estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2006-12-27

CAROLINA SALGADO, A TRAIDORA

O escritor e jornalista Miguel Sousa Tavares não se conforma com o facto da mulher que viveu cinco anos com o presidente do FC Porto ter escrito um livro. "Quis", escreve Miguel, "com a sua traição e o seu abjecto panfleto, manchar o trabalho de todos os jogadores e técnicos que se batiam no campo enquanto ela se exibia no camarote".
Ficamos, portanto, todos a saber que falar da vida noctívaga de Pinto da Costa e de Reinaldo Telles é traição, assim como parece ser traição mencionar a forma corajosa como o presidente do FCP enfrentou a Polícia Judiciária...em Espanha.
Eis um que um dia defende a regeneração do futebol português e dos seus dirigentes e no dia seguinte, afinal, se comporta como o mais cego dos fanáticos clubistas. Onde andavas tu Miguel quando a Carolina "se exibia no camarote"? Andavas por lá também... a discursar no Casino de Espinho em frente à primeira-dama azul e branca sem pestanejar...

2006-12-25

JAMES BROWN (1933-2006)

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2006-12-24

FELIZ NATAL PARA TODOS!

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O Estradas Perdidas deseja a todos, independentemente da sua condição, raça, credo ou fé clubística um grande, alegre, feliz Natal. E não se zanguem se o cunhado vos oferecer aquele par de meias que vocês nunca desejaram ou a vossa sogra vos oferecer um pijama pelo quinto Natal consecutivo. Christmas is Christmas. Merry Christmas to ya'aall!!!

2006-12-15

LET'S DO IT! (CLICAR)

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Em Fevereiro, na Luz, Dinamo de Bucareste. Não há razões para nos queixarmos do sorteio, se pensarmos que podíamos ter de jogar com o Sevilha. O Dínamo de Bucareste tem um estádio pequenino, com capacidade para 15 mil pessoas e a lembrar outros tempos e vive à sombra dos rivais Steaua e Rapid.
Boekarest%20Dinamo%20stadion[1]
De qualquer forma, em casa não perdem para as competições europeias. No ano passado, venceram o Everton por 5-1 e este mês o Bayer Leverkusen por 2-1. E, claro está, têem adeptos apaixonados pelo clube, como a gente pelo...Beeeenfiiiiiicaaaaa! Só não sei uma coisa: Ainda lá joga o Zé Kalanga?
dinamo

01[1]

Imagens Dinamo Online


Os outros jogos:

1. Waregem (BEL) v Newcastle (ING)
2. Braga (POR) v Parma (ITA)
3. Lens (FRA) v Panathinaikos (GRE)
4. Bayer Leverkusen (ALEM) v Blackburn Rovers (ING)
5. Hapoel Tel-Aviv (ISR) v Glasgow Rangers (ESCO)
6. Livorno (ITA) v Espanyol (ESP)
7. Feyenoord (HoL) v Tottenham (ING)
8. Fenerbahçe (TUR) v AZ Alkmaar (HOL)
9. Werder Bremen (ALEM) v Ajax (HOL)
10. Spartak de Moscovo (RUS) v Celta de Vigo (ESP)
11. CSKA de Moscovo (RUS) v Maccabi Haifa (ISR)
12. AEK de Atenas (GRE) v Paris Saint-Germain (FRA)
13. Sport Lisboa e Benfica (POR) v Dinamo de Bucareste (ROM)
14. Steaua de Bucareste (ROM) v Sevilha (ESP)
15. Shakhtar Donetsk (UKR) v Nancy (FRA)
16. Bordéus (FRA) v Osasuna (ESP)

2006-12-14

BEEEENFIIIIICAAAAA.!

O Benfica joga em Fevereiro com um dos oito segundos classificados dos grupos da Taça UEFA. Ontem já ficou a conhecer quatro possíveis (Nancy, Paris Saint-Germain, Celta de Vigo e Ajax) e hoje vai ficar a saber quem são os outros quatro. Maccabi Haifa? Dínamo de Bucareste? AZ Alkmaar? Lens? Osasuna? Amanhã falamos.

2006-12-12

Pedaço de papel higiénico?

Hoje, no jornal "A Bola", o escritor Miguel Sousa Tavares chama "pedaço de papel higiénico" ao recente livro de Carolina Salgado.
Comentário Estradas Perdidas: Ei, mais respeitinho, foi editado pela jornalista Tereza Coelho, uma que te ensinaria a fabricares figuras femininas que não falassem como o...Miguel Sousa Tavares...

We're gonna have a party

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APELO AO DEBATE SOBRE O FUTURO DO JORNAL PÚBLICO (AQUI)

A MÚSICA QUE SE OUVIU E OUVE NO ESTRADAS PERDIDAS EM 2006 (CLICAR)

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Candi Staton

BLOGS DA CAPARICA (CLICAR)

Nada como mais uma devastação na Praia de São João para descobrir blogs da Caparica. Leiam o Mapa Caparica e o Caparica Futurista.

2006-12-11

EM BUSCA DA VERDADE EM LAGOS, MAIS NADA

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Em Março de 2005, um jovem apareceu enforcado na cela da PSP de Lagos. Na altura, tudo o que surgiu de imediato na imprensa, foi um take lacónico de uma agência noticiosa que afirmava que o suicida tinha causado desacatos no exterior de um bar antes de cometer suicídio na esquadra.
Em serviço na redacção nesse fim de semana, achei tudo muito lacónico e breve, pedi ao meu editor de então para me deixar ir à cidade e meti-me numa camioneta para o Algarve.
Tudo o que me movia era o apuramento da verdade. Não foi fácil por se tratar de um meio pequeno e de mais de uma pessoa se queixarem de medo de represálias e de ameaças.
Regressado a Lisboa, à redacção, decidi escrever o texto "Morte na Esquadra". Um agente da PSP decidiu processar-me e ao jornal, por "difamação". Expliquei, quando convocado pelas autoridades, que em 20 anos de profissão nunca fora processado e que na reportagem de Lagos só me movera o apuramento da verdade.
Hoje, recebi a notificação de que o Ministério Público de Lagos decidiu arquivar tudo. Não se comprovou e bem qualquer intenção minha persecutória ou difamatória em relação a nenhum agente em particular. Não era essa a minha intenção.
Fico satisfeito de saber que a Inspecção-Geral da Administração Interna comprovou a utilização do spray de gás pimenta. Penso que o meu texto conseguiu trazer alguma luz ao que se passou em Lagos, independentemente das naturais falhas de quem não vive na cidade nem conhece a fundo a região.

