são-tomense de Guadalupe: “Eu disse: Onde vou ficar? Outra senhora viu-me e perguntou: Porque a avó Justina está a chorar? Para onde vai? A avó vem para minha casa”.
O som da máquina escavadora ecoa sobre o mundo parado de casario clandestino, fios eléctricos, ruelas semi-desfeitas e montes de tijolo quebrado. Numa mesma ruela, existe uma casa habitada, a roupa dependurada, uma bicicleta e uma botija de gás na varanda. Do outro lado, tudo o que resta é uma parede azul em cima e creme em baixo com restos de colagens na parede, fotos de recortes de revista. Há cimento suspenso e ferros retorcidos caíndo sobre um monte de tijolo quebrado onde pontificam uma cadeira, o que resta de uma mesinha de cabeceira, uma camisola, um guarda-chuva desfeito. De repente, Alda Furtado, são-tomense de 31 anos, pára feita estaca em frente aos destroços: “Isso aí era a minha casa”. ‘Tava a trabalhar nas limpezas, na Gare do Oriente, cheguei aqui, ‘tava o homem da câmara a dizer: “Abra a porta para isto ir abaixo”. Alda teve de abrir. O senhor Cabral vai ter de abrir também.

ONDA DE SOLIDARIEDADE RODRIGUES DOS SANTOS

A onda de solidariedade que rodeia Rodrigues dos Santos neste momento difícil é esmagadora. De todos os quadrantes chegam mensagens de solidariedade. Oh paízinho de merda..."o meu livro é melhor que o teu, na na na..."
Falando a sério: Está em causa a liberdade de expressão. O resto, se escreve mal ou bem, não interessa para o caso.

2007-11-12

BEBE MAIS UM COPO

"AO VOLANTE DO PODER" NA REVISTA VIP DESTA SEMANA

CEGUEIRA LUSA

As Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC), há quem as designe de Actividades de Empobrecimento Curricular, nasceram algo tortas e, como diz a sábia voz do povo, «aquilo que nasce torto, tarde ou mal se endireita».
Não querendo tomar a parte pelo todo, não me atrevo, para já, a juntar-me ao exército, que tem visto as suas fileiras engrossarem, daqueles que diabolizam as AEC. Apesar de não ser novidade para ninguém que me conheça que não concordo com o modelo adoptado nem com os objectivos (se é que estes existem) que estas se propões alcançar. Todavia, posso afirmar, convictamente, que este modelo contribui para o empobrecimento dos professores envolvidos no projecto.
A trabalharem desde Setembro sem receberem um cêntimo pelos seus serviços é absolutamente inaceitável. Não esqueçamos que estes profissionais trabalham a «Recibo Verde», portanto há uma boa parte do ano em que não recebem coisa alguma. Isto já é preocupante. Pensar que estas pessoas desde Julho que não auferem qualquer vencimento suscita-me algumas questões: Quem paga a renda / prestação da casa? Quem paga a alimentação? Quem paga a água, a luz, o telefone? Como é que se vive assim? Não esqueçamos que muitos têm que se deslocar em transporte próprio para a (s) escola (s) onde leccionam. Não sei se esta situação se está a passar em todo o país. Em Viseu esta é uma realidade dramática. Parece que os vencimentos estão a ser processados…estavam…estarão…Ninguém sabe ao certo.
O que sei é que há gente a vivenciar situações dramáticas. Um amigo disse-me que não sabe se o dinheiro que ainda lhe resta será suficiente para o combustível que lhe permita deslocar-se às várias escolas em que trabalha. Aqui está outra aberração: contratam imensa gente e depois atribuem apenas 12 horas a cada professor, horas distribuídas por distintos locais, obrigando a várias deslocações diárias.
Se não expusesse esta situação vergonhosa e lamentável hoje, tenho a sensação de que nem dormiria em paz. Outros há que estão, dado o adiantado da hora, tranquilamente a sonhar com a cabeça na almofada. Enquanto isso, muitos fazem das tripas o coração, encetando majestosos malabarismos, para fazerem face às necessidades básicas do quotidiano.
Que vergonha!!!

TEXTO PUBLICADO NO BLOG CEGUEIRA LUSA POR JOSÉ CARREIRA

2007-11-10

80's USA PUNK JUKEBOX

A morte de um peso-pesado

mailer

Homem, continua a escrever lá em cima, por favor...

