estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2005-09-19

B.LEZA BLUES

Uma das salas mais emblemáticas da Lisboa multicultural e multi-étnica corre o risco de fechar em breve. O prazo acordado entre a empresa proprietária do palácio do Largo do Conde Barão onde se encontra instalado o B.Leza e o locatário do mesmo , o Casa Pia Atlético Clube, já expirou. O espaço de música cabo-verdeana só se mantem aberto até o clube conseguir “um espaço digno” para colocar o espólio da sua biblioteca-museu, ainda nas instalações.
A crise do B. Leza começou em 2001 quando a empresa proprietária do espaço accionou em tribunal uma acção de despejo ao Casa Pia Atlético Clube que o sub-aluga aos gerentes do B.Leza. A acção de despejo foi contestada e as duas partes acabaram por chegar a um acordo: O Casa Pia Atlético Clube saía até 31 de Agosto de 2005, sofrendo penalização pelo tempo a mais que permanecer no local.
“Neste momento, estamos a ser penalizados. Só não saímos porque ainda não encontrámos um espaço digno para colocar a nossa biblioteca-museu. Esse é o meu grande problema neste momento”, explicou o presidente do clube, Carlos Rodrigues.
O presidente do Casa Pia Atlético Clube confessa que vai saír daquele palácio de “lágrimas nos olhos”- o clube está ali instalado desde 1920- e que tem pena pelo B.Leza mas não pode fazer nada: “Adoro o B.Leza, sou frequentador, acho aquele espaço o ideal para o clube funcionar mas a vida é assim. Acho que os gerentes são pessoas excepcionais e que vão conseguir outro lugar para o clube”. Carlos Rodrigues escusou-se, no entanto, a dizer quando é que o Casa Pia abandona as instalações.
O clube de música africana mas sobretudo cabo-verdeana, onde ainda na segunda-feira, dia 12, cantaram nomes como Tito Paris, Celina Pereira, Dany Silva, Nancy Vieira ou Maria Alice, tem programação agendada para Setembro e Outubro.
“ Nós gostaríamos de continuar”, explicou uma das gerentes, entre as arcadas do velho Palácio dos Almadas. “É um projecto válido, com muito valor, com destaque na noite lisboeta, multicultural. Não sabemos se fora deste espaço seria possível manter o mesmo projecto”.
Na segunda-feira passada, o B.Leza recebeu uma noite única de música cabo-verdeana que esgotou a lotação e enquanto houve pessoas que se deslocaram ao local convencidos que aquela era a última noite do clube, outros frequentadores nem sabiam que este pode fechar. “Eu não sabia”, dizia uma cliente habitual, “ e sinceramente tudo isto é muito triste. Se este espaço fechar, não existem alternativas. Não há nada parecido com isto”.
Sentado a uma mesa, acompanhado por elementos do seu staff e da esposa, Bárbara Guimarães, o candidato do Partido Socialista à câmara de Lisboa, Manuel Maria Carrilho não queria ouvir falar na possibilidade do clube fechar: “Comigo o B.Leza será sempre o local de Cabo-Verde. Venho muitas vezes aqui e posso dizer que comigo não fecha. É um santuário. Tudo farei para que continue. Lisboa tem de continuar a ser a capital da diversidade”.
Instalado no Palácio do século XVI, monumento nacional, que pertenceu aos Almadas, Provedores da Casa da Índia, o clube é um espaço único desde a arquitectura do páteo interior, das janelas de sacada e das arcadas até à intimidade e convívio cultural na sala e no corredor. As ventoinhas a rodar incessantes a espantar o calor, as gargalhadas de umas mesas para as outras, os versos do compositor cabo-verdeano B.Leza espalhados nas paredes cor de morango, o clube é um mundo à parte.
“Os outros espaços não disfrutam daquela sumptuosidade, daquele tecto infelizmente degradado. O B. Leza é uma sala que permite tanto estar na sala a ouvir a música como estar lá fora no corredor, no páteo. Há uma magia própria naquele clube”, explica a cantora Celina Pereira.
À beleza do espaço, alia-se a partilha cultural. “Quando eu penso no B.Leza, penso num espaço onde se vive, de verdade, a lusofonia. Ali há música africana ao vivo, há lançamentos de livros, exposições de pintura, fotografia, sessões de documentário. Para mim, é um espaço de encontro de culturas, é um emblema”, afirma Celina.
A cantora cabo-verdeana Nancy Vieira, que há três anos foi convidada a cantar todas as terças-feiras, não esquece que foi no B.Leza que ganhou projecção: “É o espaço onde comecei a ser conhecida, que me abriu as portas. Fez-me ter a certeza que queria ser uma cantora profissional”.
O ano que passou a cantar no clube foi de aprendizagem e amadurecimento. “Deram-me uma noite especial, ganhei o público do Tito Paris, que era quem fazia as terças-feiras. Quando comecei a cantar ainda andava na faculdade. O clube deu-me muita prática. Os músicos da Banda do B.Leza são dos melhores músicos que nós temos”, explica.
O músico Tito Paris, que foi sócio do “B.Leza” no seu primeiro ano de actividade, em 1995, tem ali enterradas muitas recordações. Foi ali que gravou o seu disco duplo ao vivo, em 1998, foi ali que tocou todas as semanas durante bastante tempo.
“Fui eu que dei o nome ao espaço. Era para ser chamado B. Leza Morna Jazz. Desenhei o logotipo, dei a cara pelo B.Leza porque era o mais conhecido, ía à rádio, dava entrevistas,
ainda tenho alguns dos três mil cartões de convite que assinei para a inauguração”, explica.
Em relação ao “Baile”, o espaço de música africana que ali existiu de 89 a 95, Tito e os outros sócios efectuaram modificações. “O B.Leza era mais requintado, até o nome era doce. As pessoas encontravam boa música, bom ambiente. Mudámos a decoração, alargámos o palco, mudámos o sistema de luzes, mudámos as cortinas...”
Tito Paris defende que o clube é responsável por revolucionar a música cabo-verdeana: “Conseguiu juntar várias músicos de qualidade no mesmo espaço e as pessoas puderam passar a ir ouvir muitos cantores de renome. A minha ideia era criar um espaço que começasse às 21h00 com um artista e onde só se dançasse a partir da meia noite. Não consegui, os outros sócios não entenderam assim, vim-me embora”.
O cantor e compositor fala do B.Leza, no entanto, como de uma oportunidade perdida: “O projecto podia ser muito bonito mas a verdade é que aquela casa foi abandonada e deixaram degradar o ambiente há muito tempo”
Tito Paris diz que se a casa fosse sua a primeira coisa que fazia era fechar três meses para remodelação. “Depois, criava disciplina de trabalho, fazia mais publicidade, tinha concertos de artistas diferentes todos os dias das 21h00 à meia-noite, servia refeições e só depois das 0h00 é que tocava o grupo da casa”.
Agora, o clube com um futuro incerto, Tito Paris abana a cabeça: “Fico com pena porque se trata de uma referência no espaço lusófono e da música cabo-verdeana. Fico triste por não poder subir mais a um palco que eu ajudei a transformar em 95. Continuo a não acreditar que o B.Leza possa fechar”, afirma.
Nancy Vieira, essa, nem sabe o que dizer: “É uma tristeza. Só de pensar no dia em que nos lembrar-mos de saír à noite e já não tivermos o B.Leza. Aquele sítio é como um íman. Parece que o carro vai sózinho até lá”.