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"MORTE NA ESQUADRA" (publicado em Março de 2005)


Na noite de sábado, dia 5 de Março, José Reis, 30 anos, instrutor de windsurf, saíu de casa, no Bairro 1º de Maio, na Meia Praia, em Lagos, para o aniversário de um amigo de longa data no Restaurante “O Caseiro”, na localidade vizinha de Araão.
“Ele saíu todo bem disposto para a festa de anos do amigo”, conta agora a mãe, entre o destroço da perda do filho e a necessidade de não falar à comunicação social, imposta desde a primeira hora pela filha, Paula Reis, advogada em Lisboa.
A casa onde José Reis vivia com os pais é um moradia baixa, pequena, branca, uma chaminé algarvia competindo com uma pequena parabólica. De lá terá saído para o “Caseiro”, um restaurante discreto, imerso no campo, que ninguém diz que alberga uma grande sala de refeição. Ao todo, nessa noite, eram umas 27 pessoas.
“O Zé?”, pergunta o empregado que os serviu. “O Zé esteve aí cinco estrelas, estava todo bem disposto. Estavam todos, era uma festa de anos. Ele nem bebeu grande coisa”.
Como é que era o José Reis? “O Zé? Era cinco estrelas, já lhe disse. Ele costumava vir aqui várias vezes com clientes lá da empresa de windsurf onde trabalhava. Alguém acredita que ele se enforcou?”
No jantar, Reis falou animadamente, entre outras coisas, sobre surf. “O meu marido faz pesca submarina e eles passaram o jantar todo a falar. Eu, que tenho sempre alguma reserva em relação a uma pessoa que já teve problemas com drogas no passado, gostei dele”, conta uma das participantes na festa.No fim do jantar, P., o aniversariante não podia conduzir porque já tinha bebido o seu bocado. Foi José Reis que conduziu a viatura dele até Lagos, onde o grupo iniciou um périplo por vários bares.
“Estivemos em dois ou três bares e entretanto, o grupo foi-se dividindo. Estavamos no bar “Taberna Velha” e o Zé disse que queria ir-se deitar porque queria ir fazer surf para a costa norte”, conta um elemento do grupo.
Na rua, antes de se dirigirem ao bar “Grand Café”, José ainda dirigiu um piropo a umas raparigas que íam a passar na rua: “Vocês é que não me estão a ver com os músculos à mostra, a fazer windsurf...”
Nessa noite, o bar Grand Café, no centro de Lagos, estava cheio. “Tinha muita gente. Tinha tanta gente que houve pessoas que não se aperceberam bem do que se passou porque o que aconteceu foi junto à entrada do primeiro andar, junto às escadas”, conta um barmen de Lagos.
Ninguém sabe dizer a hora exacta em que, na entrada do primeiro andar de chão de madeira do “Grand Café”, se iniciou a troca de palavras e agressões entre José Reis e o sub-chefe Domingos das Brigadas Anti-Crime, que ali se encontrava à paisana, como sempre.
“Eu não vi como é que tudo começou”, conta V., proprietário de outro bar na cidade, “só me apercebi da luta, dos vidros partidos no chão, dos polícias a chegarem e a levarem o rapaz. E cheirava a gás, cheirava bastante a gás”.
O facto de ter havido pessoas que não se aperceberam de desacatos tem a ver com o tamanho do bar e o facto de se encontrar apinhado. Sobem-se umas escadas de pedra por entre paredes em túnel que lembram um pouco ambientes medievais e acede-se a duas salas amplas em madeira, decoradas com arcos e colunas, grandes espelhos com grossas molduras e a figura de um anjo a pairar sobre o balcão “retro” de uma das salas. O desacato aconteceu junto à entrada, entre as escadas e a porta que dá acesso ao balcão.
“A maior parte das pessoas não deram por nada”, conta José Francisco, o gerente, “Eram umas 3h30, eu estava aqui de trás do balcão a trabalhar. Só me apercebi da confusão quando chegaram os polícias para o levar. Ele gritava “doem-me os olhos, doem-me os olhos, não vejo nada”, era só o que ele dizia. De resto, foi uma confusão normal e muita gente nem se apercebeu”.
Uma testemunha que se encontrava ao balcão diz ter visto José Reis a desentender-se com o sub-chefe Domingos, das Brigadas Anti-Crime (BAC) da PSP de Lagos. “O sub-chefe Domingos estava à paisana. O Zé disse-lhe qualquer coisa, pegaram-se os dois, o sub-chefe pega num spray e manda com gás ali para dentro. Eu fiquei com o nariz e com a garganta a arder e tive de descer as escadas e vir cá para fora”.
O facto de ter descido as escadas de pedra e ter vindo para a rua, permitiu a esta testemunha ver tudo. “O segurança do bar foi lá para separar os dois e também levou com o spray. O sub-chefe Domingos pediu reforços. Às tantas, estavam cinco ou seis polícias a caír em cima do rapaz, a bater-lhe”.
Foi então que um dos polícias que chegou perguntou ao sub-chefe Domingos porque usou o spray dentro do “Grand Café”: “Eu vi o outro a perguntar a ele: Porque é que usaste o spray aí dentro? E vi o Domingos a pegar no spray e metê-lo num guardanapo ou num pano. Foi mesmo à minha frente”.
José Francisco, o gerente, afirma que não viu spray nenhum: “Spray? Se mandaram ou não mandaram, não sei. Não cheirava a spray”. E é normal um polícia à paisana envolver-se no “Grand Café” à pancada? “Ele vem sempre aqui à paisana. Se estava em serviço ou não, não sei...”
Mesmo para quem acompanhava José Reis e pertencia ao grupo inicial que viera de Araão, as razões porque Domingos e o instrutor de windsurf se desentenderam permanecem confusas. “Há quem diga que foi o Domingos que disse: “estás a olhar para mim?” e há quem diga que o Zé o mandou para o caralho. Não sei”, diz um dos elementos desse grupo.
À porta do “Grand Café” gerou-se uma grande confusão. “Eram sete ou oito polícias. Prenderam o Zé no chão e puseram-lhe os joelhos em cima da cara, em cima da cabeça. O Zé queixava-se muito dos olhos e houve um dos amigos que até lhe foi levar água para limpar-lhe os olhos”, conta o mesmo elemento.
José Reis foi para a esquadra da PSP cerca das 4h00 da manhã do passado domingo. Dois amigos terão ido com ele e terão estado com ele na esquadra. O que se passou no interior está no segredo dos deuses. Pelo menos um dos amigos de José Reis, que esteve na esquadra, já recebeu ameaças para não falar à comunicação social.
“Ele diz que já lhe telefonaram a ameaçar e que só fala à Polícia Judiciária e ao IGAI (Inspecção Geral da Administração Interna)”, explica um amigo. Cerca das 4h00 da manhã, José Reis telefona da esquadra para a irmã, Paula Reis, em Lisboa, a pedir um advogado e ajuda. José, entretanto, é detido numa cela sem cinto e cordões dos sapatos, segundo informações da PSP.
O último turno de vigia às celas terá sido às 5h00. A PSP afirma, num comunicado enviado à comunicação social, que José foi encontrado em perigo de vida cerca das 5h20. Teria, lê-se mais tarde na imprensa, “enrolado o pescoço nas calças de ganga”. O comunicado da PSP afirma ainda que foram feitas todas as tentativas de reanimação possíveis no local, quer por agentes, quer pelo elementos do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). Nesse mesmo documento, emitido domingo, dia 6, a PSP escusava-se a explicar onde e porquê José tinha sido detido uma vez que “a família tinha pedido descrição”.
A Polícia Judiciária e a Inspecção Geral da Administração Interna (IGAI) passavam a investigar o caso. Segunda-feira, em tempo recorde, é noticiado via Agência Lusa que a autópsia realizada no Hospital do Barlavento Algarvio confirmou suicídio por enforcamento.
Agora, na casinha baixa e branca do Bairro 1º de Maio, na Meia Praia, em Lagos, a mãe, devastada, só sabe dizer, em lágrimas, que quer saber a verdade: “Eu quero saber porque levaram o meu filho para a esquadra. Eu quero saber. Ele saíu daqui tão bem disposto, ele nem queria ir para o Grand Café”.
Ao lado, olhar cabisbaixo, testemunha da angústia da esposa e confrontado com a sua própria inquietude, José dos Reis, pai de José Reis, encolhe os ombros: “Eu só quero o apuramento da verdade. Hoje (quinta-feira, dia 10) ainda não vi a autópsia e a Polícia Judiciária ainda não veio cá. Os jornais noticiaram segunda-feira a autópsia, nós ainda não a vimos...”Na esquadra da PSP de Lagos, o jovem comandante surge no hall de entrada, entre os olhares circunspectos e sérios dos agentes: “Não lhe posso dizer nada. O caso está sobre investigação e, por respeito para com a família...” Explico que ainda não disse o que estou ali a fazer. “Mas eu é que já sei o que quer, é o assunto do dia...”

