estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2004-10-31

JÚLIO SEBASTIÃO, DAGORDA, JULHO DE 91


Esta foto tem mais de 13 anos e traz-me uma carrada de memórias. O Júlio Sebastião olhava para o meu bloco de notas que eu escrevinhava com o nervosismo de um estagiário. Foi num corte de estradas dos agricultores do Oeste, na Dagorda, perto de Óbidos e já não me lembro quem tirou a fotografia. O Júlio era uma figura. Uma vez ofereceu-me a mim e ao Pedro Cunha duas caixas de pêra rocha. Chamavam-lhe o Che Guevara do Bombarral. Onde quer que estejas Júlio, à tua saúde! A noite mais longa da Dagorda

Memórias da Dagorda, Julho de 91:

Há um filme com Matt Dillon a passar no ecrã a cores da taberna do Eusébio, na Dagorda, perto de Óbidos, onde pela terceira noite consecutiva os agricultores não deixam circular o tráfego automóvel. Em cima da TV, uma ventoinha roda lentamente da esquerda para a direita. Ao fundo, alinham-se garrafas de Macieira e Aguardente velha. A animação na sala da taberna, bem na esquina do cruzamento da Dagorda, gira em torno da velha cabine de madeira onde durante todo o dia de quarta-feira foi possível ver a figura atarracada do carismático Júlio Sebastião a atender chamadas após chamadas.
“Estou? Posto Público da Dagorda, quem fala?” Muitas vezes, na confusão dos inúmeros depoimentos, já não se sabe com quem está a falar. “Quem era?”, perguntam-lhe. “Eh pá, já nem sei, era de um jornal qualquer”. Júlio é visto a falar com a mesma convicção com o gabinete do ministro ou com um jornalista de uma rádio local.
À noite, em círculos bem determinados, longe dos tractores e dos agricultores, habitantes da Dagorda dão largas à sua indignação. “Esse barbas, esse cabecilha que aí anda, ele é o culpado disto tudo...atão há lá direito de não deixarem saír uma camioneta cheia de gasolina. O homem ‘teve aí desde segunda-feira sem poder passar”.
Outro comenta: “há-de valer-lhes de muito. O ministro alguma vez vinha à Dagorda? Primeiro era preciso descobrir onde isto fica no mapa”. O corte de carvalhos e plátanos para barrar a estrada não foi do seu agrado. “Cortaram uma árvore com 200 anos, atão há lá direito? Botavam lá umas pedras...”
Para os habitantes da Dagorda, o bloqueio da estrada representou um corte radical com a rotina diária. “Onde é que começa a guerra?”, perguntava alegremente um grupo de rapazes que passava o enorme carvalho a barrar a estrada do lado de Óbidos.
Alguns agricultores, estirados à porta das casas ou encostados aos tractores, apresentavam cansaço e desânimo. “Estamos saturados e lamentamos a maneira como sempre o governo nos trata nestas coisas”, afirmava um agricultor que pediu o anonimato. “O governo quando entrou para a UE devia ter alertado os agricultores”.
Por volta da meia noite, Júlio Sebastião dirige-se ao microfone do velho peugeot cinzento dos altifalantes e pede ânimo aos agricultores. “Esta noite, vai ser a mais longa da minha vida. A minha voz está a ficar cansada mas espero que ainda dê para amanhã (ontem) nas negociações de Lisboa. Muito obrigado e boa noite a todos”.
Na taberna do senhor Eusébio, que só encerrará lá para as quatro da manhã, o movimento não para. Os proprietários, que já tinham o estabelecimento encerrado desde domingo para gozo de férias, viram-se compelidos a reabri-lo. Os agricultores obrigaram-nos a abrir o café?, perguntamos. “Não”, responde a proprietária, debruçada no parapeito da janela onde lhe pedem constantemente copos de vinho e cervejas. “Só nos disseram: Têm de abrir que a gente está a morrer de sede. A gente abriu.”
Na televisão do estabelecimento, o “24 horas” mostra um mapa de Portugal com os pontos onde as estradas estão cortadas. A sala enche-se, Júlio Sebastião pede silêncio. Há em todos uma alegria mal contida.
Correm rumores, mais uma vez, de que a polícia de intervenção teria sido avistada junto ao cruzamento de Óbidos. Outros contam que nove jeeps da GNR teriam sido vistos a atravessar as Caldas da Rainha. Outros ainda falam em cortar a estrada nacional Lisboa-Porto. Como sempre, estes rumores carecem de confirmação.
“Isto é melhor do que ir ao cinema, pode crer” afirma um bem disposto observador, habitante na povoação, sentado na mesa do canto da taberna.
Os agricultores juntam-se perto dos transístores, para ouvirem as notícias sobre outros cortes de estrada pelo país. “Ouvimos agora que cortaram a estrada em Santo Tirso e em Famalicão”, diz alguém ao microfone. Suados, extenuados, muitas vezes de garrafa na mão, esforçando-se para se manter acordados na terceira noite de bloqueio, alguns agricultores dão largas ao seu descontentamento. “Ao menos que peguem numa metralhadora e matem a gente duma vez. É melhor do que andarem a matar a gente a pouco e pouco”.
Junta-se um grupo de três homens do campo. “É gasóleo, é juros, é o preço que baixa no produtor para subir no consumidor, é uma vergonha”, lamentam. Falam-nos do leite que é vendido a 47,50 pelo produtor e é vendido nas lojas a 140. Queixam-se da fruta que vendem a 35 e é vendida a 150. “Quem lucra? É o agricultor? E isto passa-se no leite, na carne, na fruta”.
Enquanto se esvazia um garrafão de vinho, fala-se dos jovens agricultores. “Um moço que eu conheço”, recorda um lavrador do Bombarral, “com 22 anos, deu-lhe a vergonha e matou-se. Devia 4 ou 5 mil contos à cooperativa, comprou sacas e sacas de batata, o ano correu-lhe mal, matou-se. E como esse já ouvi falar de outros”, afirma um agricultor do Bombarral. “Eu votei PSD mas digo-lhe que assim não vou votar e como eu, os outros quase todos. Estamos desiludidos”
Pelas duas da manhã, vêem-se agricultores adormecidos em cima do volante dos tractores. Outros dormem envoltos em mantas, dentro de automoveis. Júlio Sebastião ausenta-se, “para dormitar”. A madrugada fria cai sobre o cruzamento da Dagorda e a rua esvazia-se.
De manhã, ainda Sebastião não voltou do banho retemperador que foi tomar a casa, um círculo de lavradores, boné na cabeça, braços cruzados, entretem-se a prognosticar o que se vai passar na reunião com o ministro. “Se eles voltam de mãos vazias é que é o diabo”. Mais tarde, um jovial Júlio Sebastião declarava antes de partir para Lisboa “estar muito esperançado de que tudo iria correr bem”. Mal sabia ele, que voltaria mesmo à Dagorda “de mãos vazias”.Posted by Hello

Ivetinha! Um beijo!