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As noites loucas e quentes do Largo do Conde Barão

A sala do Casa Pia Atlético Clube viveu As Noites Longas nos anos 80, nasceu como espaço de música cabo-verdeana ao vivo com O Baile e manteve-se até hoje como B.Leza

Entre 1985 e 1989, quatro anos antes de ser transformado em O Baile e dez anos antes de se transformar em B.Leza, a sala do palácio do Largo do Conde Barão protagonizou das noites mais animadas e multiculturais da Lisboa dos anos 80. “Eu trabalhava no Rockhouse, no Bairro Alto, quando um amigo meu me convidou a ir à sede do Casa Pia Atlético Clube ouvir o Basílio, um músico moçambicano”, recorda hoje Zé da Guiné.
Zé, conhecido pelo porte atlético e vestimenta à gangster, chapéu, sobretudo, calças de golfe, é uma personagem carismática. Foi modelo, empresário, alfaiate, artista plástico. “Fiquei fascinado quando entrei naquela sala, aqueles interiores, tudo. Pensei logo em organizar ali festas. O problema era o dinheiro, ganhava pouco. Eu e outro colega alugámos aquilo por dez contos, era muito dinheiro na época”.
Apaixonado pelo vinil, Zé da Guiné levou os seus próprios discos. Na primeira das que viriam a ser conhecidas como “Noites Longas”, passou funk, jazz. “Tive pouca gente”, lembra. “Na segunda noite, sempre à sexta-feira, lembrei-me de convidar o Pedro Ayres de Magalhães e a Fernandinha, que tinha o Café-Concerto, no Bairro Alto. Veio muita gente”.
À terceira sexta-feira, Zé da Guiné passou a trabalhar com Hernâni Miguel e Mário Duarte. “Passou a aparecer muita gente. Naquela época havia poucos espaços. Havia o Frágil, o Trumps, o Jukebox...Aparecia lá a malta gira, a malta com onda. Entrava-se e via-se o Miguel Esteves Cardoso, a Ana Salazar, o Eduardo Prado Coelho...mas não íam lá para se mostrar, não era como hoje em dia...”, conta Zé da Guiné. “O Pedro Cabrita Reis, por exemplo, fez lá um painel que acabou todo escavacado”.
No “Noites Longas” sucederam-se os lançamentos de livros, as passagens de moda, os concertos dos Xutos e Pontapés, Ena Pá 2000, Delfins. Os últimos frequentadores saíam às 7h00 da manhã ao som de big bands de jazz como a de Benny Goodman, depois de comerem bifanas ou sopa e esvaziarem a cerveja. “Aquilo era uma loucura. As pessoas ficavam na rua, no páteo, não conseguiam passar no corredor. A comida esgotava, esgotava a cerveja...”, lembra.
A música, tal como a clientela, era eclética. “Eu misturava música africana com música portuguesa, reggae, jazz dancável, tudo o que gostava. Não fazia aquilo por comércio, por diversão, pela onda. O dinheiro entrava e saía. Ía logo à Feira da Ladra gastar o dinheiro em vinil”, lembra Zé da Guiné.
Hoje, o criador do “Noites Longas” e ex-proprietário do clube de jazz Bebop (94-99) afirma: “Fiquei teso mas feliz. Mas o meu sonho é um clube de jazz, gostava muito de conceber de novo um clube de jazz. Lisboa tem espaços lindíssimos e eu conheço Lisboa como ninguém”.

O Baile ou o início da música cabo-verdeana

Em 1989, a sala do Largo Conde Barão novamente vaga, Augusto Ribeiro, músico de Dany Silva. convenceu o amigo de longa data Saudade e Silva a proporem ao Casa Pia Atlético Clube alugarem o espaço. “Eu tocava com o Dany Silva no então Clave Di Nos. Depois, quando o Dany Silva saiu desse bar, tivemos a ideia de abrir ali um espaço para ele tocar”, conta Augusto Ribeiro 16 anos mais tarde.
Augusto e Saudade e Silva fizeram obras, contrataram músicos, cortinados, luzes e escolheram o nome de “Baile” para o espaço. “A ideia era precisamente pôr as pessoas a dançar ao som da música porque no Clave Di Nos não havia condições para dançar”. As obras já decorriam quando Dany Silva, por razões profissionais, não pôde alinhar no projecto.
“Já tínhamos milhares de contos ali empatados”, lembra Augusto Ribeiro, “nessa mesma noite fui jantar com o Paulino Vieira e pronto, quem arrancou com “O Baile” em Dezembro de 89 foi ele”.
O espaço, recorda hoje o cantor Tito Paris, era diferente do B’Leza: “Era muito claro, com muitas luzes, tudo branco. Tinha uns vasos artificiais junto à pista”. Augusto Ribeiro lembra também o projector de slides com ambientes tropicais e o ecrã “enorme”. A cantora Celina Pereira, essa, recorda com orgulho e saudade que foi no “O Baile” que lançou o seu trabalho sobre tradições orais, em Janeiro de 1990.
“O formato do Baile, o conceito que mais tarde, em 95, deu lugar ao B’Leza, foi criado por mim”, diz Augusto Ribeiro. “Durante os anos de 90 e 91, eu estava lá em permanência porque o Saudade e Silva era advogado e não tinha tempo para se ocupar do agendamento dos músicos, por exemplo”.
Nessa época, para além de Paulino Vieira, que tocava lá todos os dias, actuaram no Baile Cesária Évora, a banda Tubarões, Sérgio Godinho, Vitorino. “Na altura”, recorda Augusto Ribeiro, “eram os músicos mais conhecidos”. A clientela, essa, tinha uma grande percentagem de brancos. “Mais de cinquenta por cento”, afirma o ex-gerente do clube.
Augusto lembra agora que os dois anos que passou à frente da sala do Largo do Conde Barão foram cansativos. “Eu agendava os músicos, eu montava o som, os projectores com os músicos. E tínhamos o John, uma figura fora de série que era baterista, passava música como DJ e ainda ía à cozinha se fosse preciso lavar pratos”.
No ano de 91, Augusto Ribeiro fez a noite de fim de ano e saiu. “Estava farto daquilo. A partir daí, eu e o meu sócio entrámos em conflito. Depois, adoeceu e veio a falecer. Nunca nunca mais lá fui nem nunca fui compensado financeiramente pelo dinheiro que lá empatei”, conta.
Hoje, muitos anos depois, é com mágoa que Augusto Ribeiro reconhece o sucesso que o B’Leza obteve: “A casa estava feita e eles souberam explorar bem o marketing. O B’Leza não arrancou do ponto zero. O conceito subjacente ao nome fui eu que o dei”, afirma.


O B.Leza imortalizado em disco

Em 10 anos, foram gravados dois discos ao vivo no clube do Largo do Conde Barão. Em Abril de 1998, Tito Paris gravou ali o seu famoso e duplo “Tito Paris Ao Vivo No B.Leza”, editado pela Lusafrica. Nesse álbum surgem como convidados especiais Rui Veloso, Dany Silva, Boy Ge Mendes e Pedro Jóia. O disco obteve grande projecção internacional e o crítico do prestigiado All-Music Guide recomenda-o vivamente aos amantes da música cabo-verdeana, elogiando a “energia” e a “qualidade da gravação”.
Mais tarde, em 2003, a editora Movieplay lançou “Ao Vivo No B.Leza”, um disco que contem gravações feitas naquela sala em Janeiro e Junho de 2002. Neste último, participam SAP, Nancy Vieira, BIUS, Filipe Mukenga, Maria Alice, Filipa Pais, Dany Silva, Bana. Este álbum, produzido por Alcides Nascimento, permite também ouvir os músicos que têm dado vida à ao espaço: Toy Vieira (piano e sintetizador), Vaiss (guitarra solo, viola e cavaquinho), Zé António (guitarra ritmo), Manuel Paris (baixo), Djim Djob (baixo), Moises Ramos (piano), Guto (saxofone), Miguel Gonçalves (trompete), Galiano Neto (percussão) e Kau Paris (bateria).

Outros espaços com música cabo-verdeana ao vivo

En’Clave (antigo Bana)
Rua do Sol ao Rato, 71 A Tel. (01) 388 8738
O lugar histórico da música cabo-verdeana em Lisboa. Fundado em 1976 pelo cantor Bana. É restaurante africano e tem música ao vivo.

Casa da Morna
Rua Rodrigues Faria 21 (Alcântara)
Lisboa
Um restaurante mais elitista do que o En’Clave. Além da comida cabo-verdeana, apresenta música ao vivo. Apresenta um artista cabo-verdeano diferente todas as terça-feiras à noite ao vivo. Todos os dias, às 23h00, cantam Dany Silva e Tito Paris.

PARABÉNS NUNO!

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4-0

E agora? Os velhos do Restelo já não têm razão para bater na equipa ou passar o jogo inteiro a criticar. Apareçam na Luz, ontem eramos só 30 mil. O Benfica merece e precisa de um apoio à inglesa!