ROCKABILLY JUKEBOX

NUNO'S LEFT WING VIDEO JUKEBOX

2007-11-09

NUNO'S VIDEO JUKEBOX

NUNO'S VIDEO JUKEBOX

2007-11-07

PROTAGONISTAS DE "AO VOLANTE DO PODER" NO DEBATE DO ORÇAMENTO DO ESTADO

Um grande número de protagonistas do livro "Ao Volante do Poder" (ver blog www.aovolantedopoder.blogspot.com), editado dia 17 de Outubro pela Bertrand e que relata peripécias dos nossos políticos em visita a Nova Iorque, estão desde ontem na Assembleia da República, em Lisboa, a participar no debate do Orçamento de Estado para 2008.

MULHERES E LIMUSINAS
Outros estarão, com certeza, a assistir em casa ou nos seus gabinetes, em Portugal ou no estrangeiro. Entre eles deverá estar um ex-primeiro-ministro e um ex-ministro, citados no capítulo "Mulheres e Limusinas": "Numa viagem a Nova Iorque, o então primeiro-ministro encontrava-se alojado num hotel e um dos seus ministros noutra unidade hoteleira. Um assessor do primeiro-ministro veio pedir-me para espiar
o ministro. Mais tarde, este soube que o assessor tinha andado lá
pelo hotel e deu ordens para que tentassem saber o que outro tinha
andado lá a fazer. O ministro não fazia ideia de que o assessor fora
lá, procurando que eu desse conta dos passos do mesmo. Deixei-os a
espiarem-se uns aos outros...
A participar, na AR, destacamos por exemplo,Jaime Gama, o líder da bancada parlamentar do PSD, Pedro Santana Lopes, o deputado Correia de Jesus, o actual primeiro-ministro José Sócrates, o actual ministro das Finanças, Teixeira dos Santos e muitos outros.

TEIXEIRA DOS SANTOS E A ROUTE 66
Recorde-se que foi Pedro Faria, o protagonista do "Ao Volante do Poder" quem, depois de transportar diversas vezes Teixeira dos Santos, inclusivamente por esse bairro famoso da Big Apple que se chama Bronx, quem organizou ao actual ministro uma viagem na Route 66.
O mesmo Teixeira dos Santos é citado, por exemplo, nas páginas 85, 86, 102 e 114:
Leia-se na página 102:
"Já na sua qualidade de ministro das Finanças, acompanhei-o quatro
dias na reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI), em
Washington. Num dos dias da estadia, um assessor disse-lhe que existia
pressão de certas pessoas do Partido Socialista para que as vagas
para directores de serviços fossem preenchidas por gente do partido.
Teixeira dos Santos respondeu um pouco irritado: «É-me indiferente
que as pessoas sejam do Benfica, do Sporting ou do Futebol Clube do
Porto. Vou escolher as mais competentes».

CORREIA DE JESUS EM NOVA IORQUE

Correia de Jesus é outro protagonista que visitava Nova Iorque e em especial os clubes luso-americanos da área: "Outro orador militante era o madeirense e social-democrata Correia de Jesus, secretário de Estado das Comunidades do governo de
Cavaco Silva. Adorava presentear a comunidade com improvisos. No
fim do discurso, segurava-me as duas abas do casaco e perguntava:
«Pedro Faria, falei bem?»

SANTANA LOPES E AS ASSESSORAS

Santana Lopes também foi transportado pela empresa do co-autor do livro e é citado na página 122: "Santana Lopes, então secretário de Estado da Cultura, deslocou-se
a Washington a uma exposição e requisitou uma limusina longa para
si e mais cinco ou seis belas assessoras. No regresso, transportei-o ao
JFK para que pudesse apanhar o Concorde. Conseguiu apanhar o avião
mas alguém se esqueceu de me pagar parte dos fretes..."

JAIME GAMA E A LIBERTAÇÃO DE TIMOR-LESTE

Recordemos que o livro está à venda na FNAC, nas livrarias Bertrand e em algumas livrarias independentes e contem entre outros, episódios sobre os bastidores das negociações pela libertação de Timor-Leste, como este: "Quando não conseguia contactar directamente Jaime Gama, António
Guterres ligava para o meu telemóvel. Numa ocasião, Jaime Gama
encontrava-se no exterior da viatura na Brodway, a folhear livros em
segunda-mão, e fui eu que atendi o então primeiro-ministro.
Transportara Jaime Gama a um almoço com o então secretário-
-geral das Nações Unidas, Kofi Annan e Ali Alatas, quando a Indonésia
finalmente cedeu em relação a Timor-Leste. Nada fazia prever
o que iria acontecer nessa refeição. Quando o ministro chegou ao
carro, não cabia em si de contentamento: «Pedro Faria, você não vai
acreditar, o governo indonésio atirou a toalha ao chão!». O que até há
bem pouco tempo era considerado impensável, acontecera e eu fora a
primeira pessoa a saber. Gama perguntou-me pelos seus assessores e
pegou em seguida no telefone para comunicar com Lisboa.