É verdade, acabei de regressar do Pavilhão Atlântico e do show da Ivete Sangalo. Melhor momento da noite? Milhares de pessoas a cantar "Se eu não te amasse tanto assim". Oh vozeirão baiano, essa voz vem lá do sertão, de Juazeiro, do Rio São Francisco... Um beijo, Ivetinha, tu sabe que tem um fã aqui nessa estrada perdida de sertão português, tu não sabe? Eu gosto do seu jeito simples, muito povão, muito suor, muito sincero, de todo esse afecto, viu? Gosto de você, do coração!

Se eu não te amasse tanto assim
Ivete Sangalo

Meu coração
Sem direção
Voando só por voar
Sem saber onde chegar
Sonhando em te encontrar
E as estrelas
Que hoje eu descobri
No seu olhar
As estrelas vão me guiar
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez perdesse os sonhos
Dentro de mim
E vivesse na escuridão
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez não visse flores
Por onde eu vi
Dentro do meu coração
Hoje eu seiEu te amei
No vento de um temporal
Mas fui mais
Muito além
Do tempo do vendaval
Dos desejos de um beijo
Que eu jamais provei igual
E as estrelas dão um sinal
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez perdesse os sonhos
Dentro de mim
E vivesse na escuridão
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez não visse flores
Por onde eu vim
Dentro do meu coração


2004-10-29

Roubaram-lhe "Os Lusíadas"...

Vivem-se momentos difíceis no que parecia ser um blog fácil. O famoso blogueiro JPH do Glória Fácil foi roubado. Foram-lhe furtados diversos posts de importância estratégica que se, forem lidos e publicados, podem provocar consequências incalculáveis no panorama político nacional e internacional. O autor dos posts está mesmo convencido que "a estas horas, se calhar, alguém BRILHA na blogosfera com os seus textos". Mas porque é alguém haveria de brilhar com os textos de JPH?!!!! A mim, se me roubassem rascunhos ou "posts", era para o lado que dormia melhor... Ele há cada um... Olha lá, oh Camões, roubaram-te "Os Lusíadas"?

"Outubro 29, 2004
Alerta de roubo
Passei horas e horas sentado num bar, ontem à noite, a rabiscar 'postes' num papelinho. Quando paguei e saí,esqueci-me lá do papelinho. Voltei atrás e já não lá não estava - alguém de uma mesa ao lado o roubou. Fiquei caladinho - não fazia sentido passar revista à sala toda.A estas horas, se calhar, algum(a) escriba brilha na blogosfera com os textos que me surripiou. Espero é que me faça o favor de não ser honesto(a) ao ponto de lhes atribuir a sua verdadeira autoria (a minha). Não eram para publicar. Não podiam ser, nunca - ou pelo menos enquanto eu viver neste país".