2005-09-15

MICCOLI

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O salvador de ontem à noite fotografado pelo Pedro Vilela, do PÚBLICO no treino de segunda-feira

BENFICA SEMPRE

A vitória sobre o Lille foi sofrida, foi. O Lille joga pouco, joga. O Geovanni não esteve a fazer nada em campo, não. Devemos exigir mais da equipa e de jogadores como o Nuno Gomes, sim. Mas o Benfica é a nossa equipa e se vamos ao estádio é para a apoiar. A equipa precisa de apoio agora, que vive uma crise de confiança e de adaptação aos métodos do treinador. Por isso acho absolutamente lamentável o comportamento de algumas pessoas que de cachecol do glorioso ao pescoço passam 90 minutos a enxovalhar e insultar jogadores, a antecipar golos do Lille e a descarregar na bancada a frustração do dia-a-dia. Ontem, calharam-me dois sujeitos desses atrás de mim, um dos quais presumi que trabalha numa instituição bancária e escolhe o futebol para descarregar recalcamentos. Gostaria que pessoas dessas ficassem em casa e que os adeptos seguissem o exemplo dos fãs do Celtic ou do Glasgow Rangers, por exemplo. O Glasgow Rangers vinha de uma série de maus resultados e venceu o FC Porto muito graças ao apoio incondicional do ambiente criado no Ibrox Park.

2005-09-11


Vilamoura, Agosto de 2005 Posted by Picasa

O NOSSO BENFICA

"Perdeu-se o jogo e o primeiro lugar tornou-se uma miragem. Apesar disso, se as invenções tácticas e de escalonamento acabarem, talvez o Benfica possa construir uma equipa interessante. Limitada nas soluções, mas com potencial para entusiasmar. Há que dar tempo ao Koeman. Pelo menos mais algum".

Alexandre Machado, no Blog "Terceiro Anel"

Eu tempo até lhe dou mas o Koeman que deixe de ser teimoso e se deixe de invenções. Três centrais? Carlitos a titular? Andamos a brincar? Será que ele já se apercebeu que a pré-época terminou? Nessa altura é que se fazem experiências.

Nuno Ferreira, treinador de bancada cada vez mais impaciente

DEBAIXO DE ÁGUA


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I- Música de New Orleans: Cenário de Pesadelo

Quando a lenda do rithm and blues Fats Domino foi dado como desaparecido nas águas turbulentas que invadiram New Orleans, o mundo musical- fãs, músicos, compositores, jornalistas- acordaram para aquele que, de repente, se erguia como um cenário de pesadelo.
Não só uma cidade ícone da música popular norte-americana estava debaixo de água, juntamente com os seus clubes míticos e os seus estúdios de gravação, como se temia pela vida de muitos dos seus artistas. Nos dias terríveis que se seguiram à passagem do furacão "Katrina", uma enorme angústia apoderou-se dos amantes da música da "Crescent City".
A cidade que deu ao mundo nomes como Louis Armstrong, a cantora gospel Mahalia Jackson, o pioneiro do jazz Jelly Roll Morton ou, mais recentemente, o trompetista Wynton Marsalis, desvanecera-se nas águas, como na premonitória canção “Louisianna 1927” do cantor Randy Newman.
“Six feet of water in the streets of Evangeline/ The river rose all day/ The river rose all night/ Some people got lost in the flood /Some people got away alright / Louisiana, Louisiana/ They’re tryin’ to wash us away…”, canta Randy Newman, que todos associam a Los Angeles mas nasceu na “Big Easy”.
A primeira sensação, para muitos, foi de choque, de impotência. "Sinto-me completamente impotente", explicava Jon Foose, um dos autores do livro "Up From The Cradle of Jazz", uma obra que aborda o impacto da música da cidade após a IIª Guerra Mundial. "Continuo a pensar nos músicos, no Fats Domino, no Gatemouth Brown (blues), no Walter Washington (rithm and blues), tantos grandes nomes. Estarão seguros?"
New Orleans representa tanto para tanta gente pelo mundo fora que as cicatrizes da catástrofe irão, concerteza perdurar, durante muito tempo. Com os sons do jazz, o blues, o cajun ou o zydeco transpirando dos bares para as ruas quentes, húmidas e estreitas do French Quarter, confundindo-se com os cheiros enebriantes da comida creoula ou cajun dos restaurantes, New Orleans era uma festa.
Numa noite, na turística Bourbon Street, era possível escutar num bar a energética banda de cajun Mamou a espalhar alegria através dos seus violinos e acordeões, escutar o blues do músico cego Bryan Lee a cantar para meia dúzia de turistas e ouvir, noutro bar, um frenético zydeco, um dos músicos acentuando o ritmo frenético do acordeão esfregando uma colher na “washboard” ( tábua de lavar metálica).
Enquanto Chicago está definitivamente identificada com o jazz e o blues, Nashville com a música country ou Boston com a música folk, o que seduzia em New Orleans era a quantidade de géneros musicais diferentes, a mistura cultural de sons. A “Big Easy” produziu e produzia jazz, blues, cajun, zydeco, swamp pop, rithm and blues, tudo numa mescla inigualável em qualquer outra cidade norte-americana.
“Eu vivi em Nova Iorque, São Francisco, Austin e Atlanta. New Orleans, na minha opinião, a nível musical, está acima de todas elas e espero que um dia volte a ser o que foi”, afirma Mark Samuels, co-fundador da editora Basin Street Records, sediada na Canal Street.
Descia-se à Lousianna para, envolvidos no bafo quente e húmido do Golfo do México, ouvir a melhor música do mundo, conhecer alguns dos bares e clubes mais vivificantes do planeta e fazer amigos.
Fosse na Decatur Street ou na Jackson Square, por entre as portas abertas de bares e restaurantes, as ventoinhas sempre a rodar, por entre os pintores de rua, os leitores da mão, as brass bands ruidosas, New Orleans seduzia-nos, envolvia-nos, colava-se-nos ao corpo.
A cidade era amada e cantada como poucas. Fats Domino cantava as saudades de casa em “Walking to New Orleans”. A cantora Lucinda Williams celebrava o regresso à cidade onde vivera em “Crescent City”: “I can hardly wait until I can hear my zydeco and laissez le bon temp rouller and take rides in open cars/ my brother knows where the best bar are/ Let’s see how these blues’ll do in the town where the good times stay”.
Apesar de carregar sobre os ombros a carga nostálgica de ter sido o local onde o jazz nasceu, a New Orleans actual mantinha-se um centro cultural e musical exuberante. Os dez dias, no mês de Abril, do New Orleans Jazz & Heritage Festival exibiam ao mundo uma parte substancial do leque de que é feita a música popular americana.

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II- Um mundo em suspensão

Agora, esse mundo está em suspenso, debaixo de água ou sob um vazio fantasmagórico, como no caso da famosa Bourbon Street. Ninguém sabe ao certo como estão ou se serão recuperáveis lugares míticos como o clube Tipitina's ou o Sea-Saint Recording Studio.
Sabe-se que os históricos clubes de jazz Preservation Hall e Snug Harbor não foram afectados pelas águas, que o enorme arquivo de jazz Hogan Jazz Archive, na Tulane University, também terá sobrevivido mas a Louis Armstrong House sofreu estragos e é impossível fazer um balanço do que terá sido atingido em gravações, fitas e pautas originais por toda a cidade.
As perguntas avolumam-se: Será que no próximo ano se poderá realizar o histórico New Orleans Jazz & Heritage Festival? E o famoso “Mardi Gras”? Onde estão os músicos que faziam da cidade uma das cenas musicais mais vibrantes do planeta?
O que é feito da banda de rithm and blues The Neville Brothers, de Fats Domino, de Dr John, de Corey Harris, do cantor de blues Bryan Lee, de Allain Toussaint, da cantora soul Irma Thomas, da The Preservation Hall Jazz Band, dos guitarristas de “slide guitar” Sonny Landreth e John Mooney, só para falar de alguns?
Aos poucos e nos dias que se seguiram à tragédia, foram-se sabendo algumas coisas. Fats Domino, afinal, acabara por ser resgatado de barco da sua casa inundada e fora ajudado e recebido no apartamento de Baton Rouge de um jogador da Louisianna State University. A maioria dos membros dos The Neville Brothers, cuja casa foi destruída, fugiram para Memphis e refugiaram-se num hotel local. A “rainha” da soul music de Nova Orleães, Irma Thomas escapou para casa de uma tia em Baton Rouge. O famoso compositor e membro da Rock and Roll Hall of Fame, Allen Touissant, foi visto a cirandar pelo caótico Superdome. O rocker Alex Chilton foi resgatado de helicóptero da sua casa na cidade.
Alguns músicos conseguiram sair da cidade com menor ou maior dificuldade. O saxofonista de jazz Donald Harrison perdeu a casa mas conseguiu escapar de New Orleans “com dificuldade”.
Os elementos da banda de rock The Iguanas escaparam para Memphis, Houston e Birmingham, no Alabama. “Vi na televisão a água quase no topo do centro comercial que fica perto de minha casa”, explicou desalentado o saxofonista da banda Joe Cabral.
O trompetista de jazz Terence Blanchard conseguiu fugir para Atlanta juntamente com a sua família e entretanto colocar a família num apartamento que mantem em Los Angeles. Terence, tem, entretanto, que gerir as datas de concertos já marcadas, como as de 15 e 16 de Setembro em Boston, a perda da casa da mãe, os estragos no seu estúdio de gravação e a condição de deslocado em Los Angeles.
Muitos músicos perderam ou receiam ter perdido familiares. O pianista de blues Dr John, surpreendido em tournée em Minneapolis, confessou à revista “Rolling Stone” não saber onde parava a família: “Tenho dormido uma hora por noite. Quase toda a gente que conheço, incluindo a minha família, está desaparecida. Podem estar em qualquer sítio”.
Tal como Dr John, muitos outros foram surpreendidos em tournée, como o cantor de música cajun Steve Riley, o artista de zydeco Geno Delafose ou o exímio guitarrista de blues Sonny Landreth, que tocaram no fim de semana passado no festival Rhytm & Roots, em Charlestown, Rhode Island.
Susan Cowsill, vocalista da banda de alternative-country The Continental Drifters, estava em Nashville. “Toquei em Nashville na noite passada e foi terrível, parecia que ía chorar a cada minuto”, explicou Susan à “Rolling Stone”.

