2004-06-26
A perspectiva de poder vir a ter Santana Lopes como palhaço-mor, perdão, primeiro-ministro imposto e não votado nas urnas, transforma definitivamente Portugal como a tenda de circo da União Europeia. Não há-de o povo preferir o futebol? Grotesco, rasca, foleiro, o espectáculo visto ultimamente nas ruas? Olhem para cima, para os anéis do poder...
A incrível noite de quinta-feira
A rua, de repente, parecia um estádio e aquele bruá arrasador vindo, primeiro de dentro das casas e só depois das varandas, foi qualquer coisa de arrepiante. De onde saíu este povo? São estes os mesmos portugueses que temos visto tristes e deprimidos resignar-se com a classe política-essa sim absolutamente deprimente-, com a economia, com a (in)justiça nacional? Bastou um guarda-redes defender um penalty com as mãos sem luvas e marcar outro com uma coragem desafiadora que nos falta a todos há muito. O resto foi aquele sopro sonoro, aquele bafo ruidoso vindo da rua, do asfalto, das varandas, das panelas, dos tachos. Já assistira ao mesmo num lotado Estádio da Luz mas nunca o vira assim, uma rua, ruas inteiras, bairros inteiros levantarem-se em euforia telúrica, uma onda colectiva de festejo irreprimível.
Quando à 1h30 da manhã fui a pé até à Praça de Espanha à procura de um táxi que me levasse à Caparica, tinha na retina e no cérebro colada a loucura daquela quente noite de Junho. Vi a Avenida da Liberdade cheia de gente pulando de alegria como há muito não via, ouvi o tam tam das mãos negras e brancas a batucar nos caixotes do lixo no Rossio. Estive lá. Eu e a minha bandeirinha portuguesa. É um privilégio. Vi o povo feliz e pulei de alegria juntamente com checos, suecos, franceses, gregos e...ingleses que depois das lágrimas, se juntaram à festa, consolados por raparigas de cabelo escuro que lhes perguntavam: "és inglês?"
Quando à 1h30 da manhã fui a pé até à Praça de Espanha à procura de um táxi que me levasse à Caparica, tinha na retina e no cérebro colada a loucura daquela quente noite de Junho. Vi a Avenida da Liberdade cheia de gente pulando de alegria como há muito não via, ouvi o tam tam das mãos negras e brancas a batucar nos caixotes do lixo no Rossio. Estive lá. Eu e a minha bandeirinha portuguesa. É um privilégio. Vi o povo feliz e pulei de alegria juntamente com checos, suecos, franceses, gregos e...ingleses que depois das lágrimas, se juntaram à festa, consolados por raparigas de cabelo escuro que lhes perguntavam: "és inglês?"
2004-06-22
LORETTA LYNN E O MEU DISCO PREFERIDO DE 2004 (so far...)
Finalmente, chegou a Portugal "Van Lear Rose" o disco do big comeback da Loretta Lynn. É complicado dizer o que funciona melhor no álbum: A sensação de ouvir de novo uma das vozes mais honestas, francas e puras da country, fresca como a água da nascente aos 70 anos de idade? O facto de pela primeira vez Loretta Lynn gravar 13 temas originais e todos com a força de uma jovem de 25 anos? O facto da produção de Jack White dos White Stripes conseguir, em poucos dias, pouquíssimos takes e numa sala velha de uma casa de East Nahsville recuperar a essência do velho som country? A quase perfeição com que Jack, um fã apaixonado pela ídolo de sempre, a leva a percorrer outros caminhos, seja no dueto rocker “Portland Oregon” ou no que poderíamos chamar “dub” country de “Little Red Shoes”?
Se exceptuarmos a letra demasiado fundamentalista de “God makes no mistakes”, podemos dizer que “Van Lear Rose” é um disco quase perfeito, da balada autobiográfica de “Van Lear Rose”, dedicada à mãe de Loretta à confissão final de “Story of my life”. Loretta Lynn consegue fazer o que sempre fez- falar das saudades do marido, das amantes, da vida nas montanhas, da mãe, do orgulho na vida que escolheu- ajudada pelos arranjos de Jack White. Em “Van lear rose” é a pedal steel que chora em fundo enquanto Loretta canta ao ritmo da batida. Em “Portland Oregon”, são os teclados e a percussão que fazem um intro magnífico para depois a bateria se calar, entrarem duas guitarras e recomeçar a bateria até ao clímax à Led Zepellin. Quando pensamos que nada mais é possível, surge o melhor, o diálogo das vozes de Loretta e Jack e a canção começa, finalmente: “well Portland Oregon and sloe gin fizz...” Por seu lado, “Trouble on the line” é um daqueles temas tão country, na pureza dos queixumes da mulher que diz ao marido que já não conseguem comunicar, que se ouve a voz de Loretta sobre um fundo de slide guitar e fica-se com pena genuína. “Family tree” é uma balada no estilo do que Loretta fazia nos anos 60 (a velha história da amante), valorizadíssima pelo violino bluegrass de Dirk Powell. “Have Mercy” é o rock’n roll que Elvis Presley nunca gravou. O bluegrass “High on mountain top” é pura alegria da simplicidade da vida numa cabana no topo do mundo, com um violino e um banjo por companhia. “Little Red Shoes” é um dub country em que Loretta vai contando a vida na pobreza do Kentucky dos anos 30 do século passado, sem dinheiro para comprar sapatos, sob o fundo da guitarra rítmica, da steel e da percussão, tudo muito, muito hipnótico. “God makes no mistakes” é a tal balada folk/ country cuja letra custa um pouco a aceitar no seu fundamentalismo cristão. “Women’s prison” parece uma balada de Johnny Cash produzida por Rick Rubin mas no feminino, a autora a confessar ter morto o marido infiel. “This old house” é uma balada country tradicional que vai subindo num crescendo de memórias e num crescendo musical. Jack escolheu uma slide hawaiana e uma batida guerreira para o intro do hilbilly rock imparável “Mrs.Leroy Brown” e até lá coloca um piano à Jerry Lee Lewis em fundo. “Miss Being Mrs” é a saudade em estado puro. Dedicada a “Doo”, cantada apenas com acompanhamento da guitarra acústica de Jack White é, no mínimo, de uma nostalgia cortante (quem puder, não deveria perder o vídeo em www.cmt.com). Por fim, “Story of my life” é a súmula de tudo, o balanço final num honky tonk delicioso.