Algures entre Pampilhosa da Serra e Cernache do Bonjardim

Os rodados da carrinha das obras onde se lia, na porta da esquerda, “Construções Jorge Silva”, foram enterrando e desenterrando, aos balanços. Joana, habituada à calmaria do balcão do Café “Mangualde” aquela hora, sentia-se a montar um elefante. À medida que o trilho enlameado encurtava, braços de eucaliptos roçavam nas vidraças humedecidas e embaciadas. Na encosta, do outro lado, já havia duas ou três pequenas casas térreas com os pátios alumiados. Joana pudera observar dois vultos a falar num terraço sobre o rio encoberto por uma parreira. Ouviam-se fiapos de risos e gargalhadas e a voz de uma mulher a ralhar com uma criança. De repente, chap, um ramo de eucalipto intrometeu-se na cabina. Joana não conseguiu suster um grito. Por um momento, uma fracção de segundo, parecia que alguém introduzira uma mão à sua frente, um braço na escuridão. Preso ao volante e atento ao caminho, Jorge nem teve tempo para rir. Haviam chegado junto a uma clareira que, varrida pela luz branca dos máximos deixava ver um grosso tronco de eucalipto. Carregou no pedal dos travões, puxou a si o travão de mão e saltou como um gato para o exterior da carrinha.
—Há água aqui em baixo. Vem.
Escutava-se um murmúrio de corrente mesmo ali por baixo e o remoer da folhagem uma contra a outra, atirada assim pelo vento. Regressou à cabine, abriu o compartimento das luvas e retirou a lanterna. Apontou-a na direcção da corrente do rio. Parara de chover. Um céu impenetrável sobre a copa das árvores parecia intimidar Joana, atenta a cada som, pregada ao passo pouco medido do companheiro. Desceram uma espécie de escada escavada na própria terra, os degraus de lama e pequenas pedras derrapando e desfazendo aos poucos como chocolate. Joana escorregou nos últimos dois degraus e aterrou nas costas almofadadas do blusão de Jorge.
— Hei oh, mulher! Segura-te ao meu braço.
O clarão da lanterna descobriu uma ponte em madeira, segura por uns braços de arame e depois uma água tão limpa e transparente que era possível divisar cada pedra, cada seixo e dir-se-ia que aquilo ali à frente era um peixinho expectante, atordoado com a luz da lanterna . Jorge levantou o pulso e a luz esbarrou numa moradia abandonada, um edifício em dois andares, grafitado, sem portas nem janelas. Na divisão que dava para o caminho, havia um monte estranhamente arrumado de folhagem, réstias de uma fogueira, páginas de jornal.
— Eu não quero continuar. Há-de viver ali alguém, sussurrou Joana.
Jorge apontou de novo a lanterna à casa sem vivalma. Uma lagartixa subiu a parede, em diagonal. Seguiu-a até ela desaparecer entre os beirais. Em cima do telhado havia um emaranhado de ervas e silvas. A casa parecia encostada à rocha. Quanto mais apontava para cima, mais fraga ia descobrindo, fraga sobre fraga, pequenos intervalos entre o granito, saliências que podiam esconder pequenas grutas.
Quando passaram finalmente à porta da casa abandonada, Joana receou que a qualquer momento um vulto saltasse à sua frente e gritasse. Imaginou morcegos, aqueles morcegões horrendos dos filmes ou um rato, uma ratazana, gorda e peluda, atravessando-se-lhe aos pés. Nada. Apenas pingos inofensivos e sincopados caíram das goteiras à sua passagem. Entraram então num túnel feito pela folhagem, em direcção ao rumor de água a cair. Por entre as acácias, pareceu-lhe que um solitário mas abençoado pingo de luminosidade derramava sobre a correnteza. Ergueu a cabeça mas tudo o que conseguiu avistar foi a copa tentacular e grandiosa de um eucalipto escurecendo ainda mais a já nebulosa noite à beira rio. Jorge, um braço espetado para trás quase rebocando Joana sobre a terra enlameada, acelerava o passo à medida que o som da água ia parecendo cada vez mais perto. Quase caiu quando a perna bateu sem contemplações num tronco enegrecido e seco atravessado no carreiro. Joana grudou-se-lhe apavorada enquanto esfregava o joelho dorido.
—O que é, o que é?
— É um tronco, merda. Um tronco.
— Oh, graças a Deus. Vamos embora daqui, Jorge. Não gosto deste sítio, vamos voltar para trás.
— A água deve estar muito perto. Ai , foda-se, doi-me o joelho.
— Mais uma razão para sairmos daqui.
— Não, não, anda, vamos.
Um rasgo esbranquiçado numa nuvem entreabriu uma brecha por onde passou incólume um fio de luz branca que embateu no rosto assustado de Joana. “Jorge?” Jorge já estava em cuecas, em cima do cimento da represa, de braços abertos, como um palhaço a agradecer os aplausos do público. Depois, virou-se e splash... Não deve ter estado debaixo de água mais do que dois ou três segundos porque irrompeu como um golfinho, a gritar e a gemer muito, todo a tremelicar. Iniciou então uma série algo desajeitada de pequenas corridas na água. Esbracejava furiosamente numa rudimentar imitação de natação batendo os braços na água com a força de um desesperado até ao rochedo do fundo, soprava como um louco ao alcançar a pedra e regressava, mais depressa e mais atabalhoadamente do que partira. Joana sentou-se em cima do muro. Ao lado, a um metro, parte da represa estava assente apenas em três tábuas de madeira por cima das quais ia caindo a água. Jorge retirou a tábua de cima, saltou aos uivos por cima das restantes duas e colocou-se debaixo da cascata, a urrar. Joana colocou a mão tapando as narinas e a boca enquanto quase soluçava de tanto rir. Foi então que Jorge regressou à represa, num último assomo de coragem, entrou de novo dentro de água e desapareceu. Ela esperou dois, três segundos, dez...e nada.
— Jorge, idiota, deixa-te de brincadeiras, aparece!
Respondendo ao apelo que ressoou entre as paredes de pedra da garganta, um braço fantasmagórico ergueu-se das profundezas, sacudiu-lhe o braço e puxou-a, como a um saco de batatas. Aquilo que lhe pareceu uma imensidão, entre o sufoco e o engasgue, não terão sido mais que uns segundos gelados.
Jorge puxou a si o corpo entre o petrificado, assustado e molhado, sacudiu-lhe os fios escorrendo água dos cabelos, olhou-a muito alucinado, agarrou- lhe o rosto com as duas mãos , os dedos cravados nas maçãs do rosto, e beijou-a, beijou-a até um fluxo sanguíneo lhe irrigar os lábios arroxeados.



Saudades da pop brasileira

"Por Você"
da Banda Barão Vermelho

Por você eu dançaria tango no teto
Eu limparia os trilhos do metrô
Eu iria a pé do Rio a Salvador
Eu aceitaria a vida como ela é
E Viajaria à prazo pro inferno
E Eu tomaria banho gelado no inverno
Por você eu deixaria de beber
Por você eu ficaria rico num mês
Eu dormiria de meia pra virar burguês
Eu mudaria até o meu nome
Eu viveria em greve de fome
Desejaria todo o dia a mesma mulher
Por você, por você
Por você, por você
Por você eu conseguiria até ficar alegre
Pintaria todo o céu de vermelho
Eu teria mais herdeiros que um coelho
Eu aceitaria a vida como ela é
Viajaria à prazo pro inferno
Eu tomaria banho gelado no inverno
Eu mudaria até o meu nome
Eu viveria em greve de fome
Desejaria todo o dia a mesma mulher
Por você, por você
Por você, por você

2004-10-28

Sexo, mentiras e video na TVI

Não satisfeita em procurar censurar os comentários do professor Martelo, a TVI perdeu definitivamente a credibilidade ao ter censurado, ao que apurámos, as cenas de amor, suor e lágrimas de Alexandre Frota e Ana Afonso no palheiro da Quinta das Celebridades. Por amor de Deus, podemos bem passar uns tempos sem os comentários fastidiosos e politiqueiros do professor Martelo e mais a sua livralhada mas censurarem o amor...Há coisa mais linda no mundo?

Futebol no Portugalistão, onde o incrível sempre acontece

Costinha, jogador do FC Porto, neste momento acamado com um traumatismo craniano, não esquecerá tão depressa o golpe de karaté do seu colega de profissão mas aficcionado das artes marciais, Flávio Meireles. Que uma brutalidade daquelas nos relvados seja possível, já é só por si inacreditável. Que o árbitro João Ferreira não a tenha imediatamente punido, é qualquer coisa de inenarrável. Tudo é possível no futebol pouco ortodoxo do Portugalistão! E a novela segue dentro de momentos...