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III- Nada matará a música da "Big Easy"

Ninguém sabe agora se um dia a “Crescent city” voltará a ser o que era. O realizador e natural de New Orleans Michael Murphy passou os últimos anos a filmar a cena musical da cidade para o documentário de 110 minutos “Make It Funky”, que estreou sexta-feira, dia 9 de Setembro nos Estados Unidos.
Michael Murphy filmou bandas de jazz a marchar pela Bourbon Street, entrevistou Cosimo Matassa, co-fundador dos famosos J & M Studios, gravou ao vivo Irma Thomas, o guitarrista Snooks Eaglin, os The Neville Brothers e Allen Toussaint. O filme procura, segundo o realizador, seguir a música de Nova Orleães até às suas raízes africanas e caribenhas.
Agora, Murphy receia que em vez de um tributo, tenha filmado uma espécie de obituário. “O que me parte o coração é a perspectiva de ter feito um filme sobre algo que desapareceu”, disse à Associated Press.
Muitos músicos de New Orleans vão ter que se fixar e procurar trabalho noutros locais. Uma das hipóteses credíveis é Austin, no Texas, senhora de uma cena musical feita de dezenas de bares e clubes que vão dos blues à country e à folk.
“Austin é uma irmã espiritual de New Orleans” explica a cantora de blues Marcia Ball, fixada na primeira mas nascida na Louisiana. “Por isso, é provável que acabe por receber músicos deslocados de lá. Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para ajudar”.
Se há quem pense em sediar-se em outras cidades, há também quem mantenha um optimismo a toda a prova e acredite no futuro da música de New Orleans.
Rio Hackford, dono do bar de rock do French Quarter “One Eyed Jacks” diz que toda a gente com quem falou pretende regressar. “Temos de reconstruir o maldito esqueleto da verdadeira, genuína cena musical da América. New Orleans é onde nasceu o jazz e sempre será. Vai ser uma confusão durante bastante tempo mas será uma confusão que produzirá bons temas. O espírito de New Orleans é muito profundo”, afirma.
O produtor Daniel Lanois, que manteve um estúdio de gravação no French Quarter entre 88 e 2001, também é outro optimista: “Tenho a sensação de que a comunidade musical vai arregaçar as mangas e continuar com as coisas. Trata-se de uma parte do mundo que já sofreu muito e, no entanto, muita música fantástica veio de lá. Por muito terrível que isto pareça, nada poderá matar alguma vez a música de New Orleans.”

2005-09-10

Benfiquista, treinador de bancada e apreensivo

Como benfiquista, tenho que desabafar e dizer que estou apreensivo para o jogo de logo à noite com aquela rapaziada que veste às riscas verdes. Outra vez três centrais? Karagounis de início? O homem não saíu do avião há bocado? Micoli de início? Estará devidamente entrosado com o resto da equipa? Carlitos de início, como diz "A Bola"? Geovanni no banco? Mantorras e Nuno Assis em casa? Bom, a ver vamos...e a torcer pelo Benfica do princípio ao fim.

BOSS EM SIMPÓSIO


Posted by Picasa Está a decorrer até domingo um simpósio, na universidade norte-americana Monmouth University, em New Jersey, sobre a obra do nosso gurú e as suas implicações em tudo e mais alguma coisa. Dissertações, teses universitárias, são mais que muitas.
Algumas das dissertações: "Springsteen and Critical Theory," "Springsteen and Dylan's American Dreamscapes," "Springsteen and Politics of Culture" ou "Springsteen and Rock 'n' Roll Iconography."
Amen.

OPORTUNIDADE


Posted by Picasa Uma grande oportunidade, é o que se pode dizer da noite de dia 12 no B' Leza, em Lisboa. O creme da música cabo-verdeana juntamente com a Banda B'Leza. Tudo no Largo do Conde Barão, 50, como sempre deveria ser, sempre.

CAROLYN COLE


Posted by Picasa Algumas, senão quase todas as minhas fotografias preferidas que tenho visto sobre a tragédia de New Orleans têm sido tiradas por esta mulher, Carolyn Cole, 44 anos, reporter fotográfica do jornal "Los Angeles Times".
Natural de Houston, ganhou o Prémio Pulitzer em 2004 pela cobertura fotográfica que fez do cerco a Monróvia. No mesmo ano, ganhou dois prémios da World Press Photo. Em 2003 fora nomeada para o Pulitzer pelas suas fotos na Igreja da Natividade em Belém, na Palestina. Na igreja ocupada por militantes palestinianos e cercada por tropas de Israel não havia mais nenhum fotojornalista. No mesmo ano, recebeu o Robert Capa Gold Medal.
Em 2002 vencera o prémio da National Press Photographers Association.

CAROLYN COLE


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2005-09-08

HOW HIGH'S THE WATER MAMA?


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Five Feet High and Rising
de Johnny Cash

How high's the water, mama?
"Two feet high and rising".
"How high's the water, papa?
"She said it's two feet high and rising."
"But we can make it to the road in a homemade boat,
"'Cause that's the only thing we got left that'll float
It's already over all the wheat and oats.
"Two feet high and rising."
How high's the water, mama?
"Three feet high and rising".
"How high's the water, papa?"
"She said it's three feet high and rising."
"Well, the hives are gone, I lost my bees."
Chickens are sleepin' in the willow trees.
"Cows in water up past their knees:"Three feet high and rising."
How high's the water, mama?
"Four feet high and rising".
"How high's the water, papa?"
She said it's four feet high and rising."
"Hey, come look through the window pane:"The bus is coming: gonna take us to the train.
"Looks like we'll be blessed with a little more rain:"Four feet high and rising."
How high's the water, Mama?
"Five feet high and rising".
"How high's the water, Papa?
"She said it's five feet high and rising."
"Well, the rails are washed out north of town:"We gotta head for higher ground".
"We can't come back till the water goes down".
"Five feet high and rising."
Well, it's five feet high and rising.

Público e Privado

O primeiro-ministro José Sócrates deslocou-se hoje a Tróia para carregar na alavanca ou botão ou lá o que é que permitiu implodir dois edifícios privados. Depois, voltou para o gabinete e ficou a trabalhar até tarde nos assuntos públicos. Parece-me bem.