A VIDA ATRIBULADA DE JOSÉ REIS

José Reis cresceu ali, naquele dédalo pequeno e deserdado de meia dúzia de casas brancas e chaminés algarvias, roupa a secar entre carrinhas abandonadas, roulotes, sofás e cadeiras. No Bairro 1º de Maio, na Meia Praia, em Lagos, agora a regra é o silêncio ou as meias palavras.
“A família não quer falar e enquanto a família não falar, a gente vai respeitar...”Aos poucos, no entanto, amigos e pessoas mais chegadas, vão falando. “Sempre foi muito activo, andámos na escola secundária juntos, jogavamos à bola juntos, jogávamos ténis de mesa, andavámos de bicicleta, de BMX. Ele nunca foi de estar parado”, conta A., um amigo de infância.
Por volta dos 20 anos, José experimenta a heroína e navega na onda durante os próximos anos. “Sim, andou naquilo uns quatro ou cinco anos. Foi nessa altura que ele fez mais asneiras”, conta A. “ E foi nessa altura que ele lidou com a polícia e com o sub-chefe Domingos. Se houve ou não coisas entre eles, não sei”.
Não consegui, em tempo útil, ter acesso ao eventual cadastro de José Reis. Em Lagos, há quem diga que tem o registo limpo, quem diga que já esteve preso e o jornal “24 Horas”, chegou a noticiar na segunda-feira passada que José esteve preso 12 anos. “Diziam que ele esteve 12 anos preso. Quer dizer, tinha passado metade da vida preso. Como, se ele tinha o cadastro limpo?”, pergunta o pai, José dos Reis.
Pedro Filipe, do “Windsurf Point”, garante, lacónico, que “nos últimos anos, José Reis nunca passou uma noite na PSP de Lagos”. A., o amigo de infância, que afirma ter-se iniciado na heroína ao mesmo tempo, diz que sim, que nos velhos tempos José “chegou a ir a julgamento duas ou três vezes e a ter pena suspensa”.
Foi durante o auge dos anos negros da heroína que, para o tirar de Lagos, a família o envia para Lisboa, para o pé da irmã, Paula Reis, de onde segue para um Centro de Recuperação para Toxicodependentes em Arruda dos Vinhos. Nessa altura, trabalhou como mecânico na FIAT. “Ele sempre foi de desenracar coisas, uma prancha, uma motorizada”, justifica um amigo.Nesses tempos em que esteve fora, José Reis ía a Lagos muitos fins de semana. “Nessa altura, estava a cortar com a heroína e estava limpo. Nem alcool bebia”, conta A.
Quando regressou para a casa dos pais, a sua casa de sempre, no pequeno bairro 1º de Maio, na Meia Praia, José começou a trabalhar na escola de windsurf “Windsurf Point”, mesmo ao lado de casa.
“Veio mais calmo. Já cá estava há quatro anos. Dava instrução aos miúdos, os miúdos gostavam dele, era brincalhão. Também arranjava pranchas. Podia ir beber os seus copos à noite a Lagos que no dia seguinte estava aqui às 9h00”, contam na “Windsurf Point”.
Na noite de Lagos e em particular no bar “Grand Café”, onde José Reis teve o desacato final da sua vida, ninguém parece ter razões de queixa. “Ele aqui nunca arranjou problemas”, afirma, taxativo, o gerente, José Francisco.
Nos últimos tempos, dizem, José estava entusiasmado com a abertura da loja da “Windsurf Point”, numa urbanização nova situada entre a marina de Lagos e a Meia Praia e preparava-se para assinar contrato na escola. “Uma pessoa que anda entusiasmada com isto, vai-se suicidar?”, perguntam.