Se exceptuarmos a letra demasiado fundamentalista de “God makes no mistakes”, podemos dizer que “Van Lear Rose” é um disco quase perfeito, da balada autobiográfica de “Van Lear Rose”, dedicada à mãe de Loretta à confissão final de “Story of my life”. Loretta Lynn consegue fazer o que sempre fez- falar das saudades do marido, das amantes, da vida nas montanhas, da mãe, do orgulho na vida que escolheu- ajudada pelos arranjos de Jack White. Em “Van lear rose” é a pedal steel que chora em fundo enquanto Loretta canta ao ritmo da batida. Em “Portland Oregon”, são os teclados e a percussão que fazem um intro magnífico para depois a bateria se calar, entrarem duas guitarras e recomeçar a bateria até ao clímax à Led Zepellin. Quando pensamos que nada mais é possível, surge o melhor, o diálogo das vozes de Loretta e Jack e a canção começa, finalmente: “well Portland Oregon and sloe gin fizz...” Por seu lado, “Trouble on the line” é um daqueles temas tão country, na pureza dos queixumes da mulher que diz ao marido que já não conseguem comunicar, que se ouve a voz de Loretta sobre um fundo de slide guitar e fica-se com pena genuína. “Family tree” é uma balada no estilo do que Loretta fazia nos anos 60 (a velha história da amante), valorizadíssima pelo violino bluegrass de Dirk Powell. “Have Mercy” é o rock’n roll que Elvis Presley nunca gravou. O bluegrass “High on mountain top” é pura alegria da simplicidade da vida numa cabana no topo do mundo, com um violino e um banjo por companhia. “Little Red Shoes” é um dub country em que Loretta vai contando a vida na pobreza do Kentucky dos anos 30 do século passado, sem dinheiro para comprar sapatos, sob o fundo da guitarra rítmica, da steel e da percussão, tudo muito, muito hipnótico. “God makes no mistakes” é a tal balada folk/ country cuja letra custa um pouco a aceitar no seu fundamentalismo cristão. “Women’s prison” parece uma balada de Johnny Cash produzida por Rick Rubin mas no feminino, a autora a confessar ter morto o marido infiel. “This old house” é uma balada country tradicional que vai subindo num crescendo de memórias e num crescendo musical. Jack escolheu uma slide hawaiana e uma batida guerreira para o intro do hilbilly rock imparável “Mrs.Leroy Brown” e até lá coloca um piano à Jerry Lee Lewis em fundo. “Miss Being Mrs” é a saudade em estado puro. Dedicada a “Doo”, cantada apenas com acompanhamento da guitarra acústica de Jack White é, no mínimo, de uma nostalgia cortante (quem puder, não deveria perder o vídeo em www.cmt.com). Por fim, “Story of my life” é a súmula de tudo, o balanço final num honky tonk delicioso.
Festejos
"Eeeeeeehhhh, somos os maiores!" Deixa-me apertar bem a buzina. "Iauuuuu, viva Portugal, pooortugal, Pooortugal! E quem não salta é espanhol, olé, olé! E salta Figo e salta Figo, olé, olé!" Ao meu lado, está um tipo com cara de quem já bebeu meia grade de cervejas e duas amarguinhas. "Vieste festejar porquê? Viste os outros, não é e juntaste-te a este processo processual de massas, não é? No fundo, tu não te estás sentir verdadeiramente feliz, queres sentir-te português", grito-lhe ao ouvido. "Ya", responde, "não percebi nada do que disseste mas tens razão, somos os maiores, bebe da minha cerveja que eu tenho de ir ali até aos arbustos mijar..."
Simuladores
Depois desse gigantesco fenómeno de massas e simulação colectiva que foram os festejos do pós Portugal-Espanha (ver análise de EPC no texto anterior), recolhemos alguns depoimentos de seres humanos, perdão, simuladores:
O cirurgião Eduardo Barroso no jornal "A Bola" : Senti esta vitória como qualquer cidadão, talvez com mais consciência do perigo do enfarte de miocárdio. Exultei com a exibição e hoje, no hospital, constatei que os meus doentes estavam muito melhores. Aquela vitória fez-lhes muito bem. Os meus doentes agradecem à selecção".
Humm...não estariam os doentes de Eduardo Barroso a simular essa felicidade? Um começa a gritar da cama 4, sala 2 "Viva Portugal" e quando damos por ela está a cirurgia I em peso aos vivas. Além de que, vivendo os pacientes e acamados um processo doloroso de prostração e resignação perante a doença, sejam mais vulneráveis à facilidade do festejo. Festejam porque lhes alivia as dores e os outros, nas camas ao lado, sentem-se estimulados a simular a alegria e a festejar também porque, no fundo, querem ser todos não doentes, querem ser todos gente sadia...
O poeta Manuel Alegre, esse, fartou-se de simular. Eis o que relatou ao jornal "A Bola": Vi o jogo no estádio. Com muita intensidade. Em festa e sofrimento. Angústia antes do jogo, festa no golo, sofrimento até final e de novo festa no fim. Vivi um dos momentos mais felizes da minha vida (...) O povo tem direito à alegria. E porque não ser o futebol a dar-lhe a oportunidade de exercer esse direito? (...)"
Humm...o poeta é um fingidor...finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente...
O cirurgião Eduardo Barroso no jornal "A Bola" : Senti esta vitória como qualquer cidadão, talvez com mais consciência do perigo do enfarte de miocárdio. Exultei com a exibição e hoje, no hospital, constatei que os meus doentes estavam muito melhores. Aquela vitória fez-lhes muito bem. Os meus doentes agradecem à selecção".
Humm...não estariam os doentes de Eduardo Barroso a simular essa felicidade? Um começa a gritar da cama 4, sala 2 "Viva Portugal" e quando damos por ela está a cirurgia I em peso aos vivas. Além de que, vivendo os pacientes e acamados um processo doloroso de prostração e resignação perante a doença, sejam mais vulneráveis à facilidade do festejo. Festejam porque lhes alivia as dores e os outros, nas camas ao lado, sentem-se estimulados a simular a alegria e a festejar também porque, no fundo, querem ser todos não doentes, querem ser todos gente sadia...
O poeta Manuel Alegre, esse, fartou-se de simular. Eis o que relatou ao jornal "A Bola": Vi o jogo no estádio. Com muita intensidade. Em festa e sofrimento. Angústia antes do jogo, festa no golo, sofrimento até final e de novo festa no fim. Vivi um dos momentos mais felizes da minha vida (...) O povo tem direito à alegria. E porque não ser o futebol a dar-lhe a oportunidade de exercer esse direito? (...)"