2005-09-07

QUEREMOS FICAR


Posted by Picasa BBC News

Posted by Picasa Carolyn Cole/LAT

Muita gente nunca conheceu outra cidade. New Orleans foi sempre a sua casa. Resistiram sózinhos ao furacão e às cheias e não querem saír da "Big Easy"

2005-09-06

No tempo da PIDE

Segunda-feira, dia 5 de Setembro. Santana Lopes só é presidente da câmara até ao fim da semana. É tempo de iniciar a maratona de 27 inaugurações, entre equipamentos que já estavam prontos há muito e outros que só abrirão em Outubro.
“Se eu vou inaugurar uma estrutura em funcionamento, criticam. Se inauguro antes de estar a funcionar, criticam também. Sou preso por ter cão e preso por não ter”, desabafa.
No Parque Infantil do Alvito, onde descerra uma lápide relativa à segunda fase da intervenção, pronta há dois meses, é questionado sobre se o que ali está a fazer é ou não uma inauguração. “Esta é uma obra feita por nós e que está a funcionar há três semanas. Estamos a mostrar a obra feita por nós”, explica.
Na Ajuda, onde vai inaugurar as novas instalações do Mercado da Ajuda — que só entrarão em funcionamento em Outubro —, vários moradores, entre os quais Elisabete Almeida, moradora no número 7 da Travessa da Boa Hora, queixam-se ao autarca da obra do mercado lhes ter rachado as casas. “Tenho rachas em casa por causa da obra”, diz-lhe Elisabete. “Minha senhora, eu também tenho rachas em casa por causa de uma obra”, responde Santana.
Dentro do novo mercado, várias pessoas protestam pelo facto do equipamento ir permanecer fechado depois de inaugurado. “Isto é lamentável, é narcisismo puro, não é inauguração não é nada!”, grita um homem. Quando Santana Lopes descerra a lápide e discursa, é obrigado a elevar a voz para se fazer ouvir devido aos protestos de “isto é só demagogia!” e “isto é uma palhaçada!”.
O segurança de Santana dirige-se a um dos homens, de cima dos seus largos ombros, do fato preto, dos sapatos engraxados a rigor, do cabelo lambido pelo gel, dos olhos metálicos de mau da fita: “Ouça, diga ao seu amigo que tem de falar mais baixinho…” A resposta não se faz esperar: “Isso era no tempo da PIDE, no tempo da PIDE é que a gente não podia falar!”

2005-09-05

Um dia de sábado a ouvir música no Avante 2005

São 15h30 de sábado e no grande Palco 25 de Abril, na Quinta da Atalaia, Seixal, Kaló, o vocalista e baterista da banda de Coimbra Bunnyranch canta um blues/ rock bastante decente para centenas de jovens que, na relva do recinto, resistem estoicamente ao calor e à falta de sombra. Muitos fazem-no à conta de grandes quantidades de cerveja, vinho e hashishe.
Na relva, há de tudo: jovens em tronco nú enviando água para cima uns dos outros, outros vestindo t-shirt de Che Guevara, raparigas de saias compridas e design oriental, trintões de lenço palestiniano na cabeça circulando de garrafa de vinho na mão e famílias, como aquela cujo pai embala, no auge do calor, a criança dentro do carrinho, em cima de uma grande bandeira comunista estendida na relva.
Os Bunnyranch parece terem bebido tanto da soul, funk, rithm and blues e country dos anos 60 e 70, que é um prazer viajar com eles no tempo. O som emanado do orgão de Filipe Costa parece saído de um daqueles discos gravados em Memphis pelos Booker T and The MG’s.
De qualidade de som e visão do que se passa em palco, é coisa de que não se pode queixar a plateia. O palco é enorme, as colunas de som potentes, e os ecrãs dão a quem chegue pela primeira vez ao perímetro relvado, total percepção do que ali se passa.
O público resiste estoicamente ao calor e a turba em frente ao palco aumenta quando tocam os multifacetados Primitive Reason. Uma bandeira de Cuba e duas grandes bandeiras de Che Guevara agitam-se em frente ao palco, de onde sai uma mescla de funk,hip hop, ao mesmo tempo que o vocalista grita à cantor de “death metal” e provoca as primeiras cenas de “mosh” (basicamente pulos e pontapés) na plateia mais atenta. No meio do delírio musical dos lusitanos Primitive Reason, até a “Internacional” é interpretada e distorcida em guitarra eléctrica.
“Pessoal”, grita o apresentador Cândido Mota, vestido com uma t-shirt com a cara de Che Guevara, “’tou a ver aqui muita gente de costas viradas para o palco. Vamos lá ouvir o som da Galiza!”
Quando os politizados Skárnio começam a tocar, uma bandeira dos nacionalistas galegos agitada entre a pequena multidão, percebe-se que de galego só a língua. Os Skárnio, tocam ska (vertente acelerada do reggae) entremeado por trechos de discursos de Fidel Castro e gritos de “viva Cuba independente” e “por uma Cuba independente e socialista. O ska dos Skárnio é tão repetitivo e monótono que a plateia agradece quando a banda se lança numa versão de “A message to you Rudy, a canção do jamaicano Lee “Scratch” Perry que os The Specials popularizaram em 1979.
O vocalista despediu-se a gritar que “a revolução faz-se na rua”, o dj colocou a voz saudosa e arrepiante de Zeca Afonso a cantar “Grândola Vila Morena”, muitos punhos ergueram-se em direcção ao palco.
A Brigada Vítor Jara e os seus convidados (Lena D’Agua, Janita Salomé, Tomás Pimentel, António Pinto e Cristina Branco) surgem na altura certa, quando o calor abranda e o Sol começa a baixar. Quando Janita Salomé homenageia Zeca Afonso com a “Ronda das Mafarricas”- “Estavam todas juntas, Quatrocentas bruxas, À espera À espera, À espera da lua cheia”- já um público mais velho se instala na relva e nas suas imediações.
A Brigada Vitor Jara dedica uma canção de embalar às crianças de Bagdad e às de New Orleans antes da voz de Cristina Branco nos afagar os ouvidos. É um fim de tarde melancólico, português quanto baste, o violino dialogando com a belíssima voz da fadista.
Depois de tanta melancolia lusitana, ninguém esperaria a autêntica homenagem indirecta a New Orleans prestada em palco pelo rithm and blues da enorme banda (dez elementos) que o guitarrista inglês Otis Grand trouxe ao Avante. Com ele, num magnífico banquete de soul, blues e boogie, estiveram o vocalista de Saint Louis Jimmy Johnson, a cantora blues de Chicago Deitra Farr e os fantásticos The Boston Horns. Pena foi que muita gente estivesse a jantar aquela hora ou, simplesmente à espera dos inevitáveis e incontornáveis Xutos e Pontapés. Otis Grand terminou com um boogie portentoso, ergueu a guitarra e beijou-a, tudo antes de surgir Cândido Mota e perguntar: “Quem é que nós queremos?” A multidão a uma só voz: “Os Xutos!”
A actuação acelerada dos Xutos & Pontapés juntou velhos e novos, crianças e idosas a cantar “Olá oh vida malvada” ou “Dá um mergulho no mar”numa multidão que extravasou o recinto. Alguma, pouca confusão, gerou-se à frente do palco, houve que socorrer alguns jovens algo maltratados mas, de resto, o rock dos Xutos tomou conta de todos. Quando se ouviram as estrofes de “a minha linda casinha” foi o delírio inter-geracional. Uma criança em cima de uma cadeira cantava a letra do princípio ao fim ao lado da avó, igualmente fã incondicional.
A noite fechou com os Clã. Muitos dos “xutomaníacos” debandaram, exaustos ou deixaram-se ficar a dormir na relva mas o recinto permaneceu cheio e entusiasta enquanto Manuela Azevedo cantava na noite morna sob uma luz azul de céu artificial que emanava dos ecrãs da Atalaia.
Nuno Ferreira

2005-09-04

Erros e disparates

Excertos do texto "O IRAQUE E NOVA ORLEÃES" do General Loureiro dos Santos, publicado hoje no Jornal "Público"

" (...) as Forças Terrestres norte-americanas profissionais, no activo, não são suficientes para suportarem militarmente os ambiciosos objectivos estratégicos definidos pela Administração Bush, muito menos para remediarem os erros que vêm sendo cometidos, especialmente no Iraque, a começar pela própria invasão".