LAGOS, A CIDADE DOS RUMORES

Mulheres sentam-se em mesas de café a falar sussurrado sobre o assunto do momento. “Dizem, dizem que ele se suicidou...”, diz uma. “Tu, lá da tua casa, viste ou não viste?”, pergunta outra. Desde há uma semanas que em Lagos ninguém fala noutra coisa que não seja o suicídio de José Reis na esquadra da cidade. Não se trata de um falar livre, aberto e democrático mas de uma coisa assim entre a ladainha e o sussurro. As informações e contra-informações sucedem-se. “Agora, já dizem que o polícia, o Domingos, estava em casa a dormir quando o Zé se suicidou, você acredita. Ah, e dizem que o spray apareceu no bolso do Zé...”
À superfície, a cidade parece viver o dia a dia normal de qualquer pequena cidade. Nas entrelinhas, nas conversas de café e da Praça Gil Eanes, o que aconteceu está presente em muitas conversas. Os interlocutores calam-se e baixam os olhos quando o forasteiro os confronta com o sucedido. “Ah, eu cá não vi nada. Porquê, disseram-lhe que eu tinha estado lá? Não, não vi nada”, responde educadamente um jovem barmen, que alguém jurava ser testemunha do que se passou no “Grand Café”, na madrugada do passado domingo.
Para alguém de fora, as pessoas são sempre muito as mesmas. Na Praça Gil Eanes, perto dos “junkies” que se passeiam pelo espaço compreendido entre os CTT de Lagos e as traseiras da Câmara Municipal, os polícias são os mesmos que nos observavam circunspectos quando nos dirigimos à esquadra da PSP local.O jovem que se cruza conosco num bar é daí a pouco o barmen no animado “Mullens” e o outro, de cabelo com gel, que bebe imperiais no “Mullens”, é o que nos serve o café de manhã, junto à Praça Gil Eanes.
À noite, em plena Praça Gil Eanes ou mesmo na Rua 25 de Abril, a Lagos de Março é um deserto, um vazio quebrado pelas gargalhadas de um bando de turistas, pelo som do mar lá na Meia Praia ou pelo neon de bares como o “Bom Vivant”, os ecrãs gigantes ligados na Sky TV. Num dos bares do centro, um barmen é taxativo: “Lagos é muito pequeno, é um meio muito pequeno e você não vai conseguir que ninguém lhe diga nada”.
Procurar dados sobre o caso José Reis é como riscar a ponta de um iceberg. Em desespero de causa, rumamos ao bairro de 17 barracas junto ao Estádio Municipal de Lagos. “Devia era ter sido aqui. Aqui somos todos unidos e não temos medo da polícia. É quase tudo mulheres porque os homens estão presos. Quando alguém vai parar à esquadra, liga para cá e vamos lá todos”, explica J., uma amiga de infância de José.“Já aqui tivemos uma placa a dizer “proibida a entrada à polícia”. Uma vez vieram cá buscar uma pessoa, até deram um tiro num carro. Fomos todos para a esquadra. Se o caso do Zé tivesse acontecido aqui, ele ligava, íamos todos lá”, afirma J., peremptória.

AREIA EM SÃO JOÃO DA CAPARICA OU O PALIATIVO DO COSTUME

Búzio O Bar Búzio fotografado no sábado dia 9 de Dezembro quando ainda era incerta a chegada da escavadora e dos camiões para transportarem areia para a duna que perdeu 30 metros. Os donos disponibilizaram-se para ali colocar pedra e areia. O Instituto da Água recusou a ideia e começou na tarde de ontem a operação de retirar areia do extremo norte da Praia de São João para colocar no loca devastado.
Hoje, o Ministro do Ambiente deslocou-se ao local e concerteza aproveitará para anunciar medidas. Depois de casa arrombada, trancas à porta.
De lembrar, no entanto, que as obras caríssimas de reforço dos esporões em Santo António foram deixadas a meio por "falta de verbas": Não houve qualquer alimentação artificial das praias como previsto e os esporões terminados em Maio, em dia de temporal, deixam a água passar de um lado para o outro. Nesses dias, nem os mais intrépidos pescadores se atrevem a pôr lá os pés.
Na zona sul da Praia de São João, onde o que resta das dunas e pedras em derrocada separam o mar do Parque de Campismo do INATEL, a única intervenção que vi até agora desde a última, em 2003, foi a das ondas. É preciso proteger urgentemente aquela zona com areias e pedras.
Do INATEL para norte, é o que se vê: A cratera de 30 metros onde a colocação de areia não vai ser suficiente.
Na próxima quinta-feira, não se esqueçam, estão previstas mais marés-vivas.

P.S. Já agora, aproveitem para passear à noite no paredão entre os restaurantes "O Barbas", "O Bento" e o "Primoroso" e os bares de Santo António. Sem luz dos candeeiros e buracos por todo o paredão, a maresia a fustigar-nos o rosto, a sensação mista de solidão e abandono é vivida como em poucos lugares. Como seria o passeio junto à praia em Espanha ou no Brasil? Oh, mas isso fica muito longe...

governadora
A Governadora Civil de Setúbal, Teresa Almeida, presta-se, ontem, a uma entrevista para a RTP em pleno Bar Búzio, que viu a sua vista do areal ser transformada numa periclitante e assustadora vista sobre as ondas.
Quinta-feira, dia 7, em declarações publicadas no Público, diz: "Não há capacidade de intervenção para minimizar os efeitos, devido às condições meteorológicas".
Ao "Correio da Manhã", afirma: "Neste momento não há possibilidade de intervenção, nomeadamente pelo INAG, e tem de se esperar por uma ruptura para se saber onde intervir”.
No Jornal da Noite da SIC, no sábado, afirma que o INAG (Instituto da Água) "está a acompanhar a situação e tem projectos para o futuro".
No domingo, defende que o reforço das dunas através da reposição de areia, iniciado nesse dia, tem «carácter prioritário», mas revelou que, a partir de segunda-feira, irá conhecer «os projectos para a obra na sua plenitude».
Comentário do Estradas Perdidas: É bom conhecer os projectos, dá-nos mais informação.