2004-10-26

Just one more

Just One More
de George Jones

Put the Bottle on the table
Let it stay there till I'm not able
To see your face in ev'ry place that I go
I've been sitting here so long
Just remembering that you are gone
Well, one more drink of wine
Then if you're still on my mind
One drink, Just one more, and then another
I'll keep drinking, it won't matter
I'll just remember that I once had her
I don't know why I sit and cry ev'ry day
I've been trying to forget, but I havent stopped it yet
Well, one more drink of wine
Then if you're still on my mind
One drink, just one more, and then another
Put the bottle on the table
Let it stay there till I'm not able
To see your face in ev'ry place that I go
I've been sitting here so long
Just remembering that you are gone
Well, one more drink of wine
Then if you're still on my mind
One drink, just one more, and then another...

2004-10-25

Olegário volta a atacar

Um abraço sentido a todos os benfiquistas que fizeram sentir domingo a sua presença fora e dentro do Estádio José Arcanjo, em Olhão. Um abraço especial para os que, delicadamente, colocaram uma tarja num prédio fronteiro onde se lia "Olegário= Gatuno". O Olhanense venceu 2-1 o Desportivo das Aves apesar do nosso amigo Benquerença ter mandado marcar um penalty considerado duvidoso a favor da equipa do Ave. O árbitro de Leiria lá se despediu do Algarve entre um rol de carrinhas azuis policiais e um aparato de segurança nunca visto no humilde José Arcanjo.

2004-10-24

A drive to Ventura by the coastline

Ventura
de Lucinda Williams (clicar no título para saber coisas sobre a Lucinda)

I think I'm gonna make myself a little something to eat,
Get a can down off the shelf,
maybe a little something sweet.
Haven't spoke to no one,
haven't been in the mood,
Pour some soup, get a spoon, stir it up real good.
Go out with a friend, they know the music might help,
But I can't pretend - I wish I was somewhere else.
I wanna watch the ocean bend,
The edges of the sun,
then I wanna get swallowed up
In an ocean of love.
Put on my coat, go out into the street,
Get a lump in my throat, and look down at my feet.
Take the long way home, so I can ride around,
Put Neil Young on and turn up the sound.
Drive up the coastline, maybe to Ventura,
Watch the waves make signs out on the water.
I wanna watch the ocean bend,
The edges of the sun,
then I wanna get swallowed up
In an ocean of love.
Stand in the shower,
clean this dirty mess,
Give me back my power,
and drown this unholyness.
Lean over the toilet bowl,
and throw up my confession,
Clense my soul, of this hidden obsession.
I wanna watch the ocean bend,
The edges of the sun,
thenI wanna get swallowed up
In an ocean of love.
I wanna watch the ocean bend,
The edges of the sun,
thenI wanna get swallowed up
In an ocean of love.

2004-10-23

A garrafa de vodka e a abóbada celeste

O mar, finalmente. Um manto frio e húmido de nevoeiro cobria o farol, lá ao fundo. Por muito que se esforçasse, premindo o rosto contra o embaciado do vidro, João não via ninguém nas pracetas e ruas calcetadas e bem delineadas de São Pedro de Muel. Sucediam-se moradias quadradas e em caixote, as persianas corridas em jeito de abandono.
No Inverno, cortada pelo bafo húmido da névoa marítima, isolada do mundo pelo pinheiral fantasmagórico que se estende em todas as direcções por quilómetros em redor, S. Pedro de Muel era o seu segredo de polichinelo. Única vivalma, uma ou outra idosa, as costas cobertas por um xaile de malha cerzido nas longas noites invernais, assomando ao lado de uma placa onde se lia "quartos, room, zimmer".
Em São Pedro de Muel, João podia sentar-se durante horas na falésia, uma garrafa de tinto ao lado e adormecer, os fios de espuma nos rochedos, o grito surdo das gaivotas atravessando-lhe o cérebro feito lâmina da navalha. No areal quase virgem que se estendia em direcção à Nazaré, podia caminhar durante horas sem encontrar mais do que um pescador, qual autista, qual sonâmbulo ausente, os cabelos desgrenhados, acasacado de xadrex, os colarinhos do casaco levantados.
Aquele era o tipo de espaço onde o indivíduo se deixava regular pela certeza tranquilizante de que tudo despertaria com o irromper da luz do Sol por cima da linha estabelecida pela copa das árvores e terminaria do outro lado, a mesma fonte de luz afogada nas águas turbulentas do mar de Leiria num abrupto, repentino minuto mágico. Era como apagar um fósforo aceso num copo cheio de água: vuuuuppp...
Aquela era a liberdade que João podia oferecer a si próprio. Esquadrilhava aquelas dunas solitárias até as bandas de Baleal, com uma das suas primeiras compras. Entrara um dia na loja de campismo e apontara para a pequena tenda azulada, que namorara semanas a fio do outro lado da montra. Com esse pedaço insignificante de lona, tinha sido feliz à sua medida. Uma noite, deixara verter uma garrafa de vodka dentro da tenda e para fugir ao cheiro enjoativo do alcool, colocara o saco-cama entre uma reentrância abrigada do vento e descobrira a abóbada celeste pontilhada de estrelas. Durante todos aqueles anos, assoberbado em chegar a tempo ao emprego, perdera o espectáculo da abóbada celeste, um show gratuito e universal, a que todos podiam aceder, ricos, pobres e remediados. Fora preciso verter uma garrafa de vodka dentro da tenda para aceder à fórmula simples da verdadeira felicidade. Nesse dia, acabara a falar com os astros até adormecer e descobrira as suas potencialidades terapêuticas.
A partir daí, a noite nas dunas era o seu pequeno consultório de psiquiatria, onde os fantasmas, as dúvidas, as memórias amargas e por resolver eram confidenciadas às estrelas, sob a cumplicidade dos elementos, o vento assobiando pelas reentrâncias da tenda, as águas do mar entretidas a lamber em ciclos e círculos a superfície das areias.
Ali, pensava, tudo era como sempre deveria ter sido.