"A extensão dos erros cometidos com a definição de objectivos políticos para os quais os Estados Unidos não possuem meios, e todos os que se lhe seguiram na execução das operações, deixaram o mundo verdadeiramente atónito. Estávamos habituados a observar uns EUA organizados, prestigiados, poderosos, actuando com inteligência e sensatez, portanto incapazes de fazer os disparates a que assistimos ultimamente.Parece que tais erros não se limitam à política externa, à sua articulação com a política militar, e à conduta operacional. Eles, afinal, também ocorrem na ordem interna, como o furacão Katrina está a demonstrar plenamente.
É visível, antes de tudo, a falta, verdadeiramente surpreendente, de uma estratégia preventiva. Aqui, sim, deveria ter sido posta em acção uma prevenção que tivesse reparado falhas e deficiências conhecidas, cuja resolução teria evitado em grande parte a dimensão da tragédia. Mas também está patente na ausência de planos de resposta credíveis, com meios e articulação suficientes, actuando em tempo útil, antecipando-se ao alargamento e aprofundamento de situações que passam rapidamente a irremediáveis. E vê-se, com nitidez, na incapacidade de garantir a lei e a ordem, e de impedir que Nova Orleães se tivesse transformado numa cidade controlada e dominada por gangs do crime, onde se instalou a desordem e a anarquia, e o saque campeia.
Como é possível que os Estados Unidos estejam a degradar tão fortemente aquela ideia que tínhamos da grande, poderosa e prestigiada nação americana, a potência que todos nos habituámos a considerar como absolutamente indispensável, para resolver os principais problemas com que mundo se confronta?"

CENSURADO


Posted by Picasa Quando o cantor de rap Kanye West disse num programa de beneficiência, sexta-feira à noite, em directo na NBC, que o Presidente Bush "não se preocupa com os negros", caíu o Carmo e a Trindade. A estação de televisão não conseguiu fazer nada no momento mas três horas mais tarde, na versão editada e transmitida para a Costa Oeste dos Estados Unidos, censurou a afirmação. Kanye disse ainda: "Odeio a forma como nos mostram (os negros) nos media. Se se vê uma família de negros, diz-se que está saquear. Se se vê uma família de brancos, está à procura de comida".

My City Of Ruins


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My City Of Ruins
de Bruce Springsteen

There is a blood red circle
On the cold dark ground
And the rain is falling down
The church door's thrown open
can hear the organ's song
But the congregation's gone
My city of ruinsMy city of ruins
Now the sweet bells of mercy
Drift through the evening trees
Young men on the corner
Like scattered leaves,
The boarded up windows,
The empty streets
While my brother's down on his knees
My city of ruins
My city of ruins
Come on, rise up!
Come on, rise up!
Come on, rise up!
Come on, rise up!
Come on, rise up!
Come on, rise up!
Now's there's tears on the pillow
Darlin' where we slept
And you took my heart when you left
Without your sweet kiss
My soul is lost, my friend
Tell me how do I begin again?
My city's in ruins
My city's in ruins
Now with these hands,
With these hands,
With these hands,I pray Lord
With these hands,
With these hands,
I pray for the strength, Lord
With these hands,With these hands,
I pray for the faith, Lord
We pray for your love, Lord
We pray for the lost, Lord
We pray for this world, Lord
We pray for the strength, Lord
We pray for the strength, Lord
Come onCome onCome on, rise up
Come on, rise upCome on, rise up
Come on, rise upCome on, rise up
Come on, rise upCome on, rise up
Come on, rise upCome on, rise up

O primeiro disco que comprei do Fats Domino, em vinil, em 1977. Gravado ao vivo na Alemanha, é uma festa do princípio ao fim Posted by Picasa

The MAN is alive


Fats Domino em Baton Rouge junto ao jogador da Lousianna State University (LSU) que lhe deu abrigo Posted by Picasa

GUMBO DREAMING


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Hello New Orleans
de Robert Earl Keen (Álbum Gravitational Forces)
Standin’ here beside this freeway wishing I was high
Wondering why she said she loved me then she said goodbye
I’m down to my last dollar in these faded old blue jeans
So adios to Amarillo, hello New Orleans
Her hair was made of summer sunlight the moon lit in her eyes
Her voice would ride the wind at midnight across the starry skies
Love is blind that’s what they tell me in all those magazines
So adios to Amarillo, hello New Orleans
We talked about our lives together we talked about our plans
We walked through rain and windy weather across the shifting sands
She took the car that’s how I know this ain’t no crazy dream
So adios to Amarillo, hello New Orleans
I’ll eat my fill of jambalaya and crawfish etouffe
I’ll drink the Mississippi dry, laissez les bon temps rouler
I’ll trade her memory in on one of those Cajun queens
So adios to Amarillo, hello New Orleans
So adios to Amarillo, hello New Orleans

2005-09-03

STOP PLAYIN' GOLF


Posted by Picasa "We're americans too, Mr Bush! Stop playing golf and come help us!"

Bushices

A progressão difícil mas lenta para a democracia no Iraque continua. Os diques abertos na administração Bush estão a ser rápidamente restaurados. Por favor, voltem para as vossas casas. Perdão, esperem pelos autocarros. Não permitam que um simples furacão dê pretexto aos terroristas para atacar a nossa querida nação. Cada sniper em cima de um prédio de New Orleans é um serviçal indirecto dos terroristas e de quem deseja aniquilar as forças da liberdade e da democracia. Para mais informações, leiam o Abrupto ou vejam a Fox. Agora deixem-me em paz.

2005-09-02

DEBAIXO DO TAPETE


Posted by Picasa AP

Foi preciso o Furacão Katrina e as águas inundarem-nos a cidade para se lembrarem da gente. Sim, somos gente, apesar de pobres, negros e de vivermos à custa da segurança social e dos subsídios de desemprego. O presidente Bush não gosta da gente porque votamos sempre no Partido Democrata. O homem gostava de nos varrer para debaixo do tapete, oh se gostava. Pudera, com os Democratas no poder sempre temos um bocadinho mais de saúde, educação e assistência social. Eu não me interessa nenhuma guerra no Iraque nem guerra em raio de sítio nenhum por perto. A única vez que saí de New Orleans foi para visitar a Tia Augusta em Opelousas. Bem que eu gostava de lá ter ficado no campo. Esta cidade já não é boa seca quanto mais inundada. Tiros, crack, um calor e humidade insuportáveis, nicle de emprego. Bom, mas agora acabou-se. Vou comprar um bilhete para mim e para a minha filha na Greyhound e vamos bater à porta do Uncle David em Shreveport. A mãe Bell diz que ele está morto mas eu não acredito. Bem vi os envelopes amarelados por debaixo da caixa onde ela costuma guardar os cheques da segurança social. Vou arranjar para mim e para a Susie uma nova vida e vou empregar-me num Taco Bell e arranjar um namorado novo e frequentar o clube local às sextas à noite. Oh, sim, se vou. Maldita New Orleans.