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Norte da Praia de São João cerca das 17h00 de domingo: Um camião dirige-se para a zona onde uma escavadora retira areia.

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A areia é retirada da Praia de São João para acudir... a Praia de São João.

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Areia para a duna que ameaçava romper. Ao fundo, do lado esquerdo, pode ver-se o Parque de Campismo do INATEL.

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Nos últimos anos, a geografia, a paisagem, o visual da Praia de São João da Caparica mudou por diversas vezes e sempre em recuo. Do paredão de Santo António à Cova do Vapor, o que existem já não são dunas, são restos das dunas, fiapos. As dunas têm sido cortadas pelo mar. Como um bolo indefeso a que restam as últimas fatias.

2006-12-09

S.OS. SÃO JOÃO DA CAPARICA

SOS CAPARICA

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"O Instituto da Água está atento e tem projectos para no futuro atacar o problema", disse ontem a Governadora Civil de Setúbal ao Jornal da Noite da SIC, acerca de uma destruição dunar que começou em 2001

A DUNA ENTRE O INATEL E O BAR BÚZIO, NA PRAIA DE SÃO JOÃO DA CAPARICA, JÁ FOI ENGOLIDA EM 30 METROS. AMANHÃ O BAR BÚZIO PODE JÁ NÃO EXISTIR E O BAR PÉ NÚ PODE ESTAR SÉRIAMENTE AMEAÇADO.
SERÁ QUE NÃO PERCEBEM QUE A DUNA PRECISA URGENTEMENTE DE AREIA E PEDRA?QUEREM QUE OS MORADORES SE JUNTEM, FRETEM UNS CAMIÕES E DESPEJEM ALI A PEDRA QUE PODIAM TER COLOCADO NA PRIMAVERA COMO O PRESIDENTE DA JUNTA SUGERIU? PRECISAMOS DE AREIA E PEDRAS E NÃO DE PALAVRAS.
Estamos fartos de assistir, desde o terrível inverno de 2001, que destruiu todos os bares, a palavras de conforto e promessas vãs. Neste momento, o que resta das dunas está a abrir, fruto da incompetência e desleixo dos homens. À hora a que escrevo, cerca de 17h00 de sábado, passaram cerca de 48 horas desde que o presidente da Junta de Freguesia da Costa da Caparica, António Neves, alertou para a chegada em breve de ondas de seis metros.
A Governadora Civil de Setúbal apressou-se a explicar, nessa mesma quinta-feira, que não existiam meios técnicos para intervir. Os meios técnicos não interviram. Interviu o mar, o vento e a chuva, que na madrugada de sexta-feira me abriram a porta da sala, aqui em Santo António da Caparica e fustigaram violentamente as árvores da avenida. Por essa altura, ouvi o bruáá do mar e pensei: "Já está, não há meios técnicos, já está..."
Ao fim da manhã de sexta-feira, perguntei, receoso, a duas vizinhas que costumam passear os cães na Praia de São João: Como é que está a praia? "Uh, está tudo esburacado..." Acorri ao local, a tal Praia do INATEL agora enxameada de televisões a fazerem directos com os protagonistas locais do costume, que explicam que está em tudo em alerta.
Às 13h30, 14h00 de sexta-feira, cheguei à entrada da Praia, junto ao INATEL, como sempre faço, virei à esquerda e tive de parar. Um abismo de quatro metros separava agora o caminho do areal da praia lá embaixo. O acesso, o meu acesso diário à já causticada Praia de São João desaparecera. Comentei com algumas funcionárias do INATEL que aquilo era um perigo e que precisava de ser vedado. "Os curiosos é que têm de não vir para aqui..." Fui reduzido ao papel de curioso. Protecção Civil? Governadora Civil? Tudo o que vi foi um buracão enorme a ameaçar os bares Búzio e os bares Pé Nú, a escavar lentamente a duna e uma carrinha da RTP a escapulir-se do local.
As televisões descobriram, entretanto, que tinham mais uma novela trágica para as bandas da Caparica. Instalaram então o seu quartel-general à entrada da praia, junto ao INATEL, onde estacionam as carrinhas e onde os convidados do costume explicam que a protecção civil está a controlar a situação. Aliás, a governadora civil não se cansa de dizer que está em alerta permanente em conjunto com a protecção civil mas que ninguém poderá actuar enquanto a ruptura da duna não se der.
Estão à espera de quê para pegar em pedra e despejá-la em protecção do que tem de ser protegido? Não acham que cinco anos a ver as dunas a desaparecer já é tempo a mais? ALGUÉM FAÇA ALGUMA COISA.


TEXTO DE JOÃO PEDRO VIEIRA PUBLICADO NO DIÁRIO DE NOTÍCIAS EM MARÇO DESTE ANO:

Na memória ainda está bem presente a invasão do mar que destruiu grande parte dos bares das praias de São João de Caparica em Fevereiro de 2001. Cinco anos depois, e já deslocadas para longe da água todas as instalações, as marés das últimas semanas voltaram a engolir as dunas e deixaram um rasto negro depois de sugado o areal.
Apesar de afirmarem não serem técnicos, os concessionários dos bares da zona referiram, em conferência de imprensa que decorreu ontem no Kontiki Bar, que "algo está mal". E prometem não cruzar os braços para que a situação da praia se resolva."Fizeram-se os pontões aqui na Costa da Caparica há quarenta anos. Agora, decidiram reforçá- -los nos mesmos sítios, como se durante este tempo todo nada tivesse mudado", queixa-se Luís Mariano Vítor, proprietário da Praia do Sol.
As obras de fortalecimento da orla costeira da Costa de Caparica continuam, mas deixam muitas dúvidas em quem diariamente observa o avanço das marés: "As praias das pontas são as mais danificadas e o mar começou a cavar as dunas mesmo depois dos pontões serem reforçados", reconhece o proprietário do Kontiki Bar, Vítor Cerqueira, para realçar que "não foi a praia que encolheu, mas sim a duna que acabou engolida pelo mar".
Num Inverno "que nem sequer foi muito rigoroso", o resultado é pior do que se poderia supor e os concessionários dos estabelecimentos das praias temem já as marés da próxima semana que se adivinham fortes. A área mais afectada pelas últimas correntes é a que se encontra junto às obras dos pontões do lado do percurso pedonal da Costa de Caparica e é a prova de que os recentes investimentos no reforço da costa "não estão a correr bem".
Sem "grandes conhecimentos de engenharia", Vítor Cerqueira queixa-se do desconhecimento da população local e da impotência das autoridades, mas arrisca soluções: "Para a praia crescer era preciso estender o pontão do lado da Trafaria porque ajudava a travar o mar."
Em vez de rocha, os donos dos bares Kontiki, Pé Nu, Praia do Sol, Bicho d'Água e Palmeiras querem mais areia, depois de um carregamento efectuado há somente dois anos. Numa das paredes do bar Kontiki, uma fotografia não muito antiga, de 1997, recorda o tempo em que as praias de São João tinham um longo areal. Parece uma realidade muito antiga, mas não, passaram apenas 9 anos. Hoje, o cenário é muito diferente e leva Vítor Cerqueira a lançar um desabafo: "Falam tanto de turismo, mas no fundo parece que querem que as praias da região de Lisboa desapareçam de vez."