Humm...o poeta é um fingidor...finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente...
A gigantesca simulação
A onda de alegria que varreu o país continua a merecer os mais díspares comentários. Equipado à distância, na sua varanda, com um telescópio que lhe permite observar os humanos lá em baixo a buzinar, a arrotar e a dizer "foda-se, caralho, somos os maiores", EPC senta-se no banquinho, abre o bloco de notas e escreve: "quanto mais as pessoas se entusiasmam, mais existem pessoas a sentirem-se entusiasmadas. Donde, estamos perante um processo em que tanto mais se produz quanto o facto de se produzir se reflecte no sentido de uma reprodução alargada". Humm...faz sentido...mas ainda não acabou. "(...) todos os outros , se não se sentirem mobilizados pelo processo, sentem que estão a ser marginalizados, que não são bons portugueses, que não têm um comportamento saudável como seres humanos". Donde, o fenómeno de massas dos festejos do pós- Portugal-Espanha seja comparável ao dos festejos do 25 de Abril, do primeiro 1º de Maio ou ao Maio de 68. Se aquele jovem rebelde está a atirar um cocktail molotov contra o polícia francês símbolo do reaccionarismo do sistema, porque é que eu também não me vou juntar a ele? Se aquele grupo agita bandeiras vermelhas e canta a liberdade, porque é que eu, peixeira que até há uns dias atrás dava vivas ao Américo Tomaz, não vou dar vivas à democracia? Olha que está bem pensado...
Mas EPC deixa-nos- deixa sempre- com que pensar: "Ora isso conduz a que simulem esse entusiasmo e, a dada altura, a simulação torna-se tão específica que é mais verdadeira do que a realidade".
Dá até para tecer uma conclusão interessante para um benfiquista ferrenho como eu: os festejos da vitória do FC Porto na Invicta só tiveram aquela dimensão porque muitos não quiseram ser discriminados e fizeram-se passar, simularam ser portistas...
Prontos, está mais que visto, que do Minho ao Algarve, tudo não passou de uma gigantesca simulação de massas. De qualquer forma, foi uma simulação bonita. É provável que se Portugal ganhar à Inglaterra possamos assistir a mais um desencadear processual desse mecanismo de massas que podemos apelidar e bem de simulação massificada. Ele há cada uma, hein...
Mas EPC deixa-nos- deixa sempre- com que pensar: "Ora isso conduz a que simulem esse entusiasmo e, a dada altura, a simulação torna-se tão específica que é mais verdadeira do que a realidade".
Dá até para tecer uma conclusão interessante para um benfiquista ferrenho como eu: os festejos da vitória do FC Porto na Invicta só tiveram aquela dimensão porque muitos não quiseram ser discriminados e fizeram-se passar, simularam ser portistas...
Prontos, está mais que visto, que do Minho ao Algarve, tudo não passou de uma gigantesca simulação de massas. De qualquer forma, foi uma simulação bonita. É provável que se Portugal ganhar à Inglaterra possamos assistir a mais um desencadear processual desse mecanismo de massas que podemos apelidar e bem de simulação massificada. Ele há cada uma, hein...
2004-06-21
What a wonderful world
Portugal 1- Espanha-0
What a wonderful world
(George Weiss / Bob Thiele)
I see trees of green, red roses too
I see them bloom for me and you
And I think to myself, what a wonderful world
I see skies of blue and clouds of white
The bright blessed day, the dark sacred night
And I think to myself, what a wonderful world
The colours of the rainbow, so pretty in the sky
Are also on the faces of people going by
I see friends shakin' hands, sayin' "How do you do?"
They're really saying "I love you"
I hear babies cryin', I watch them grow
They'll learn much more than I'll ever know
And I think to myself, what a wonderful world
Yes, I think to myself, what a wonderful world
Oh yeah
What a wonderful world
(George Weiss / Bob Thiele)
I see trees of green, red roses too
I see them bloom for me and you
And I think to myself, what a wonderful world
I see skies of blue and clouds of white
The bright blessed day, the dark sacred night
And I think to myself, what a wonderful world
The colours of the rainbow, so pretty in the sky
Are also on the faces of people going by
I see friends shakin' hands, sayin' "How do you do?"
They're really saying "I love you"
I hear babies cryin', I watch them grow
They'll learn much more than I'll ever know
And I think to myself, what a wonderful world
Yes, I think to myself, what a wonderful world
Oh yeah
2004-06-20
Portugal-Espanha
Daqui a menos de duas horas joga-se o Portugal-Espanha. Mas que beleza, é mais uma partida de futebol. Se ganhar, vou pular, se perder vou chorar mas vou continuar a comer calamares e a picar tapas e a ouvir flamenco, siempre!
É Uma Partida De Futebol
dos Skank
Bola na trave não altera o placar
Bola na área sem ninguém pra cabecear
Bola na rede pra fazer o gol
Quem não sonhou Em ser um jogador de futebol?
A bandeira no estádio é um estandarte
A flâmula pendurada na parede do quarto
O distintivo na camisa do uniforme
Que coisa linda é uma partida de futebol
Posso morrer pelo meu time
Se ele perder, que dor, imenso crime
Eu posso chorar se ele não ganhar
Mas se ele ganha não adianta
Não há garganta que não pare de berrar
A chuteira veste o pé descalço
O tapete da realeza é verde
Olhando pra bola eu vejo o Sol
Está rolando agora é uma partida de futebol
O meio campo é o lugar dos craques
Que vão levando o time todo pro ataque
O centroavante, o mais importante
Que emocionante é uma partida de futebol
O meu goleiro é um homem de elástico
Os dois zagueiros têm a chave do cadeado
Os laterais fecham a defesa
Mas que beleza é uma partida de futebol
É Uma Partida De Futebol
dos Skank
Bola na trave não altera o placar
Bola na área sem ninguém pra cabecear
Bola na rede pra fazer o gol
Quem não sonhou Em ser um jogador de futebol?