2007-11-04

O DIA DA DEMOLIÇÃO

O rosto branco, seco e retesado do comandante do Corpo de Intervenção vai franzir-se pela última vez. Os jovens militantes da associação Solidariedade Imigrante, empoleirados em cima da barraca de tijolo, mais as suas tranças e missangas e sacolas bordadas devem-lhe fazer doer a medula. A escavadora avança por de cima de um pedaço intocado de relva, de correntes de lama bem escura desenhadas pelos rodados de metal ferrujento das lagartas, de vidros e pedaços de tijolo partido, tijolo moído, tijolo decorado com bocadinhos de cimento como chantilly em cima de um bolo. "Vamos embora, vamos embora!", grita o comandante com sotaque beirão e cara de poucos amigos. "Vamos lá!” Num ápice, os seus homens de capacetes azuis na cabeça e o maxilar protegido por uma espécie de caneleiras- maxileiras?- cercam a barraca enquanto mais activistas e moradores sobem para cima do telhado de zinco. O comandante passa pelos seus homens, o único de boina azul entre homens de capacete e dirige-se a um jovem de barba rala e cabelo comprido: "Está a ouvir? Você está a ouvir? O senhor não pode estar aí! Está a ouvir? Não pode estar aí!". Empoleirado como um gato em cima do telhado, o braço esquerdo segurando um cartaz, o jovem sorri: "Bata, pode bater! Há bocado foi a abrir, agora que está aqui a comunicação social está mansinho!" A escavadora ruge, rosna, avança e pára de estaca a roer por dentro em gemidos de metal ferrujento. Se fosse um touro resfolegava e espetava os coices para trás.
No meio da roda de polícias hirtos, brancos e cara de poucos amigos, há um que distende o rosto e ri. Primeiro abana a cabeça, depois ri. "Queria ver se fosse a tua família, se te estavas a rir!", grita um negro. Por perto, um polícia à paisana, vestido de blusão e calças de ganga, empunha uma shotgun. A tensão paira no ar, paira por cima da barraca, do monte de escombros, da roda de polícias azuis. De repente, a atmosfera desanuvia. A tensão sobe novamente por cima do esqueleto das antenas, do lixo e do zinco dos telhados e esfuma-se no azul límpido do céu, como um papagaio a quem soltam a corda.
Em cima de uma montanha de tijolos partidos, pedaços de fórmica coloridos, latas em ferrugem, placas de zinco dobradas, um polícia à paisana estabelece diálogo com um jovem morador guineense. “Escusas de estar nervoso”, diz. “"Eu respeito todas as pessoas e não estou nervoso, não me digas que estou nervoso", responde o jovem. "Isto mexe com toda a gente, não penses que nós temos prazer em estar aqui. Aqui não há humanidade. Tu podes dizer que a câmara não fez o seu trabalho mas a polícia não tem culpa", filosofa.
Daí a pouco, o mesmo agente à paisana é incumbido de estabelecer uma ponte fraternal e de diálogo entre as duas partes. Dirige-se ao grupo de guineenses que protestam junto à barraca a demolir e aconselha: "Um de vocês tem de criar uma comissão e falar bem, ouviram, falar bem". Responde-lhe um jovem negro: "Peço desculpa se falo com sotaque da Guiné..."
Os minutos passam e existem clareiras de diálogo. "Eu não vi o meu colega torcer o dedo à mulher grávida...o senhor é casado, se tivesse a sua mulher grávida, deixava-a estar aqui?, pergunta um polícia do corpo de intervenção a um negro. "Ela está a reinvindicar o direito dela! Nós lá na Guiné dizemos: Tem fome, vai à procura. Ela tem fome..." responde o guineense.
Um enxame de mulheres negras provoca o comandante: "Tem casa? Eu vou dormir na sua casa!" Comenta outra: "Não, tu vais dormir para o quarto dele". O comandante desenha um falso sorriso entre as covas secas do rosto, mira o azul do céu, tranquilo, limpo e sem desordem, fora um outro rasto branco de avião. E as horas a passarem...
O mar encrespa-se de novo quando um homem baixo, entroncado e forte recebe ordens para quebrar à marretada a porta da barraca em cujo telhado estão os moradores e militantes com cartazes. Um polícia vestindo um blusão e calças de ganga entra na barraca de shotgun em punho, como nos filmes. Os homens começam a retirar os pertences. Sai uma parte de uma cama, saem uns sacos, até que se ouvem muitos gritos: "Dinheiro! Dinheiro" Ele tirou dinheiro!" A vozearia só acaba quando o funcionário da marreta devolve uma nota de dez euros sob os olhares furibundos dos moradores. A escavadora ainda espera por uma ordem para avançar. "Não fica com medo que a gente não bate", grita de cima do telhado da barraca um homem em direcção ao funcionário que a manobra.
Caída do céu, aparece uma câmara de televisão. O operador instala-se em cima dos tijolos partidos e nunca mais dali sai. O comandante do corpo de intervenção deve estar a amaldiçoar o dia em que a televisão nasceu. Olha em redor e fala por um transmissor. Vêmo-lo retesar o branco da pele e mover as mandíbulas para cima e para baixo, como um peixe de águas profundas. No fim, lança um olhar rápido para o cameraman e a câmara indiscreta e avisa os seus homens de que é necessário esperar. Ainda tenta outra barraca mas os militantes seguiram lá a mesma estratégia. Colocaram-se em cima do telhado. O comandante está á beira de um ataque de nervos. Acaba por descarregar a frustração numa militante pequenina e com sotaque francófono que estava a filmar tudo com uma câmara digital. "Acabou, é o meu último aviso! Para estar aqui a filmar a senhora tem de estar identificada como jornalista!"
Pouco antes das 17h00, lança a toalha ao chão. "Vamos embora...", diz aos seus homens. Os polícias regressam por entre a lama e os escombros às carrinhas onde deixaram os escudos. A escavadora abandona vagarosamente o bairro acompanhada pelo polícia à paisana de shotgun no braço.
Os moradores guineenses gritam, batem palmas e cantam em coro um cântico em crioulo: "Ihode Há SIC na Biu!" Pergunto o que quer dizer aquilo a uma mulher sorridente. "Eh, quer dizer...cuidado, está a vir a televisão SIC!"