Avelino guarda-freio

O relógio da sala de plantões da estação marca 6h e 30 da manhã e Avelino de Sousa, 65 anos, é mais um dos muitos guarda-freios que, de casaco azul, conversam animadamente à espera de pegar nos respectivos carros. Lá fora, sob o frio cortante da manhã de 13 de Fevereiro, filas ordeiras de eléctricos iluminados vão saíndo pelo portão, riscando a escuridão que ainda cobre a cidade a essa hora.
Avelino atravessa o pátio envergando uma grossa samarra, à procura do eléctrico que lhe foi destinado. “Ah, cá está o 403”, exclama. Depois, repete o ritual invariável de todas as manhãs. Prende o “trole” lá em cima e consegue encaixá-lo à primeira.
“Dantes, quando havia um cobrador por carro, era este que se encarregava de colocar o trole e de abrir as agulhas, agora temos de ser nós”, explica, os dois braços puxando o cabo. Depois, mostrando-me as mãos: “a gente pega no trole e ficamos logo com elas sujas. Havia até uma senhora das Avenidas Novas que costumava perguntar porque é que os cobradores da Carris andavam sempre com as mãos tão sujas”.
Acende depois a luz do carro e descobre que lhe falta a cadeira. Lá fora, um colega acaba de saír do eléctrico que lhe foi destinado e anda à procura do mesmo. Não tarda vermos Avelino transportar uma cadeira para dentro do eléctrico. “Agora, precisava aqui de um electricista”. Os faróis tardam a acender e há várias lâmpadas dentro da carruagem que não se acendem. Mas enquanto espera, Avelino não perde tempo. Roda os nomes das carreiras à procura do seu destino dos últimos três anos: Poço do Bispo.
Avelino tem de dar uma volta dentro da estação para poder saír. “Tenho de ir devagar, ontem choveu muito, os carris apanharam areia e soltou-se uma roda.”O frio impiedoso das sete da manhã entra por tudo o que é frecha na carruagem. “Bem pior era quando as portas eram abertas e só tinham umas cancelas de ferro”, comenta Avelino, que começou como guarda freio num dos anos mais frios do século: 1949. “O mais que os passageiros podiam fazer era puxar as cortinas para proteger do vento”.
Já descemos em direcção à Estefânia, ainda o guarda freio recorda o seu primeiro dia de trabalho. “Eu a chegar ao Martim Moniz— a Igreja do Socorro de um lado e o Teatro Apolo do outro— o sinaleiro manda-me avançar e uma senhora atravessa-se à minha frente. Ainda lhe bati com o “salva-vidas” de ferro no carro. Então não é que logo no meu primeiro dia de trabalho o sinaleiro me pede a matrícula? Tive logo de ser rendido para ir à esquadra”.
Descemos já do Alto de São João para Santa Apolónia. O Sol está a nascer lá para a outra banda em tons vivos de laranja que, ao fim de 42 anos de guarda freio, não deixam de maravilhar Avelino de Sousa. “É muito bonito. Nesta altura do ano já descemos esta ladeira a ver o Sol a nascer. Pelo Natal era só às 5 para as 8h00.”Limpa o vidro da frente para melhor apreciar o cenário.
Um velho guarda freio reformado entra na carruagem, o anorax bem apertado e esfregando as mãos. “Uh, ele está uma nortada hoje, hein...está bera.” É a primeira das muitas pessoas que conhecem bem Avelino e o saúdam com simpatia. “Dantes, a companhia não queria que falassemos nem com os próprios colegas para evitar acidentes. Por isso, falava-se pouco com os passageiros. Agora, há um relacionamento maior”, explica Avelino. “Noutro dia, um colega ficou entalado entre dois carros e teve de ficar em casa. As pessoas perguntaram logo por ele”.
O rio volta a aparecer na Calçada da Cruz de Pedra, por entre barcos, guindastes e fileiras de carruagens de comboio. “Ali à frente, às vezes vejo os aviões a prepararem-se para aterrar na Base do Montijo e naquela tasca, o dono cumprimenta-me sempre que está à janela. Nunca ali entrei, não sei o nome dele mas é como se nos conhecessemos há anos”.
Mais uma descida e estamos em Santa Apolónia. “No Verão, chegamos a vender aqui dez e 12 bilhetes a estrangeiros. O problema são as demasias. É só notas de mil e cinco mil. Uma vez, levei um casal espanhol ao Banco mais próximo, deixei-os lá para eles trocarem o dinheiro e disse-lhes onde podiam apanhar outro carro”.
Da janela fronteira do seu eléctrico, Avelino foi assistindo aos acontecimentos e transformações que marcaram a cidade nos últimos 42 anos. “No dia em que veio cá a Rainha Isabel, andava eu a fazer a 17-B, entre o Martim Moniz e o Chile. Trazia uma mala com vinte escudos em tostões que naquele tempo os trocos eram uma dor de cabeça. Pois, esses 20 escudos não deram para duas horas, toda a gente queria ir ver a Rainha à Baixa, gastaram-me tudo”.
De outra vez, ía a passar em frente ao Instituto Superior Técnico quando lhe passa à frente a comitiva do presidente Sukarno, da Indonésia. Mas nada diverte mais Avelino do que recordar os tempos agitados do pós-25 de Abril, quando andava na carreira 22, ali pelos lados de São Bento. “Todos os dias havia uma manifestação em cima da linha. E nós atrás, a assistir ao comício, não podíamos avançar”, conta divertido. “A maioria dos partidos até se acabava por afastar para deixar passar os eléctricos. Mas havia um que fazia questão em nos barrar sempre a passagem: o MRPP”.
Na Estefânia, um táxi não deixa passar o eléctrico 403. As viaturas começam a buzinar impiedosamente. Se há algum carro que obstrua a linha e obrigue o eléctrico a parar, logo os carros que vêem atrás começam a buzinar. “Ao domingo, faz-se esta viagem em 37 minutos mas aos dias da semana gasta-se uma hora”.
Por vezes, também, há viaturas que se atravessam. Entre Xabregas e Marvila, uma carro enfia-se entre o eléctrico que vem em sentido contrário e o 403. “Isto é um serviço de apanhar sustos”, explica Avelino. “Temos de estar sempre com atenção aos carros e não podemos ir muito depressa por causa da humidade nos carris. Se a gente aperta um bocadinho, o carro foge”.
De outras vezes, são carros que estão mal estacionados. Avelino abre a porta e passa devagarinho, sempre a olhar para a viatura. “Já passei por este carro três vezes hoje e ainda não o tiraram daqui”, lamenta Avelino junto a Santa Apolónia.
Há três pontos em que a linha está má e a Carris distribuiu uma ordem de serviço que obriga os guarda freios a andarem mais devagar. O eléctrico geme, a dez à hora. “Atão, isso não dá mais?”, pergunta-lhe divertido um passageiro. Avelino vira-se para trás e acena-lhe com a ordem de serviço. “Já li, já li”, responde o outro, um velho conhecido.
A cidade e os seus pequenos nadas não deixam de atrair Avelino, que à medida que vai descendo as ruas, vai falando de quem conhece na vizinhança e de quem lhe costuma entrar no eléctrico. “Olhe”, avisa-me nos Anjos, “aquele casal, dorme ali todas as noites”. São dois “sem tecto” que acabam de acordar às portas do Tribunal do Trabalho. Mais adiante, recorda o senhor Travassos, que costumava deixar invariávelmente em frente à sua loja da Praça da Figueira.
De vez em quando, há pessoas que o saúdam do passeio. “De facto, aqui de cima podemos ir observando a vida da cidade”, comenta Avelino. Quando uma fila de automoveis nunca mais o deixa passar, na Calçada da Cruz de Pedra, sai da tasca um velho amigo, Manel, ajudante de camionista e sinaleiro nas horas vagas. Imediatamente, manda parar os carros e faz seguir o eléctrico.
A carreira do Poço do Bispo é frequentada por muitos idosos que Avelino ajuda a subir e a descer do carro. “ Aqui de manhã, há muitos velhinhos. Há um que vem todos os dias do Martim Moniz para uma tasca ali em Marvila. É ali que ele tem os amigos”. E, por volta do meio dia, lá está o homem, numa paragem da Rua do Acúcar, a que Avelino chama “a rua mais doce de Lisboa”.
Avelino acaba por compartilhar a solidão de algumas das pessoas que lhe entram pela porta adentro. “Já que não se pode andar mais depressa, serve para entreter um bocadinho”. Uma mulher que mais tarde confessa nunca ter visto, conta-lhe em cinco minutos de viagem como perdeu quatro familiares chegados em quatro meses. Deixa-se ficar, uma mão segurando a cadeira do guarda-freio, obstruindo a porta do eléctrico. “A conversar junto à porta”, resmunga um vendedor de lotaria mal humorado. Mais tarde, um velho ex-empregado do cinema Liz confessa-lhe a amargura de nunca ter tido filhos.
Avelino não esconde a tristeza por actualmente muita gente preterir os eléctricos em favor dos autocarros. “Agora, as pessoas querem é ir o mais depressa possível para o emprego. Dantes, a companhia chegava a pôr cobradores volantes na carreira do Poço do Bispo, tal era a freguesia”. Mas a cinco meses da reforma, o guarda freio 2 mil da Carris sabe que conduz num meio de transporte condenado a ser ultrapassado por outros mais velozes.
Não vai ter saudades, ao fim de 42 anos de avanças e arrecuas pelas ruas de Lisboa? Avelino pensa demoradamente na resposta. “Talvez faça como aquele guarda freio reformado que um dia me entrou no eléctrico e me pediu para eu o deixar guiar só um bocadinho”, responde a brincar.