A bandeira no estádio é um estandarte
A flâmula pendurada na parede do quarto
O distintivo na camisa do uniforme
Que coisa linda é uma partida de futebol
Posso morrer pelo meu time
Se ele perder, que dor, imenso crime
Eu posso chorar se ele não ganhar
Mas se ele ganha não adianta
Não há garganta que não pare de berrar
A chuteira veste o pé descalço
O tapete da realeza é verde
Olhando pra bola eu vejo o Sol
Está rolando agora é uma partida de futebol
O meio campo é o lugar dos craques
Que vão levando o time todo pro ataque
O centroavante, o mais importante
Que emocionante é uma partida de futebol
O meu goleiro é um homem de elástico
Os dois zagueiros têm a chave do cadeado
Os laterais fecham a defesa
Mas que beleza é uma partida de futebol
"Eu não fiz nada"
Não vou falar com a mãe, nem pensar. E o pai, será aquele homem grande e negro a chorar sentado em cima da cama? E toda aquela gente? Serão primos, amigos, tios, vizinhos? A porta daquele rés-do-chão da Damaia está escancarada, toda a gente pode entrar e saír.Um coro, uma ladainha sai porta fora e agride mais do que um velório normal. Uma jovem negra- seria a namorada do Teti?- chora a morte do rapaz como só os africanos, aos pulos, os braços no ar, numa espécie de transe que me obriga a encolher junto à escada do prédio. Apelo ao pudor que me resta e explico que não entro, que gostaria que alguém viesse falar comigo ao corredor. Mas mesmo ali, é difícil encontrar um equilíbrio. Uma cabo-verdeana forte e zangada discute com outra. "Não mata, polícia não tem de matar, tinha de meter o rapaz no colégio!" A grande e gorda não gosta: "Mas qual colégio, ele não fez nada, ele não fez nada e mataram ele como um cão!" Surge Agostinha, a tia, uma mulher calma, demasiado calma. "Bateram nele, bateram com a cabeça na parede, soco, pontapé, levaram ele para Monsanto, deram -lhe uma sova no mato". Só falta dizer: Meu amigo, esse rapaz já tinha destino traçado, nasceu negro, morre negro. "Ele só dizia, eu não fiz nada, eu não fiz nada..."
A polícia já anunciou um inquérito ao que se passou na esquadra da Reboleira, para onde "Teti" foi levado quarta-feira à noite. Mas...a sova não foi dada à frente de todos, em frente ao Centro Social do Bairro 6 de Maio? E o inquérito ao que se terá passado na mata de Monsanto? Meu amigo, nasce black, morre black, não tem como fugir, teu destino em terra de branco estava traçado...
A polícia já anunciou um inquérito ao que se passou na esquadra da Reboleira, para onde "Teti" foi levado quarta-feira à noite. Mas...a sova não foi dada à frente de todos, em frente ao Centro Social do Bairro 6 de Maio? E o inquérito ao que se terá passado na mata de Monsanto? Meu amigo, nasce black, morre black, não tem como fugir, teu destino em terra de branco estava traçado...
Isto é uma bola de neve!
Citado de novo e desta vez pelo blog Glória Fácil!
Não, não citamos a Bíblia, mas citamos o Estradas Perdidas
Isto de andar afastada das lides bloguísticas dá nisto: só hoje descobri que o Nuno Ferreira tem um blogue (desculpa Nuno) e que é uma delícia ler o que ele escreve.
# posted by mjo @ 19:54
Gente, muito obrigado, do fundo do coração, tá? Um grande abraço aí para a galera do Glória Fácil, toda a equipa de produção, toda essa gente maravilhosa que faz com que o Glória Fácil seja hoje um blog muito querido aqui em Portugal e em todo o mundo lusófono! A sério, pessoal, um abraço e um beijinho...
Não, não citamos a Bíblia, mas citamos o Estradas Perdidas
Isto de andar afastada das lides bloguísticas dá nisto: só hoje descobri que o Nuno Ferreira tem um blogue (desculpa Nuno) e que é uma delícia ler o que ele escreve.
# posted by mjo @ 19:54
Gente, muito obrigado, do fundo do coração, tá? Um grande abraço aí para a galera do Glória Fácil, toda a equipa de produção, toda essa gente maravilhosa que faz com que o Glória Fácil seja hoje um blog muito querido aqui em Portugal e em todo o mundo lusófono! A sério, pessoal, um abraço e um beijinho...
2004-06-18
Canção do dia
Out In The Street
de Bruce Springsteen
Put on your best dress baby
And darlin', fix your hair up right
Cause there's a party, honey
Way down beneath the neon lights
All day you've been working that hard line
Now tonight you're gonna have a good time
I work five days a week girl
Loading crates down on the dock
I take my hard earned money
And meet my girl down on the block
And Monday when the foreman calls time
I've already got Friday on my mind
When that whistle blows
Girl, I'm down the street
I'm home, I'm out of my work clothes
When I'm out in the street
I walk the way I wanna walk
When I'm out in the street
I talk the way I wanna talk
When I'm out in the street
When I'm out in the street
When I'm out in the street, girl
Well, I never feel alone
When I'm out in the street, girl
In the crowd I feel at home
The black and whites they cruise by
And they watch us from the corner of their eye
But there ain't no doubt girl, down here
We ain't gonna take what they're handing out
When I'm out in the street
I walk the way I wanna walk
When I'm out in the street
I talk the way I wanna talk
Baby, out in the street I don't feel sad or blue
Baby, out in the street I'll be waiting for you
When the whistle blows
Girl, I'm down the street
I'm home, I'm out of my work clothes
When I'm out in the street
I walk the way I wanna walk
When I'm out in the street
I talk the way I wanna talk
When I'm out in the street
Pretty girls, they're all passing by
When I'm out in the street
From the corner, we give them the eye
Baby, out in the street I just feel all right
Meet me out in the street, little girl, tonight
Meet me out in the street
Meet me out in the street
de Bruce Springsteen
Put on your best dress baby
And darlin', fix your hair up right
Cause there's a party, honey
Way down beneath the neon lights
All day you've been working that hard line
Now tonight you're gonna have a good time
I work five days a week girl
Loading crates down on the dock
I take my hard earned money
And meet my girl down on the block
And Monday when the foreman calls time
I've already got Friday on my mind
When that whistle blows
Girl, I'm down the street
I'm home, I'm out of my work clothes
When I'm out in the street
I walk the way I wanna walk
When I'm out in the street
I talk the way I wanna talk
When I'm out in the street
When I'm out in the street
When I'm out in the street, girl
Well, I never feel alone
When I'm out in the street, girl
In the crowd I feel at home
The black and whites they cruise by
And they watch us from the corner of their eye
But there ain't no doubt girl, down here
We ain't gonna take what they're handing out
When I'm out in the street
I walk the way I wanna walk
When I'm out in the street
I talk the way I wanna talk
Baby, out in the street I don't feel sad or blue
Baby, out in the street I'll be waiting for you
When the whistle blows
Girl, I'm down the street
I'm home, I'm out of my work clothes
When I'm out in the street
I walk the way I wanna walk
When I'm out in the street
I talk the way I wanna talk
When I'm out in the street
Pretty girls, they're all passing by
When I'm out in the street
From the corner, we give them the eye
Baby, out in the street I just feel all right
Meet me out in the street, little girl, tonight
Meet me out in the street
Meet me out in the street
A vertigem bárbara dos suevos
Numa versão século XXI do cronista Fernão Lopes, EPC deixou-nos hoje em crónica uma visão desapaixonada da tribo do futebol. Percebe-se, entre as imagens do costume, a ternura que nutre pelos protagonistas: "Os portugueses pegaram nas bandeiras e nos cachecóis e vieram para a rua buzinar".