SOUTH TO LOUISIANNA

“Church Point” é provavelmente a cidade com mais músicos de cajun no mundo!”, comenta um eufórico e exuberante Rod Fuselier, disc-jockey na KSLO-KOGM, de Opelousas, Louisianna, plena pradaria do Cajun Country. “Muitas famílias foram sempre tendo tocadores de violino e acordeão em cada geração. Os pais passaram aos filhos”.
Rod está a cobrir nesse sábado quente e húmido, o Festival de Church Point onde a grande atracção, como não poderia deixar de ser, são as bandas de música tradicional da Louisianna, a Cajun, esse som diabólico produzido pela mistura dançável do acordeão e do violino e cantado no francês local, uma mistura de inglês e francês arcaico.
Por todo o lado, no recinto da festa, há homens de boné à banda e mulheres de camisolas sem manga, enquanto alguns rednecks da zona fazem questão de passear de lata de Budweiser na mão e t-shirt sulista. Numa das t-shirts, existe um X dos Confederados e uma legenda onde se lê “you wear your X, I wear mine” ( “tu vestes o teu X, eu visto o meu”) e noutra, mais sugestiva e explícita, lê-se: “General Lee surrendered, I didn´t” ( “O General Lee rendeu-se, eu não”.
Em redor da enorme tenda, que serve de pista de dança, uma pequena multidão de cajuns bebe insaciavelmente latas de Bud Light e conversa animadamente. Alguns, já cambaleiam embriagados mas ninguém briga, como se fizessem jus a essa máxima cajun: “Laissez le bon temps rouler!” Em frente ao palco, dezenas de casais rodopiam abraçados, dançando à moda da Louisianna: o homem e a mulher vão dando voltas à pista, acelerando à medida que o ritmo do acordeão se enferniza.
Os velhos demais para dançar, sentam-se em cadeiras de praia que trouxeram de casa e batem o pézinho, deliciados. Muitos são músicos amadores da região, atraídos nesse fim de semana a Church Point por causa do Festival. “Eu estou onde estiver a haver uma festa cajun, percebe. Se passar um fim de semana sem dançar, já não é fim de semana para mim”, explica Stanley Hebert, um técnico de semáforos que dedica os tempos livres a tocar e ensaiar com a sua banda, os “T-Star And His Cajun Band”. Stanley ainda se lembra do tempo em que o pai, Aldus Roger, o ensinou a tocar em festas de família, as famosas “house parties”. “Arredava-se os móveis e fazia-se a festa em casa de alguém que alugava a sala. Não havia bares nessa altura. A festa só terminava quando chegava a polícia”.
Rod Fuselier vê-nos ali e não perde tempo a pegar no microfone e a anunciar à audiência da KSLO-KOGM: “Eh pessoal, temos aqui pessoas de Portugal, Espanha, eles vieram precisamente de Portugal, Espanha para fazer uma reportagem aqui em Church Point sobre a música cajun! Digam-me: Que tal é o interesse do público pela música cajun lá em Portugal, Espanha?”
O show radiofónico de Fuselier, às terças-feiras à noite na KSLO-KOGM, chama-se “Yamland Fais-Do-Do”, remetendo para o facto de Opelousas ser a “capital of the world” do yam (batata doce) e utilizando o termo francês “fais do do”, que em França significa “fazer ó ó” e que ali, a milhares de quilometros de distância significa dança e diversão. “É tudo em francês”, explica Fuselier, que tem o show há seis anos. “Grande parte do programa é tradicional porque é o que os meus ouvintes gostam mais mas também passo um bocadinho de progressive cajun e uma canção de zydeco por hora”.
Church Point é uma pequenina cidade de moradias de madeira com extensos relvados e cadeiras de baloiço onde qualquer estranho que passeie de máquina fotográfica a tiracolo na Main Street é imediatamente detectado. “Você só pode ser o Nuno, de Portugal!”, saudou alegremente Francis Mouillé II, presidente da Acadian Music Heritage Association, uma associação que defende a preservação da cultura acadiana ou cajun.
Church Point está situada geográficamente bem no meio do Cajun Country ou Acadiana, a região a sudoeste de New Orleans onde se estabeleceram os francófonos da Acádia (actualmente Nova Escócia, no Canadá) depois de em 1755 o governo britânico os ter expulsado. Apesar de em 1916, o Estado da Louisianna ter banido a língua francesa das escolas, a cultura de ascendência francesa, tem-se mantido e passado de geração em geração. Os seus expoentes máximos ou, pelo menos, as pontas mais visíveis do iceberg, são a culinária e a música cajun.
Contrariando tudo o que se fizera em 1916 para apagar os traços da cultura de origem francesa, o Estado da Louisianna criou em 1968 o CODOFIL (Council For The Development Of French In Louisianna). Ao mesmo que o CODOFIL lançava uma batalha para preservar a língua francesa, ou melhor, a sua versão cajun, músicos como Dewey Balfa, Nathan Abshire, D.L. Menard., Michael Doucet ou Zachary Richard começavam a tornar a até aí obscura música cajun exposta do grande público. O mesmo se passava com a mais ritmada versão negra da cajun, o zydeco, com artistas como Clifton Chenier, Rockin’ Doopsie e Boo Zoo Chavis.
Hoje, visitar Church Point é mais ou menos como estar no epicentro da música Cajun, se bem que ela esteja disseminada em clubes, casas e restaurantes de Crowley, Lafayette, Opelousas, Eunice, Ville Platte. “Bem vindo à terra da cajun music!”, saúda alegremente Francis Mouillé, ainda vestido com o fato de macaco com que trabalha. Meia hora mais tarde, já estamos a beber uma cerveja no alpendre de Francis, enquanto ele saqueia a sua propria colecção de cassettes cajun: “Toma esta, é fantástica! E esta também! E mais esta! You’re gonna love it!”
Seja no alprendre com cadeira de balouço de Francis Mouillé, na pequena loja de discos de Lee Lavergne ou no supermercado de electrodomésticos onde trabalha o músico Mister “Bee”, parece que há tempo para tudo. Os habitantes rodam as grandes viaturas americanas pelas ruas bem delineadas e acabam no único estabelecimento de comida da terra, um edifício baixo onde negras grandes, gordas e suadas servem “fried chicken” enquanto adolescentes de boné ao contrário na cabeça saem das suas pick-up truck para se servirem de gelo e coca-cola na máquina dos fundos.
Mister “Bee” recebe-nos no escritório de um estabelecimento de electrodomésticos. São duas da tarde e numa pequenina cidade da Louisianna, a essa hora, é pouca a clientela e muitos os amigos conterrâneos que vêm até ali dar dois dedos de conversa com “Bee”. Enquanto esperamos por ele, vão chegando homens, que invariavelmente se apresentam como músicos.
“Yeah, eu também sou músico”, explica alegremente Major Handy, um negro vestindo uma farda azul de camionista onde se lê Southland Truck Center, “conhece o Rockin’ Dupsee? Pois eu toquei guitarra na banda dele durante muitos anos. Agora, só toco aos fins de semana. Hoje é sexta-feira, vou tocar num restaurante aqui perto. Mas espere aí, fique com o meu cartão!”
O trajecto musical da família de Mr “Bee” é exemplar de como a música tradicional da região se propaga de gerações em gerações, sem nunca se perder. “O meu avô era acordeonista, a minha avó também. A minha mãe cantava e ensinou-nos hinos religiosos. Eu toco violino e steel guitar nos “Church Point Playboys”, o meu filho tem uma banda em Alexandria, o meu neto também toca. Às vezes, temos três gerações de músicos a tocar, lá em casa”.
Elton “Bee” Cornier, aliás “Mr Bee”, é uma das razões porque a música cajun se tem mantido tão forte junto dos jovens locais. “Nos anos 60, havia pouca gente a tocar acordeon, os donos dos estúdios diziam que a cajun estava a morrer e quem tocava eram os mais velhos, dos 45 anos para cima. Nessa altura, eu passei a tocar muito em bares. Um dia, um rapaz veio pedir-me que lhe ensinasse a tocar acordeon porque os antepassados dele também tocavam. Eu não fiz mais nada, levei-o comigo para o bar “Uncle Jake”, ele acabou por passar a tocar comigo. Os outros viram-no a tocar, vinham ter comigo para os ensinar a eles também e quando o primeiro teve de deixar a banda porque eu não tinha dinheiro para lhe pagar, arranjava sempre outro jovem para o substituir”.
Foi o “Mr Bee” que organizou pela primeira vez o “Cajun Music Day In The World” (O Dia da Cajun Music) e que criou o concurso de acordeon de Church Point. Logo da primeira vez, teve 15 jovens a concorrer. “Eu não os ensino ou não me limito a ensiná-los, eu levo-os comigo, ponho-os na minha banda, eles expoem-se ao público”. Uma vez, em Lewisburg, Mr Bee levou quatro rapazes com 18 anos a tocar na sua banda. “Não era suposto levar menores para um bar, tive de pedir autorização ao sherife local”.
Quando tentou gravar os seus jovens músicos, de maneira a que as rádios locais pudessem passar a sua música, nenhum dos quatro estúdios onde foi, os quis gravar. Disseram-lhe que a música cajun era coisa do passado. “Eu disse-lhes que estavam a cometer um grande erro. Montei um pequeno estúdio atrás de minha casa e é lá que gravo tudo”.
Quando visitamos o pequeno estúdio em madeira em pleno quintal da família Cornier, é com um ar embevecido que “Mr Bee” nos põe a ouvir uma cassete com a gravação de uma rapariga de oito anos que toca o acordeão quase como um adulto e canta com uma voz angelical. “Não tem uma voz fantástica?”
Lá fora, a balouçar com a nora numa enorme cadeira de balouço ao fim da tarde abafada da Louisianna, a esposa de “Mr Bee” conta-nos os seus progressos a acompanhar o marido com um triângulo de metal onde vai batendo sincopadamente com um ferrinho. “Tenho de treinar porque daqui a um mês, vamos todos tocar durante vários dias num cruzeiro pelas Caraíbas e tenho de estar preparada”.
A música está tão impregnada no modo de vida dos cajuns quanto a culinária, repleta de “crawfish” e caranguejo cozinhados com os mil e uns temperos da comida cajun. Aos sábados, em muitos bares do Cajun Country, que se estende como um círculo a partir de Lafayette, já se dança às 9h00 da manhã. Mas a música cajun traz à memória, também, recordações tristes e é muito usada em funerais.
“Um dia, a mulher de um amigo meu, que estava muito doente, chamou-me lá a casa”, conta “Mr Bee”, “Eu pensei que fosse algum problema com impostos e que quisessem que os ajudasse. Cheguei, ele estava deitado na cama a ouvir uma cassette. Perguntei-lhe: “Como é que estás?” Ele respondeu: “Estou bem, estou a morrer. Ouve, quero que tu vás tocar no meu funeral e vou-te dizer os músicos que eu quero que tu leves”. Eu disse-lhe: “Que disparate, tu não vais morrer...” Obrigou-me a prometer que não falhava e não falhei. Foi o primeiro funeral em que toquei”.
Uns cem metros do outro lado da Main Street de Church Point, a loja de Lee Lavergne é um pequeno estabelecimento de província, carregado de imensos singles de zydeco e cajun, fotos amarelecidas de bandas de cajun, velhos song books, guitarras penduradas na parede. Ali, dir-se-ia que o tempo parou. Uma negra entra na loja para saber se Lee tem uma ficha nova para o seu velho transístor. É numa pequena dependência atrás da loja que ficam os estúdios da Lanoir Records, uma salinha com um pequeno bar porque tocar zydeco ou cajun e não ter nada para beber não é possível. É ali que várias noites por semana Lee queima as pestanas a gravar inúmeras bandas regionais.
“Hoje em dia, já ninguém tem vergonha em dizer que gosta de cajun”, explica Lavergne, que sabe falar francês mas não consegue escrever nem ler. “Quando eu andava no liceu, uma rapariga não namorava comigo se soubesse que eu gostava de cajun. Era uma música conhecida como música dos pobres. Agora, a música cajun foi exposta e é vista como algo de grande pelos estudiosos. O mesmo aconteceu com os blues do delta do Mississipi”.
Agora, o som que Lee Lavergne se habituou a gravar tem vindo a mudar aos poucos. “Os jovens músicos, estão a mudar a música cajun, esta já não é tão tradicional. De tal modo, que hoje os velhos ouvem ainda a cajun tradicional e os novos ouvem a cajun mais moderna, que chamamos de “progressive cajun”. Eu gosto das duas, porque no fundo gosto de tudo o que seja criativo”.
Manter uma pequena editora discográfica especializada, como a Lanoir Records, não é fácil. “As multinacionais devoram tudo. Era mais fácil para mim quando comecei nos anos 60. Gravei muita coisa aqui no estúdio para outros. Agora, limito-me a fazer para a Lanoir Records e mesmo assim, dá muito trabalho. Já fiz um album em três horas mas na maior parte dos casos, levo umas dez horas a gravar e outras dez na mistura. Eu tento não ocupar mais de três noites por semana porque depois acaba por ser demais para os meus ouvidos.”
O que ajuda a rentabilizar um mercado tão pequeno e tão especializado, são os fãs que a cajun e o zydeco já conquistaram por todo o mundo. “Tenho um agente em Londres que distribui em Inglaterra, na Alemanha e na Holanda e depois, vendo para todo o mundo através de catálogo. Ainda há pouco tempo vendi muito material para o Japão”.
Andrew Jagneaux vive no fim da pequenina cidade, numa zona onde as moradias já se misturam com o campo a perder de vista e onde apenas uma placa dando as boas vindas à “buggy capital of the world” assinala o início e o fim da povoação.
Jagneaux, acordeonista auto-didacta dos “Church Point Playboys” é o único na cidade a construir os pequenos acordeons utilizados na música cajun. Na arrecadação, tem guardadas peças em madeira. “Estão à espera que o tempo esteja seco, para poder pintar”. Recebe-nos na mesa da cozinha, explicando à mulher: “Esta gente é das Honduras. Adoram a nossa música”. Pergunta a mulher: “Há muita música lá nas Honduras?”.
Meia hora de explicações geográficas mais tarde, relativamente esclarecido de onde fica Portugal, Jagneaux conta quando, em França, na IIª Guerra Mundial, o General lhe pediu que servisse de intérprete. “Eu não percebia nada, era como se fosse outra língua. O nosso francês é muito arcaico e tem muitas palavras inglesas misturadas”.
Passada a moradia de Andrew Jagneaux, fica o campo e a estrada leva-nos num pulo à I-10, onde camiões com a grelha da frente desenhada à maneira dos confederados provocam uma deslocação de ar à sua passagem. Para sul, ficam os bayous com os seus crocodilos e caçadores furtivos. Para oeste, em duas horas, está-se no Texas. Para leste, fica o Plantation Country de Baton Rouge, que uma auto-estrada sobre pilares erguidos por cima dos pantânos liga a New Orleans.
É fim de semana, deixamos a Louisianna em direcção a Beaumont, Texas e sintonizamos o rádio do Dodge Spirit à procura dos programas de cajun locais. Até que ouvimos um acordeon e uma voz cantar: “Oublie pas qu’on est Cadien/ Mais cher garçon, mais chére petit fille/ On était ici avant les Américains/ On sera ici après qu’ils sont partis/ Ton papa e ta maman étaient chassés de l’ Acadie/ Pour le grand craint d’ être Français/ Mais ils ont trouvé un beau pays/ Merci Bon Dieu pour la Louisiane”.