COIMBRA TEM MAIS ENCANTO

Fonte amiga viu o "Ao Volante do Poder" ontem no TOP LIVRO DA FNAC DE COIMBRA em 12º lugar.

2007-11-03

JOSÉ LELLO O POPULAR

EXCERTO DO LIVRO "AO VOLANTE DO PODER" (www.aovolantedopoder.blogspot.com)


Um secretário de Estado das Comunidades extremamente popular
junto da emigração foi o socialista José Lello. Transportei-o por
diversas vezes a clubes luso-americanos da área de Nova Iorque, Con80
pedro faria e nuno ferreira
necticut e Nova Jérsia. Era excelente a cantar o fado e a colocar toda
a plateia de comensais a rir e a bater palmas. Era muito bom. Como
orador, pendia para o repetitivo. Gostava muito de falar sobre as botas
cardadas dos soldados indonésios oprimindo Timor-Leste. A imagem
das botas cardadas do inimigo devia dar-lhe muito prazer porque cada
vez que entrava num novo clube luso-americano, repicava a ladainha
das botifarras.
José Lello era um homem cativante. Os emigrantes saíam do clube
e vinham despedir-se dele no exterior, acenando. Uma vez, numa visita
do então primeiro-ministro António Guterres, entrou no autocarro
e não parava de acenar. A páginas tantas, o fadista amador e adepto do
Boavista deixou fugir o seguinte comentário: «Eu precisava agora era
de uma mão daquelas grandes de plástico para abanar por mim».
Eu escutei-o magoado. As pessoas com quem José Lello brincava
eram emigrantes como eu, gente boa, simples, sempre pronta a
receber um novo secretário de Estado das Comunidades de braços
abertos e que muitas vezes caíam na desilusão e no ressentimento por
não verem a sua hospitalidade recompensada. Gostavam de fados e de
sorrisos mas queriam muito mais do que isso.

NOVO AVISO PARA QUEM QUER LER O NOVO LIVRO DA BERTRAND