Repare-se, logo aqui, que não vieram ler poesia nem citar Gilles Deleuze, vieram buzinar. E depois continua: "Havia famílias inteiras, com a avó resignada no banco traseiro e a filha mais velha sentada no tejadilho, com calças que revelam a mais ampla concepção do umbigo que se pode imaginar".
O povo é assim. Os umbigos populares são sempre generosos, exibidos, sem vergonha, despudorados. O pormenor da "filha mais velha" dá-nos a entender que o autor terá falado ou pelo menos abordado a família em causa e que haveria pelo menos mais uma filha, mais nova, dentro do carro. A imagem da avó resignada no banco traseiro fez-nos pensar como pareceria o EPC no banco traseiro de um carro guiado por dois jovens. Um avô resignado, debruçado sobre um livro da Gallimard?
Continuemos: "Algumas tias velhas ensaiavam passos de dança nas paragens de autocarro". Tias de quem? De Cascais, do Eduardo, do António Arnaut?
Adiante: "Outros arregaçavam as mangas e mostravam tatuagens de guerra, com negros de facas nos dentes trespassados pela chuva de balas".
Aqui, o autor deixa-se ficar a observar a barbárie ao ponto de ver o momento preciso em que outros, ou seja, mais do que um adepto, arregaçam as mangas para mostrar tatuagens de guerra. Não se percebe se este arregaçar de mangas foi executado propositadamente para o cronista, num ritual de assumido exibicionismo, quantos eram os "outros" ou se o cronista se apercebe do gesto inadvertidamente.
"Havia aqueles que tinham bandeiras a dizer "Portugal ultras", e que pareciam directamente saídos de um filme sobre a extrema-direita europeia".
Cá está, em todo o seu esplendor, a direita, o aproveitamento político da bandeira pelas franjas mais reaccionárias. Se não aparecesse, não era uma crónica de EPC.
Mas há uma questão essencial e aí o Fernão Lopes do Século XXI transmuta-se em pensador: "A questão essencial é: esta gente veio para a rua festejar a vitória de Portugal ou a vitória de Portugal é apenas um pretexto para terem vindo para a rua?"
Logo aqui, lê-se, descobre-se, adivinha-se nas entrelinhas a tremenda ternura e afecto do autor pelas pessoas que festejaram nas ruas a vitória de Portugal sobre a Rússia.
Vamos em frente: "E ainda: esta gente que varre as ruas com vagas de violência é violenta porque se sente empolgada pelos seus clubes e países, ou utiliza clubes e selecções nacionais para poder dar largas a esse gosto da violência? Não tenho resposta a dar".
Aqui, o leitor interroga-se: Violência? Onde? Quando? No umbigo amplo da jovem em cima do tejadilho? Na forma como toda uma família relegou a avó para o banco traseiro a quem só resta a resignação e a impotência do velho Portugal, o que não colocava bandeiras nas janelas nem buzinava nas ruas? Nas tatuagens de guerra? Nas bandeiras reaccionárias dos ultras?
Aqui, o cronista não nos deixa muitas pistas, se bem que a crónica termine com testemunhos de violência verbal: "Perto dos Restauradores, três raparigas dançavam, sendo uma delas bastante elegante."
Esta foi aprovada pelo autor, que viu nela uma luz no negrume da barbárie. Mas eis que o único toque de elegância na noite dos grunhos ululantes é também ele violado por um jovem, do qual não ficamos a saber se trazia tatuagem guerreira ou cachecol dos ultras ou sequer um poster do Paulo Portas no carro. Tudo aquilo com o que o cronista-pensador-repórter nos deixa é esta breve pincelada: "Um dos jovens, que vinha apoiado nas janelas de um carro, berrou: "Ó boas, não digam que os portugueses não têm gajas boas!" E um coro de ruídos roedores e gritos primitivos veio sublinhar a felicidade da asserção. Só o futebol permite estas coisas-estes momentos de êxtase."
Aqui e para finalizar, o autor parece-nos exibir a revolta perante o tratamento dado ao único elemento elegante da noite, o objecto do desejo. De repente, na Praça da Figueira, ela ali está, qual Anna Karina num filme de Godard. O cronista emociona-se, vê nela a salvação numa noite de roedores primitivos. Mas em segundos, a doce ilusão Kariniana dissipa-se quando uma horda de suevos iletrados surge dentro de um carro, com ruídos que roem os ouvidos do cronista e gritam, mas não gritam de qualquer forma, emitem-nos de forma primitiva, rude e boçal.
Belo, genuíno, invulgar, um Fernão Lopes para o século XXI.
Leitura obrigatória:
"The Soccer Tribe", Desmond Morris (1981), 320 páginas, ed.Jonathan Cape
Repare-se, logo aqui, que não vieram ler poesia nem citar Gilles Deleuze, vieram buzinar. E depois continua: "Havia famílias inteiras, com a avó resignada no banco traseiro e a filha mais velha sentada no tejadilho, com calças que revelam a mais ampla concepção do umbigo que se pode imaginar".
O povo é assim. Os umbigos populares são sempre generosos, exibidos, sem vergonha, despudorados. O pormenor da "filha mais velha" dá-nos a entender que o autor terá falado ou pelo menos abordado a família em causa e que haveria pelo menos mais uma filha, mais nova, dentro do carro. A imagem da avó resignada no banco traseiro fez-nos pensar como pareceria o EPC no banco traseiro de um carro guiado por dois jovens. Um avô resignado, debruçado sobre um livro da Gallimard?
Continuemos: "Algumas tias velhas ensaiavam passos de dança nas paragens de autocarro". Tias de quem? De Cascais, do Eduardo, do António Arnaut?
Adiante: "Outros arregaçavam as mangas e mostravam tatuagens de guerra, com negros de facas nos dentes trespassados pela chuva de balas".