2006-12-08

O FIM DA CAIXA DE JORNALISTAS

RETIRADO DA SIC ONLINE (obrigado ao Antonio Matos por me fazer chegar o texto)

Os privilégios dos jornalistas

Passava das dez da noite quando o pequeno avião pôde descolar da Portela. A SIC fretara o aparelho à Air Luxor para cinco jornalistas e muito material. Seguimos para os Açores, para a cobertura do acidente aéreo em S. Jorge, que matou 35 pessoas em Dezembro de 1999.

Pedro Coelho
Jornalista
opiniao@sic.pt

O jacto da SIC abanou a viagem inteira. Em Ponta Delgada saíram três passageiros, os outros dois seguiram para a Terceira. Terão sido os piores 40 minutos que tive em 40 anos. O piloto foi incapaz de evitar o impacto de uma nuvem carregada de água e o jacto perdeu o norte, tendo iniciada uma descida descontrolada. Parou a tempo de não termos nós a mesma má sorte dos 35 passageiros da SATA.

Sempre que volto a entrar num avião em dias de tempestade hesito; mas de que me serve hesitar?

Em Setembro de 1999, os estrangeiros que estavam em Timor-Leste a acompanhar a crise que se seguiu ao referendo da independência, saíram em bloco da ilha. As autoridades deixaram de conseguir protegê-los. Ficaram quatro jornalistas portugueses: Jorge Araújo, Luciano Alvarez, José Vegar e Hernâni Carvalho. Se não tivessem ficado, quantos dos mais frágeis teriam sobrado para contar o fim da história?

Em Abril de 2003, a 80 quilómetros de Bagdade, um despiste foi fatal para três dos ocupantes de uma viatura que seguia numa coluna em direcção à capital do Iraque. O único sobrevivente é português e chama-se Rui. O Rui do Ó é jornalista. Os dois mortos eram argentinos, igualmente jornalistas e amigos do repórter de imagem da SIC. Como se sobrevive a uma tragédia destas?

Em Novembro do mesmo ano, Rui do Ó regressa ao Iraque. Na mesma estrada, o carro onde seguia despertou a atenção de um grupo de guerrilheiros. Foram disparados tiros. Uma jornalista portuguesa, Maria João Ruela, também da SIC, foi atingida. Carlos Raleiras, da TSF, foi raptado. Rui do Ó gastou mais uma vida. Salvou-se.

Aurélio Faria e Luís Pinto, ambos da SIC, escaparam fisicamente ilesos a diversos disparos que lhes estavam destinados. No Afeganistão, em 2001.

Em 1997, no Zaire, Paulo Camacho e Renato Freitas, da SIC, filmaram uma troca de tiros e resistiram, para contar a história.

Cândida Pinto e José Maria Cyrne integraram-se num pelotão inglês no Iraque em 2003. Foram soldados, semanas a fio.

Esta lista, das sortes da guerra, deveria ser muito mais dilatada e ultrapassar muito mais o universo da SIC. Os factos apresentados servem para confirmar os "privilégios" dos jornalistas.

Estive na guerra em Junho de 91. Atravessei sozinho, de gravador e microfone, um país que não o era, a desmantelar-se. A Jugoslávia. Nunca mais tive ganas de voltar à guerra.

Por que vamos? Perguntarão muitos. E se não fôssemos? Quem contaria a história? Provavelmente, apenas os vencedores.

O conflito do Darfur matou milhares de pessoas, porque, sem jornalistas presentes, o mundo inteiro fechou os olhos à barbárie.

Quem conseguiu mobilizar a opinião pública norte-americana e acabar com o envolvimento dos EUA no Vietnam?

Quem conseguiu mudar a opinião pública norte-americana relativamente à guerra do Iraque?

Em situações limite, quando um jornalista morre, é ferido, preso ou raptado em "combate", seja dentro ou fora do país, Portugal, e o Governo, mobilizam-se.

Esquecemos, todos, a nossa imensa tribo incluída, os dramas e os esforços muito perto do irracional porque vamos passando no quotidiano.

E são tantas as vezes em que o quotidiano dos jornalistas se faz de situações-limite.

Temos família, amigos, afectos. Temos vida, que a realidade usurpa.

Para extinguir a Caixa dos Jornalistas, o Governo assume que o faz não por razões financeiras, mas porque não pode haver classes privilegiadas.

Os jornalistas devem ser solidários com a Segurança Social, mas a Segurança Social não pode, no entender do executivo, ser solidária com as especificidades da classe.

Numa lógica soviética integramos todos o pacote dos desprivilegiados. Lógica soviética, certamente: porque também na antiga URSS haveria sempre alguns que conseguiam escapar ao nivelamento por baixo. E infelizmente nós, em Portugal, sabemos quem eles são.

Pedro Coelho

2006-12-07

HONKY TONK PARA ESQUECER OLD TRAFFORD

Posted by Picasa Ok Jorge, tens estado a beber toda a noite por causa do Benfica e so te vou deixar ouvir mais uma musica dessas foleiras na jukebox aqui do quintal...Olha para ti, essas maos suadas, a nodoa na camisa...O que? Hank Williams? Outra vez? Nao, George Jones a contar porque largou a Tammy Wynette, nem pensar...Porque nao fechas a noite com o bom, velho e esquecido Charlie Walker? Toma la uma moeda e toca a por no prato o "Put Me Up On Your Way Down"!