2004-10-22

Back to work

De regresso ao edifício verde e aquela varanda de ferro forjado junto à qual colocaram um "aquário para os fumadores". Vai ser bom ver as velhas caras de novo, digo-me que sim. "Atão, pá, como é que vai isso?" Vai bem, Lord gave me the strenght to carry on.

Lucinda is blue again

Something About What Happens When We Talk
de Lucinda Williams

If I had my way,
I'd be in your town.
I might not stay, but at least I would have been around
'Cos there's somethin' about what happens when we talk
Somethin' about what happens when we talk
Does this make sense? It doesn't matter anyway.
Is it coincidence?
Or was it meant to be.
'Cos there's something' about what happens when we talk
Somethin' about what happens when we talk.
And conversation with you,
was like a drug.
It wasn't your face so much as it was your words.
'Cos there's somethin' about what happens when we talk.
Somethin' about what happens when we talk.
I can't stick around, I'm goin' back south.
But all I regret now,
Is I never kissed your mouth.
Cos there's somethin' about what happens when we talk.
Somethin' about happens when we talk.

2004-10-21

No avião, de regresso a casa

PC: Mas tu não tinhas ficado de lhe oferecer aquelas duas moças...
RT: (Irritado) Ao Collina, num dá, nem um relógio quis receber da outra bez em que perdemos com o Milon...
PC: E aquele Jorge Costa...parecia um santinho...
RT: tem de sere, é a Europa, fuoda-se...tu pensas que estás aonde, em Marco de Canabezes?
Carolina (surgindo de repente, da traseira do avião): Pinto, filho, queres um buocadinho de champanhe?
PC: Ai que caral...Reinaldo, tira-me essa gaja daqui se não é hoje que eu vou ter de lhe ir ao fuocinho...
RT: Bai-te lá pra trás, anda, faz o que te digo...
Carolina: Mas eu, que fiz eu, dizei-me...
PC: (Retirando os óculos e limpando-os pela centésima vez) Cada bez tenho menos paciência para a aturar. E esta barulheira lá atrás? Quem está a cantar?
RT: (Falando ao ouvido de PC) É o...
PC: Esse filho da puta, já me custou mais de três mil euros com aquela cuspidela em Inglaterra e vem agora pra aqui cantar...ainda por cima, olha-me pra aquilo, parece um fadista, um mouro...Reinaldo, ides lá atrás e dizeides ao Abel para tratar desse imbecil...
RT: (mascando chiclete) Acho que fuoi Deus, carago, tenho essa sensaçon...
PC: De que falaides?
RT: Deus não duorme, carago. Castigou-nos por termos roubado demais na Luz.
PC: (Desembaciando novamente os olhos) Tu estás-me a dizer que Deus me castigou depois do que eu já gastei com ele em São Bento da Porta Aberta?
RT: Carago, tivessemos hoje o Olegário...
PC:Deixa-o estar quietinho que ainda vamos precisar dele mais vezes...
RT: E domingo?
PC: O quê (finalmente sorrindo, de orelha a orelha)? Com o Penafiel? Está tudo tratado há meses...Os nossos não me dão arrelias...aquela gaja é que está cada bez mais insuportábel, oube-me bem aquelas risadinhas lá atrás...
RT: É do champanhe...
PC: Ai que me dá uma taquicardia no abion...
RT: Não boltes a tomar aquela merda do Sexual Power, já sabes que te faz mal...
PC: Nem um penalty...
RT: Sossegaide agora...
PC: (aos gritos) Olegário! Olegário? Onde estás, Olegário?
RT para uma hospedeira: Traz-me um copo de água, bá, rápido, é pra isso que te pagam, ide, rápido!
RT pega num copo e em dois comprimidos amarelos e dá-os a tomar rápidamente a PC, que adormece ao fim de uns minutos.
Carolina vem dos bancos de trás, ajoelha-se junto à coxia e acaricia PC na careca: Oh meu querido, estás a duormir, estás...
RT, de chiclete na boca: A duormir ficas tu se não boltas já lá para trás...Andai, ide-vos daqui sua #%"#!!!