Aqui, o autor deixa-se ficar a observar a barbárie ao ponto de ver o momento preciso em que outros, ou seja, mais do que um adepto, arregaçam as mangas para mostrar tatuagens de guerra. Não se percebe se este arregaçar de mangas foi executado propositadamente para o cronista, num ritual de assumido exibicionismo, quantos eram os "outros" ou se o cronista se apercebe do gesto inadvertidamente.
"Havia aqueles que tinham bandeiras a dizer "Portugal ultras", e que pareciam directamente saídos de um filme sobre a extrema-direita europeia".
Cá está, em todo o seu esplendor, a direita, o aproveitamento político da bandeira pelas franjas mais reaccionárias. Se não aparecesse, não era uma crónica de EPC.
Mas há uma questão essencial e aí o Fernão Lopes do Século XXI transmuta-se em pensador: "A questão essencial é: esta gente veio para a rua festejar a vitória de Portugal ou a vitória de Portugal é apenas um pretexto para terem vindo para a rua?"
Logo aqui, lê-se, descobre-se, adivinha-se nas entrelinhas a tremenda ternura e afecto do autor pelas pessoas que festejaram nas ruas a vitória de Portugal sobre a Rússia.
Vamos em frente: "E ainda: esta gente que varre as ruas com vagas de violência é violenta porque se sente empolgada pelos seus clubes e países, ou utiliza clubes e selecções nacionais para poder dar largas a esse gosto da violência? Não tenho resposta a dar".
Aqui, o leitor interroga-se: Violência? Onde? Quando? No umbigo amplo da jovem em cima do tejadilho? Na forma como toda uma família relegou a avó para o banco traseiro a quem só resta a resignação e a impotência do velho Portugal, o que não colocava bandeiras nas janelas nem buzinava nas ruas? Nas tatuagens de guerra? Nas bandeiras reaccionárias dos ultras?
Aqui, o cronista não nos deixa muitas pistas, se bem que a crónica termine com testemunhos de violência verbal: "Perto dos Restauradores, três raparigas dançavam, sendo uma delas bastante elegante."
Esta foi aprovada pelo autor, que viu nela uma luz no negrume da barbárie. Mas eis que o único toque de elegância na noite dos grunhos ululantes é também ele violado por um jovem, do qual não ficamos a saber se trazia tatuagem guerreira ou cachecol dos ultras ou sequer um poster do Paulo Portas no carro. Tudo aquilo com o que o cronista-pensador-repórter nos deixa é esta breve pincelada: "Um dos jovens, que vinha apoiado nas janelas de um carro, berrou: "Ó boas, não digam que os portugueses não têm gajas boas!" E um coro de ruídos roedores e gritos primitivos veio sublinhar a felicidade da asserção. Só o futebol permite estas coisas-estes momentos de êxtase."
Aqui e para finalizar, o autor parece-nos exibir a revolta perante o tratamento dado ao único elemento elegante da noite, o objecto do desejo. De repente, na Praça da Figueira, ela ali está, qual Anna Karina num filme de Godard. O cronista emociona-se, vê nela a salvação numa noite de roedores primitivos. Mas em segundos, a doce ilusão Kariniana dissipa-se quando uma horda de suevos iletrados surge dentro de um carro, com ruídos que roem os ouvidos do cronista e gritam, mas não gritam de qualquer forma, emitem-nos de forma primitiva, rude e boçal.
Belo, genuíno, invulgar, um Fernão Lopes para o século XXI.
Leitura obrigatória:
"The Soccer Tribe", Desmond Morris (1981), 320 páginas, ed.Jonathan Cape
2004-06-16
Caparica 23 graus
23 graus às 22h30 na Caparica enquanto a São guiava e buzinava e eu agitava a bandeira ao vento, do lado de fora do carro. Toca a festejar agora a vitória à Rússia que contra a Espanha vai ser a doer. Até o Grishka, o husky, veio para a rua de cachecol ao pescoço!
2004-06-15
Não, não citam a Bíblia, citam o Estradas Perdidas!
Somos lidos! Melhor, somos citados! Pela terceira vez consecutiva, o blog Núcleo Duro cita o Estradas Perdidas! Leiam:
"Terça-feira, Junho 15, 2004
Bandeirose
- Vem ter a minha casa, para vermos o jogo.
- Qual é mesmo o teu andar?
- É o 2º Dto, muito fácil. Visto de fora, é o único que não tem a bandeirinha.
PS: Este diálogo é dedicado ao Nuno Ferreira, das Estradas Perdidas, guru da iconografia popular e do folclore anarquista, o homem que sonha com a contra-colonização brasileira, amante da cachassa e do boteco, uma espécie de Francisco José Viegas em versão debochada.
posted by Ernesto at 13:11 "
Escrever é bom, sermos lidos é ainda melhor. O ego, essa batata caprichosa, agradece.
"Terça-feira, Junho 15, 2004
Bandeirose
- Vem ter a minha casa, para vermos o jogo.
- Qual é mesmo o teu andar?
- É o 2º Dto, muito fácil. Visto de fora, é o único que não tem a bandeirinha.
PS: Este diálogo é dedicado ao Nuno Ferreira, das Estradas Perdidas, guru da iconografia popular e do folclore anarquista, o homem que sonha com a contra-colonização brasileira, amante da cachassa e do boteco, uma espécie de Francisco José Viegas em versão debochada.
posted by Ernesto at 13:11 "
Escrever é bom, sermos lidos é ainda melhor. O ego, essa batata caprichosa, agradece.
A MINHA SELECÇÃO
É fácil dizer mal do Scolari: É teimoso, tem uma testa mais dura que a pedra da serra gaúcha, bebe chimarrão e é brasileiro. Mas eu próprio tenho estado, envolto na bandeira portuguesa, evidentemente, a tentar formar uma selecção que bata a Rússia e empate com a Espanha e estou em dificuldades. Como benfiquista, seria uma dor de alma, um bate coração e arrepia a espinha ter de te dizer, Rui, sim tu, Rui Costa, precisas de ficar no banco e dar lugar ao brasuca do Deco. Já afectado psicológicamente no meu benfiquismo, teria de ter ainda uma maior dose de coragem para falar com o Simão. "Eh pá, Simão, depois jogas à vontade no Benfica, ficas capitão três anos seguidos, mudas de corte de cabelo as vezes que quiseres, levas a Mariana à EuroDisney mas não podes jogar contra a Rússia. Pior do que isso, é que fazendo as contas, a minha equipa ideal extravasa, como já me explicou o meu filho mais novo, os 11 jogadores permitidos pelas regras do futebol. Para bater a Rússia, adeus Ricardo, Moreira na baliza, o Jorge Andrade vai ver se a Corunha está no sítio e entra o irrepreensível Ricardo Carvalho. Depois, colocava dois trincos, Petit e Costinha e depois metia lá para dentro o Figo, o Maniche, o Deco, o Cristiano Ronaldo à esquerda, o Miguel à direita e o Pauleta e o Nuno Gomes a pontas de lança. Feitas as contas, jogávamos com 14 mas ganhávamos. Assim, não sei não...