2006-12-06

A FICHA TÉCNICA DO PÚBLICO OU A VISITA À CASA ASSOMBRADA

Preocupado em refundar o que já refundou, o director do Público
esqueceu-se de refundar a ficha técnica a que todos os leitores do
jornal têm directamente e diáriamente acesso através da página
www.publico.clix.pt/homepage/site/ficha técnica/default.asp.
Como é habitual nestas andanças, reformula-se os nomes cimeiros e esquece-se
a plebe. Acontece que no meio dessa plebe, muita da qual foi convidada
a rescindir, está o meu nome. Rescindi há dois meses com o jornal mas
o meu nome ainda consta lá no meio da arraia miúda. Fosse o director a
rescindir há dois meses e onde já estaria esta ficha técnica...
Dar uma vista de olhos nesta fantástica ficha de puro humor negro é não só um
exercício de espanto como de melancolia masoquista. Quem olhe para ela pensa que um
batalhão de repórteres entusiasmados e dinâmicos continua a cruzar os
corredores do jornal como nos bons velhos tempos de Vicente Jorge
Silva. Só na redacção de Lisboa- a que conheço melhor porque trabalhei
lá 17 anos- contei rápidamente uns 13 fantasmas. Para não falar das
delegações de Aveiro a Faro...Seria concerteza um exercício nostálgico
a visita do director do Público à delegação da Avenida da República
Federal Alemã, no BLOCO C 2 da capital algarvia...
Quer-se dizer, convida-me a rescindir de um jornal que ajudei a
fundar e a manter, e depois mantem-me na ficha técnica? Tire-me dali,senhor director, já que não me quis lá, tire-me desse
filme!

2006-12-05

THE REVOLUTION STARTS NOW

The Revolution Starts Now
(Steve Earle)

I was walkin’ down the street
In the town where I was born
I was movin’ to a beat
That I’d never felt before
So I opened up my eyes
And I took a look around
I saw it written ‘cross the sky
The revolution starts now
Yeah, the revolution starts now
The revolution starts now
When you rise above your fear
And tear the walls around you down
The revolution starts here
Where you work and where you play
Where you lay your money down
What you do and what you say
The revolution starts now
Yeah the revolution starts now
Yeah the revolution starts now
In your own backyard
In your own hometown
So what you doin’ standin’ around?
Just follow your heart
The revolution starts now
Last night I had a dream
That the world had turned around
And all our hopes had come to be
And the people gathered ‘round
They all brought what they could bring
And nobody went without
And I learned a song to sing
The revolution starts now















Robert Polidori Posted by Picasa

O MONSTRO (CLICAR)

Pessoalmente, tive uma experiência muito civilizada com o
administrador quando se tratou de rescindir. O facto de ele mostrar
uma face mansa, educada e civilizada quando se senta à mesa contigo,
não atenua barbaridades do género "acreditem que já fiz isto noutras
empresas e com sucesso" ou "eles vão ter mesmo que saír" ou ainda
"todos os anos queremos renovar o jornal em dez a 20 pessoas".
A sua aparente civilidade não atenua a verdadeira e muito pouco
democrática intenção de fazer um jornal com um núcleo duro de
apaniguados e uma mole acrítica e submissa de recibos verdes. Estive,
por exemplo, em várias festas do jornal e nunca vi uma festa de
aniversário tão sombria e tão sinistra como a do ano passado. A
maioria dos jornalistas não foi e a sala estava desolada e vazia. A um
canto, no entanto, lá estava o administrador e o director rodeados dos
mesmos apaniguados que vão ajudar a gerir e a dirigir o novo (não
entendo como pode uma mesma pessoa presidir a uma segunda refundação)
jornal.
Nesse sentido, existe na realidade uma monstruosidade, da qual a face
mais visível é o executor, o convidador a rescindir. Pessoalmente,
vejo o administrador como o braço frio e metálico de um monstro criado
há muitos anos. A estratégia está agora a chegar aos finalmentes e a
doer a sério mas vem sido planeada há anos pela pessoa que dirige o
jornal desde 99. Portanto, Diana, na minha opinião o monstro existe.
O que se passa é que qualquer estratégia como a que está a ser seguida
no jornal, chame-se-lhe neo-liberalismo, fascismo, seja de esquerda ou
de direita, começa por uma primeira fase em que todos são atirados
contra todos, em que todos desconfiam de todos, em que se instala o
salve-se quem puder, em que se criam dificuldades e se incomoda quem
incomoda o líder. Ostraciza-se, rebaixa-se, minimiza-se, brinca-se com
os que não são apaniguados do líder. Vai-se enxugando a toalha,
apertando aqui, apertando ali, espremendo a casa. A toalha, tu sabes,
vem sido apertada há muito tempo e sempre nas mesmas pontas. Pinga
quem está nas margens, quem critica, quem quer ser quem é, quem quer
afirmar e dizer sem ter que o fazer no círculo dos eleitos.
Agora, depois de anos a enxugar as pessoas que não interessam, as que
têm a memória do que foi fundado e de como foi fundado, das raízes,
dos pilares, passou-se a uma segunda fase. Agora, é preciso que
ninguém se sinta seguro, que todos temam pelo seu lugar de trabalho,
que percam todo e qualquer laço de solidariedade entre si que não seja
o de obediência ao líder supremo.
Nesta fase, já não há solidariedade, já não há ajudas. Agora são os
feriados, amanhã será outra coisa qualquer. Eu decidi-me vir embora no
dia em que vi três colegas a um canto da sala a rir do pânico que se
instalou naquela sexta-feira de Setembro em que recebemos os
telefonemas a convidar-nos para a reunião de rescisão. Colegas a rir
enquanto outros choravam. Isso chama-se insanidade. O monstro criou
monstrinhos. Quando lhe atirarem à cara "Seu monstro!", ele pode
rir-se e dizer "então mas você comportam-se uns com os outros como
monstros, andam a passar a perna uns aos outros..."
A obra- de alienação do património humano que fundou o jornal, de
apagamento da memória colectiva, de destruição dos laços afectivos que
nos faziam termos orgulho em trabalhar uns com os outros- está feita.
A partir de agora, o jornal pode manter o mesmo nome mas já não é o
jornal porque lutámos e pelo qual nos sacrificámos. É outra coisa. É
um monstro.