2004-10-20

Observadores internacionais já!

O futebol português está como aquelas eleições na Bielo-Rússia ou no Haiti. Precisa urgentemente de observadores internacionais. Sem mais comentários, deixo esta notícia publicada hoje no Record online:

TREINADOR DO HEERENVEEN CRÍTICO
Gertjan Verbeek: «Penso que o Benfica foi roubado»
O treinador do Heerenveen criticou hoje com firmeza a arbitragem de Olegário Benquerença, considerando que o Benfica "foi roubado" no jogo de domingo com o FC Porto, que ditou a primeira derrota do líder da Superliga.Na conferência de imprensa de antecipação do encontro de amanhã entre o clube holandês e os encarnados, referente à primeira jornada do Grupo G da Taça UEFA (21:15), Gertjan Verbeek não se coibiu de condenar a actuação do juiz leiriense no embate da sexta jornada do campeonato. "Assisti ao jogo com o FC Porto e penso que o Benfica foi roubado, porque marcou um golo que não foi validado", sustentou o técnico holandês, o qual, polémicas à parte, formulou o desejo de presenciar amanhã "um jogo tão bom como o de domingo".Verbeek declarou-se "expectante" por actuar no Estádio da Luz, considerando que, frente ao campeão europeu e bicampeão português "o Benfica foi o verdadeiro vencedor, porque realizou uma excelente segunda parte, durante a qual marcou um golo limpo que o árbitro não validou".

AVISO

Devido às mais recentes polémicas e intervenções públicas de governantes e políticos de variados quadrantes acerca da possível governamentalização dos media portugueses, a administração deste blog sente-se no dever de sossegar os seus leitores:
Nunca, em situação alguma, o Estradas Perdidas permitirá intervenções de quem quer que seja. Acreditamos na liberdade de expressão e nas virtudes da democracia na comunicação social. A única excepção será feita, no Estradas Perdidas, ao Sport Lisboa e Benfica. É sagrado, é o maior e não se discute.
Nunca, em situação alguma, o Estradas Perdidas cederá a lobbies por mais poderosos que eles sejam. Pessoas como Morais Sarmento ou Paes do Amaral ficam terminantemente avisadas de que, connosco, não terão campo de manobra. O Estradas Perdidas não é a RTP nem apresenta qualquer semelhança com a Quinta das Celebridades. Somos rigorosamente independentes (ver excepção anteriormente referida).
Ciente do papel fundamental e de referência que representa para quem o lê, o Estradas Perdidas não podia ficar indiferente às tentativas pouco subtis de controlo da comunicação social portuguesa. A nós, não nos intimidam. Também não nos lêem mas isso é outra conversa.
Viva o Estradas Perdidas!
Viva o Sport Lisboa e Benfica!
Abaixo o governo fantoche de Santana Lopes!
Abaixo Pinto da Costa, Carolina Salgado, Reinaldo Teles e o Guarda Abel (só nos faltava o regresso do guarda Abel...)

2004-10-19

FC PORTO desfalcado em Paris

O FC do PORTO partiu hoje para Paris com muita confiança num bom resultado perante o desmotivado Paris Saint Germain, apesar de não poder contar com Olegário Benquerença. "O facto de ter contribuído de forma decisiva para a nossa vitória no Estádio da Luz não significa necessáriamente que viesse a ser titular em Paris. Até porque, como sabem, no estrangeiro ainda só nos é permitido jogar com 11 jogadores. Ficou em Portugal mas ele sabe que o Porto e a sua massa associativa não o esquecerá tão depressa", explicou um dirigente portista, à partida do Aeroporto da Invicta.

Bartender Blues

Bartender Blues
composta por James Taylor mas ninguém a canta melhor que o velho George Jones

I´m just a bartender
And I don´t like my work
But I don´t mind the money at all
I see lots of sad faces
And lots of bsd cases of
Folks with their backs to the wall
But I need four walls around me
To hold my life
To keep me from going astray
And a honky-tonk angel
To hold me tight
To keep me from slipping away
I can light up your smokes
I can laugh at your jokes
I can watch you fall down on your knees
I can close down this bar
I can gas up my car
I can pack up and mail in the key
But I need four walls around me
To hold my life
To keep me from going astray
And a honky-tonk angel
To hold me tight
To keep me from slipping away
Now the smoke fills the air
In this honky-tonk bar
And I´m thinking ´bout
Where I´d rather be
But I burned all my bridges
I sank all ships and
I´m stranded at the edge of the sea
But I need four walls around me
To hold my life
To keep me from going astray
And a honky-tonk angel
To hold me tight
To keep me from slipping away