O drama do português
Se eu ponho a música alto, o meu vizinho queixa-se que eu já pareço os "pretos" da Damaia. Se eu visto uma t-shirt mais garrida ou excêntrica, vão-me perguntar onde a comprei. Se espirro, é porque espirro muito alto. Se ponho um boné na cabeça, é porque não fica bem ir para o trabalho de boné americanizado na tola. Se rio demais, é porque qualquer coisa está errada, porque nós nascemos para ser tristes. Se não buzino, sou otário, estou a deixar os outros passarem-me à frente sem protestar. Se não falo sobre o último filme do Kusturica, não sou intelectual. E se coloco uma bandeira na janela? Ui, que sarilho rasca e foleiro eu vou arranjar. Deixam-me espirrar? É permitido neste país de porteiros de discoteca? Atchiiiiimmmm!!!
PROUD TO BE PORTUGUESE ou os intelectuais portugueses e a crise das bandeirinhas
É tão fácil ficar em casa, por detrás dos cortinados, como certas figuras queirosianas, a espreitar os vizinhos a colocar as bandeiras na janela ou nas varandas. É tão fácil criticar o "patriotismo foleiro" ou o "nacionalismo rasca", citar meia dúzia de intelectuais que se leu apressadamente e condenar o povo por querer ser feliz. Ainda para mais, um povo, o português, que um destino fatalista e fadista tinha marcado para ser triste e tímido e fechado na sua concha. Deixem-nos ser portugueses, alegres e foleiros...vá lá, só uma vez...depois já podem voltar a comentar os subsídios para o novo cinema português ou a poesia desencantada da nova geração. Deixem-nos gritar golo, cuspir no chão, beber cerveja, comer tremoços e gritar quando o Pauleta falha mais um golo: "Foda-se!"
E mais uma coisa: A ti emigrante do Pico, que uma vez me mostraste orgulhosamente na tua ilha claustrofóbica um cadillac trazido da América com uma placa onde se lia "proud to be portuguese", a ti dedico a bandeira que coloquei na varanda neste Europeu, que já coloquei em 2000 e em 2002.
E mais uma coisa: A ti emigrante do Pico, que uma vez me mostraste orgulhosamente na tua ilha claustrofóbica um cadillac trazido da América com uma placa onde se lia "proud to be portuguese", a ti dedico a bandeira que coloquei na varanda neste Europeu, que já coloquei em 2000 e em 2002.
2004-06-11
Bye Ray...see you in Heaven
Há pessoas que falecem e morrem, desaparecem-nos das nossas vidas. Há outras que morrem e ficam sempre, pelo que com elas vivemos, pelas histórias que nos contaram ou simplesmente pelas alegrias que nos deram ou a música que nos deixaram. Foi assim com o Johnny Cash e é assim agora com o Ray Charles. Soube da passagem, muito leve e passageira, dele para o outro lado hoje de manhã e recebia-a com a mesma tranquilidade com que se aceita que a seguir ao Verão vem o Outono, as folhas amarelecem e o que verdadeiramente interessa e existe permanece. Depois, peguei num cd e coloquei aquela que é uma das minha canções de country preferidas, cantada, composta por Don Gibson mas interpretada por Ray Charles: "Those happy hours that we once knew,though long ago, still make me blue. They say that time heals a broken heart. But time has stood still since we've been apart. I can't stop loving you so I've made up my mind to live in memory oOf old lone-some times. I can't stop wanting you. It's useless to say.So I'll just live my life In dreams of yesterday. Those happy hours that we once knew, though long ago, still make me blue. They say that time heals a broken heart. But time has stood still since we've been apart. I can't stop loving you, There's no use to try. Pretend ther's some one new; I can't live a lie. I can't stop wanting you the way that I do. Ther's only been one love for me,
That one love is you..."
"I Can't Stop Loving You" de Don Gibson, foi gravada por Ray Charles em 1962, num álbum que incluía as suas canções country preferidas, "Moderns Sounds In Country And Western Music"
That one love is you..."
"I Can't Stop Loving You" de Don Gibson, foi gravada por Ray Charles em 1962, num álbum que incluía as suas canções country preferidas, "Moderns Sounds In Country And Western Music"
2004-06-07
Provavelmente, o melhor momento do festival...