TEXTO que eu comentei:

"Comichão de Trabalhadores"

"A sindicalista deslumbrante não estava assim tão deslumbrante quando, a meio de um texto sobre projectos urbanísticos aprovados pela autarquia de Lisboa por cima do traçado da terceira travessia do Tejo e da linha de ferrovia de alta velocidade, o telefone tocou, perto da hora do jantar, e a extensão que apareceu naquele seu instrumento de trabalho de quem era quase gémea siamesa era a do presidente do conselho de administração.
Nada a fazer e isto que sirva de lição à sindicalista deslumbrante: eram tempos difíceis, se não fossem tempos tão bizarros, aliás, ela nunca teria sido eleita, onde é que já se viu, uma sindicalista de direita e, ainda por cima, deslumbrante, eram tempos tão conturbados que já não restavam para amostra, sequer, ou para exposição atrás de grades com sinais evocativos para não serem alimentados, sindicalistas com patilhas e fartos bigodes, e assim sendo, a sindicalista deslumbrante acabou o texto, ainda teve tempo para sonhar acordada com uma torre miradouro da antiga fábrica dos sabões que conhecera graças aos delírios do Sá Fernandes, e teve que ir a correr para uma reunião informal e muito tardia com o presidente do conselho de administração, infelizmente, com o cabelo em desalinho e a precisar de uma lavagem urgente, que tinha sido adiada, naquele dia, por motivos imputáveis à botija de gás light da BP, que, alheia à vontade da sindicalista deslumbrante, tinha decidido ir desta para melhor, a meio do duche matinal.
E lá se sentaram, os dois únicos representantes dos trabalhadores que não estavam de férias ou folga, numa mesa redonda, e enquanto ela, com o seu cabelo num estado aceitável para a classe, mas totalmente repreensível para o estatuto de sindicalista deslumbrante, negociava mais quatro mil euros de indemnização para uma trabalhadora a quem tinha saído a lotaria de Natal, com uma rescisão amigável do contrato de trabalho no sapatinho, absorvia, ao mesmo tempo, tudo ao seu redor, procurava sinais de que o presidente do conselho de administração era um ser humano, e para além de anotar tudo numa agenda – o economato continuava trancado para cortar custos –, conseguia também mascar pastilha e encontrou ainda as provas que procurava: lá estava, na prateleira, junto à colecção dos Lucky Lukes, a moldura de acrílico e o retrato dos três filhos do presidente, que, sabe-se lá porquê, lhes confidenciou que a mulher tinha optado por ser mãe a tempo inteiro (e ela suspirou, sem saber se de pena, ou de inveja).
A sindicalista deslumbrante estava nisto, a saborear a sua primeira vitória, afinal o primeiro feriado de Dezembro ainda ia ser pago a dobrar, afinal, tinha valido a pena ficar sem voz durante três dias consecutivos, as mebocaínas, os mini comícios nos fumódromos e nos corredores, a empresa já não impunha, negociava, era bom, quase se esqueceu do cabelo por lavar, de não estar tão deslumbrante quanto seria desejável, quando lhe deu uma crise de urticária.
Era a comichão de trabalhadores.
O monstro não era o presidente do conselho de administração, era triste, mas não era ele, apercebeu-se ela, naquele instante: ele despedira 55 colegas da sindicalista deslumbrante desde Janeiro, ela não sabia e tentava adivinhar como é que ele dormia com isso, mas naquele dia, mais três pessoas tinham assinarado um papel que resumia o seu percurso dos últimos dezoito anos de vida em troca de um cheque, e, nos corredores, os outros, os que ficaram, os eleitos, exigiam pré-avisos de greve apenas porque lhes iam retirar a merda dos pagamento dos feriados a dobrar.
A sindicalista deslumbrante ouviu coisas do arco da velha e era aquelas pessoas que ela representava: despeçam lá quantos quiserem, mas não se atrevam a cortar-me o feriado, ouviu ela, ou, os que foram despedidos estavam mesmo a pedi-las, coisas que nem ela, sindicalista de direita ousara pensar, nos seus delírios neo-liberais. Um departamento inteiro daquela empresa ia ser extinto nos próximos meses e só se ouvia falar de greve por causa do pagamento dos feriados, era tão triste, era a natureza humana, o que é que a sindicalista deslumbrante estava à espera, mas quem é que, afinal, são os monstros?"
Diana Ralha

2006-12-01

SEM ESPINHAS

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COMUNICADO DO SINDICATO DOS JORNALISTAS

"Público" viola direitos dos jornalistas

1. A Administração do jornal "Público" comunicou à Comissão de Trabalhadores que vai deixar de pagar o trabalho suplementar e as compensações por trabalho externo (vulgo pernoitas), e insiste em assediar jornalistas para que abandonem a Empresa.

2. A Administração invoca razões financeiras para negar direitos e para retomar o ataque frontal à dignidade das pessoas.

3. O Sindicato dos Jornalistas repudia o comportamento da Administração da Empresa, espera que a atitude não reflicta a filosofia de gestão da Sonae e torna claro que os seus intentos são de todo ilegítimos.

4. Quanto ao pagamento do trabalho suplementar e das chamadas pernoitas, o SJ esclarece que são garantias integradas nos respectivos contratos individuais de trabalho dos jornalistas, sendo irrelevante saber se a Empresa está ou não obrigada a cumprir o CCT pelo facto de ter deixado de pertencer a qualquer associação patronal.

5. Mas, ainda que assim não fosse, sempre a Empresa teria o dever de cumprir as normas do Código do Trabalho que impõem o pagamento do trabalho suplementar prestado fora do horário de trabalho, em dia de descanso e em dia feriado. Não o fazendo, o "Público" age ilicitamente e entra em processos de concorrência desleal com as empresas que cumprem a Lei.

6. Como medida preventiva, o SJ vai solicitar à Inspecção-Geral do Trabalho que proceda ao levantamento do trabalho suplementar prestado nos próximos feriados.

7. Relativamente a novas abordagens (eufemisticamente apelidadas de "convites") para rescisão de contratos de trabalho, isto é, para novos despedimentos, o SJ insiste em que não podem ser aceites os métodos já usados e que a Empresa persiste em manter.

8. O SJ está disponível para defender os direitos e interesses dos jornalistas e apela à sua unidade, nomeadamente em torno da sua estrutura sindical.

Lisboa, 29 de Novembro de 2006

A Direcção do Sindicato dos Jornalistas