2004-10-18

O Ataíde

Desde que o Ataíde morreu que o Claudino deixou de servir copos de vinho. "Não, já não sirvo disso desde que o Ataíde morreu, desde que o mataram ou se matou, sei lá..." No dia em que o Ataíde foi atropelado, espreitei pela vidraça e pressenti que tinha chegado a hora. Era já noite, havia luzes de uma ambulância a faiscar de encontro às paredes da tasca do galego. Um mole de gente, os do costume, o Fernando do "Remo", o Jorge, o próprio galego a justificar-se que se limitara a servir-lhe mais um copo e o corpo mirrado e miserável do Ataíde esborrachado no asfalto. Coitado do Ataíde. "Eu dizia-lhe para ele comer qualquer coisa, um pão, qualquer coisa mas ele só queria vinho, só queria vinho", justificava o galego, esfregando as mãos no avental como a escorraçar o sentimento de culpa. Lembro-me do Ataíde, pequenino, velho, entre a careca e o cabelo branco, os lábios encortiçados, a andar vagarosamente, vergado para a frente, puxando o cão sarnento por um cordel. Lembro quando o Ataíde ofereceu uns rebuçados ao meu filho mais novo e ele desconfiado: "E se têm droga?" O Ataíde, no seu jeito periclitante de maquineta enferrujada a desfazer-se, era uma figura da Avenida do Mar. Quando o Claudino lhe servia relutante um copo de vinho, o Ataíde dizia: "Se tenho que morrer, morro assim, aos bocadinhos..." E nós a vê-lo morrer, devagarinho, até ao dia, até ao novo atropelamento. Naquela noite, o andar trôpego do Ataíde cruzou na meia escuridão da passadeira em frente à tasca do galego com a brutalidade de um reboque que o espetou a metros de distância. "Não o vi, vi lá o homenzinho", explicava o jovem condutor do reboque. Não era um homenzinho, meu animal, era o Ataíde, apetecia gritar. A última vez que o vi jazia inerte, de borco, o rosto colado ao alcatrão, uma pequena poça de sangue ao lado. Hoje o Claudino não serve mais vinho a ninguém, em homenagem ao Ataíde, o que foi morrendo aos bocadinhos, à nossa frente, todos os dias, um cão rafeiro e esquálido mas fiel seguindo-lhe os passos.

Bartender

Bartender
de Dave Mathews
(gentilmente oferecida pelo Jorge Pombo)
If I go before I’m old
Oh brother of mine please don’t forget me
if I goBartender please, fill my glass for me
With the wine you gave Jesus that set him free, after three days in the ground
Oh and if I die before my time
Oh sweet sister of mine please don’t regret me if I go
Bartender please, fill my glass for me
With the wine you gave Jesus that set him free after three days in the ground
Bartender please, fill my glass for me
With the wine you gave Jesus that set him free after three days in the ground
I’m on bended knee I pray Bartender please
Oh when I was young I didn’t think about it,
But now I can’t get it out of my mind
I’m on bended knee please father please
Oh if all this gold, should steal my soul away
Oh dear mother of mine, please redirect me if this gold
Bartender you see, this wine that’s drinking me
Came from the vine that strung Judas from the devil’s tree roots
Deep deep in the ground
Bartender you see, this wine that’s drinking me
Came from the vine that strung Judas from the devil’s tree roots
Deep deep in the groundI’m on bended knee
I pray Bartender pleaseI’m on bended knee please mama please
Oh when I was young I didn’t think about it,
But now I just want to run and hide
I’m on bended knee
Bartender please

Futebol no Portugalistão

Duas das três equipas mais importantes do Portugalistão encontraram-se domingo no Estádio de uma delas. A namorada do presidente do clube visitante não gostou de não ser convidada para a tribuna presidencial e foi para a bancada da sua claque com um cartaz muito giro onde se lia "orelhas estou aqui". A senhora referia-se ao presidente do outro clube. O clube da casa reservou mil lugares para os esperados dois mil bem comportados visitantes. Enquanto estes gritavam "queremos ver Lisboa a arder" e a namorada do presidente visitante, guardada por um simpático "capanga", erguia outro cartaz onde se lia "mais vale morto que vermelho", o namorado e presidente visitante não queria deixar que o jogo começasse porque os seus adeptos estavam que nem sardinha em lata. Eram para ter vindo dois mil, vieram quatro mil. O jogo lá começou, os visitantes marcaram um golaço com a ajuda dos da casa, jogaram tão maravilhosamente que não conseguiram marcar mais nenhum golo e lá se foi para o segundo tempo no estádio da capital do Portugalistão. O jogo maravilhoso dos visitantes desapareceu, dois jogadores travaram-se de razões e foram expulsos, um jogador grego dos visitantes agarrou um jogador norueguês na grande área e continuou a jogar como se nada fosse e por ali continuaram todos, cada vez mais nervosos. Depois, um jogador dos visitantes meteu a mão na bola na grande área e toca a jogar, que no ano passado foram campeões europeus e merecem o benefício da dúvida. Finalmente, cansado de sofrer, um jogador visitado decidiu que já era demais, que tanta ajuda para os visitantes já cansava e resolveu rematar, um daqueles remates que queimam qualquer mãozinha impreparada. Rematou, o melhor guarda-redes do mundo lá se atirou à bola, a bola passa-lhe por cima, entra na baliza, ele sacode-a para fora, diz com a mão que não houve nada, o árbitro e o fiscal de linha compreendem, afinal o homem é o melhor guarda-redes do mundo, que diabo... Resultado: ganharam os namorados, aquele senhor presidente dos visitantes que acabou o jogo a dizer adeus à bem educada namorada, todo contente, pois claro, ganhar é ganhar...e a namorada que acha que "mais vale morto que vermelho". Fazem um belo par de jarras e, acreditem, são eles que mandam no futebol do Portugalistão. Com eles, bola que entra não entra! E esta, hein...?

P.S. O Portugalistão fica algures na Europa mas é mais ficção que realidade.

2004-10-14

telefonemas e e-mails

Há aquela canção que diz "Nobody Knows you when you're down and out" mas a verdade é que tenho recebido suficientes telefonemas e e-mails para me considerar um privilegiado. Agradeço a todos, do coração e que Deus vos proteja como me tem protegido a mim. Obrigado Anabela, Inês, Pedro Caldeira, Fernanda, Sebastião, pelas mensagens, um abraço extensivo a todos os outros aí na redacção. Continuo a guardar as ondas da Caparica e a medir-lhes cada curvatura e cada inclinação mas por pouco mais tempo. Keep on the sunny side of LIFE.