Nothing Else Matters
Metallica
So close no matter how far
couldn't be much more from the heart
forever trusting who we are
and nothing else matters
never opened myself this way
life is ours, we live it our way
all these words I don't just say
and nothing else matters
trust I seek and I find in you
every day for us something new
open mind for a different view
and nothing else matters
never cared for what they do
never cared for what they know
but I know
so close no matter how far
couldn't be much more from the heart
forever trusting who we are
and nothing else matters
never cared for what they do
never cared for what they know
but I know
never opened myself this way
life is ours, we live it our way
all these words I don't just say
and nothing else matters
trust I seek and I find in you
every day for us something new
open mind for a different view
and nothing else matters
never cared for what they say
never cared for games they play
never cared for what they do
never cared for what they know
and I know
so close no matter how far
couldn't be much more from the heart
forever trusting who we are
no nothing else matters
Metallica
So close no matter how far
couldn't be much more from the heart
forever trusting who we are
and nothing else matters
never opened myself this way
life is ours, we live it our way
all these words I don't just say
and nothing else matters
trust I seek and I find in you
every day for us something new
open mind for a different view
and nothing else matters
never cared for what they do
never cared for what they know
but I know
so close no matter how far
couldn't be much more from the heart
forever trusting who we are
and nothing else matters
never cared for what they do
never cared for what they know
but I know
never opened myself this way
life is ours, we live it our way
all these words I don't just say
and nothing else matters
trust I seek and I find in you
every day for us something new
open mind for a different view
and nothing else matters
never cared for what they say
never cared for games they play
never cared for what they do
never cared for what they know
and I know
so close no matter how far
couldn't be much more from the heart
forever trusting who we are
no nothing else matters
Rock In Rio em notas soltas e perdidas
O Rock In Rio Lisboa acabou para mim a meio da actuação da Alicia Keys quando os meus olhos raiados de vermelho já só conseguiam ver um borrão de encarnado do fato da cantora e o som do piano parecia vir de longe, de trás do meu cansaço, da poeira, por entre caras, rostos, corpos e corpos indistintos dos 100 mil que estiveram na última noite. Sobrevivera à noite louca e alucinante dos Metallica, os corpos dos fãs a serem resgatados da frente do palco à mesma velocidade com que as luzes das ambulâncias faiscavam lá em cima, junto ao portão. Sobrevivera aos gritos das meninas que quase caíram em cima de mim no espectáculo da Britney Spears, montadas às cavalitas e que diziam: "desculpe, desculpe, desculpe por gritarmos tanto...Briiiiiiitneyyyyyyy!!!!!!" Sobrevivera ao choque emocional de reencontrar a Ivete Sangalo e dei por mim a gritar "Ivveteeeeeee!!!!" como naquela noite quente de Fortaleza em que passei 3 horas debaixo do trio eléctrico da Ivete. A aeróbica do "Levada Louca" e do "Poeira" acabou comigo. Pulei que nem um doido, quase chorei como a Ivete. Afinal, aquela mulher fera, animal de palco, incorpora e representa o Brasil. Depois da Ivete, fiquei como as meninas criança a olhar cabisbaixas para o show dos Black Eyes Peas depois da ilusão cor de rosa da Britney Spears. Terminei no chão da Tenda Vip, as pernas estendidas em terapia, como depois de um violento treino de futebol, a ver a SIC a entrevistar a SIC e o Santana Lopes a comer canapés, ao som do Alejandro Sanz, os olhos a quererem cerrar...
2004-06-04
MIPs à solta no Aeroporto
Ontem, uma mole, melhor, uma correnteza de senhores engravatados e invariáveis fatos azuis escuros invadiu o Aeroporto de Lisboa para participar na inauguração da nova área comercial, que passou de uns grandiosos 600 metros quadrados para 1300 metros quadrados. Lá estive, com a minha t-shirt das 12 estações do Pernambuco, a tentar perceber porque é que para inaugurar uma loja nova da Vista Alegre, uns novos postos de venda de vinho do Porto e duas ou três lojas de roupa, compareceram tantos VIP's. Um senhor estrangeiro entre o baixo, careca e divertido, com suspensórios segurando as calças bamboleantes, olhou para o amontoado de câmaras, senhores de fato azul e câmaras de televisão, apontou para o Ministro dos TRansportes, Carmona Rodrigues, sorriu e disse-me: "Muuuito importante..." Eu fiz sinal de assim assim com a mão e respondi-lhe: "Oh, menos menos, mais um MIP (Medium Important Person)". Entre os MIP's presentes na inauguração das novas lojas do vinho do Porto e dos museus e relógios e roupa para turistas, encontravam-se além de Carmona Rodrigues, o ministro da Cultura, o Secretário de Estado do Tesouro, o Secretário de Estado das Obras Públicas, sua excelência o presidente da ANA e o administrador da TAP Cardoso e Cunha, entre outros. NIAL (Not Important At All) só mesmo eu, mais a minha t-shirt brasileira, colorida e festiva. Terminámos por hoje o noticiário da secção "Assim vai o País. Um até sempre. Gostámos muito deste bocadinho.
2004-06-01
O Joseney
Encontrei o Joseney no Rock In Rio. Encontro sempre o Joseney nas esquinas da vida, aqui e ali, quando menos espero. E desaparece também com a mesma rapidez com que bebíamos caipirinhas juntos. Está mais velho, tem o rosto encarquilhado e enrugado e substituíu o ridículo rabo de cavalo pelo cabelo à Beatle de risco ao meio. Esqueci-me de lhe perguntar se ainda ouve Raul Seixas. Falei tanto quando o vi que o homem ía-se mijando pela pernas abaixo. "Cê vai aonde? Espera por mim, tenho de mijar". O Joseney partilha comigo a mesma paixão pelo norte do Brasil, a mosquitada e tudo o que acaba em "ada". Em Setembro vai tirar três meses para viajar do Maranhão lá para cima. Perguntei pelo Edmundo, o homem de Dourados, Mato Grosso do Sul, ex-Polícia Militar em Altamira, Pará, ex-contrabandista de arma entre o Paraguai e o Matogrosso, há vários anos o homem que roda o churrasco na churrasqueira do Robson. "Cê sabe que o Edmundo não fala mais comigo? É verdade. Quando veio a Portugal o Robin William, eu tinha um ingresso a mais, aí perguntei pro Edmundo se podia levar a mulher dele, ela estava toda entusiasmada. Aí, ele disse que sim, ela foi mais umas meninas, adoraram...Aí, ahahah, a mulher chegou a casa contando maravilha, que o show fora fantástico...no dia seguinte, o Edmundo brigou comigo, que eu não era homem de palavra, que nunca mais falava comigo. Tá vendo isso?" Oh, toma cuidado Joseney, o Edmundo contou-me uma vez como aprendeu em Altamira a desmontar uma metralhadora de olhos vendados e como comprava e vendia arma entre o Paraguai e Dourados. Não...mas o Edmundo é boa gente, sempre com um sorriso com os lábios enquanto me enchia mais uma "tulipa" de cerveja: "Esse aí é portuga malandro, conhece mais Brasil q'a gente. Conta aí quando cê foi ao Boi Bumbá..."
Adiante. O Joseney deixou-me a meio da chinfrineira do espectáculo dos Evanescence para ir mijar outra vez e nunca mais voltou. Hei-de voltar a encontrá-lo nas esquinas da vida, distribuindo folheto de publicidade ou a trabalhar com uma produtora de televisão. Sabiam que ele ajudou a montar a primeira casa do Big Brother? Foi o Joseney, de Curitiba, Paraná mas vacinado em mosquito pela universidade natural de Porto Velho, Rondónia.
Adiante. O Joseney deixou-me a meio da chinfrineira do espectáculo dos Evanescence para ir mijar outra vez e nunca mais voltou. Hei-de voltar a encontrá-lo nas esquinas da vida, distribuindo folheto de publicidade ou a trabalhar com uma produtora de televisão. Sabiam que ele ajudou a montar a primeira casa do Big Brother? Foi o Joseney, de Curitiba, Paraná mas vacinado em mosquito pela universidade natural de Porto Velho, Rondónia.