BEM APARECIDOS

Irma Thomas está em Baton Rouge e Fats Domino também está, aparentemente, são e salvo.

Sweet Memories


New Orleans, 1995 Posted by Picasa

Onde está Irma Thomas?


Posted by Picasa Aos poucos, vai-se procurando saber o que é feito de comunidade musical de New Orleans. Sabe-se que os The Neville Brothers estão num hotel em Memphis mas além do desaparecimento de Fats Domino, ninguém sabe ao certo onde para Irma Thomas, a rainha soul da cidade. Allen Toussaint foi visto no Superdome.

Uma herança musical debaixo de água

Texto de Chet Flippo

Colaborador da Billboard (traduzido à pressa)

Para já,daquilo que sabemos, o que sobreviveu dos locais musicais e do material de arquivo musical, especialmente gravações em fita e documentos originais, só podemos esperar que não se esteja perante um desastre cultural total, ao mesmo tempo que se vive uma tragédia humana sem precedentes.
A história da música na “Crescent City” é incrivelmente rica e mantem-se inultrapassada por qualquer outra cidade norte-americana. O Dixieland jazz, o rithm and blues, a funk, backbeat, o zydeco, a cajun, jazz, blues e tudo o resto, a música de New Orlenas é uma mistura excêntrica de diferentes estilos. Uma mistora do Velho Mundo com o Novo Mundo, de África com a Europa e o velho Sul, é uma música que não tem fronteiras.
Fazer uma lista de todos os grandes músicos da área de New Orleans ou que fizeram dela a sua casa, é como ler poesia: Louis Armstrong, King Oliver,Kid Ory, Professor Longhair, Aaron Neville, The Meters, The Wild Tchoupitoulas, The Neville Brothers, Fats Domino, Dr John, Huey “Piano” Smith & The Clowns,Frankie Ford, Clarence “Frogman” Henry, Jimmy Clanton,Bobby Charles, Ernie K-Doe, Larry Williams, Shirley & Lee, Guitar Slim, the Spiders, Earl King, "Snooks" Eaglin, Chris Kenner, Joe Jones, Barbara George, Jessie Hill, Johnny Adams, Eddie Bo, Bobby Marchan, Lloyd Price, Smiley Lewis, Roy Brown, Lee Dorsey, Irma Thomas, Champion Jack Dupree, the Preservation Hall Jazz Band, Pete Fountain, Wynton Marsalis, Rockin' Dopsie, Rockin' Sidney, the Olympia Brass Band, Johnny Adams, Jimmy C. Newman, Doug Kershaw, the Dixie Cups e muitos muitos mais.
Não existe dúvida que, hoje, a música de New Orleans é mais “ontem” do que “agora”. Mas o “ontem” é tão significativo e tão memorável que tendemos a não avaliar bem o que se está a passar hoje.
As minhas memórias musicais são hoje até mais queridas sabendo que não poderei regressar à cidade que existiu. Nuca esquecerei os dias que passei no Royal Orleans Hotel com os Rolling Stones quando se preparavam para uma tournée pelos Estados Unidos em 1975. Tive a possibilidade de os ouvir falar do seu entusiasmo pela música de New Orleans e as suas raízes.
Não consigo imaginar nunca voltar ao Tipitina’s, onde passei muitas noites. Tudo pode ter desaparecido,juntamente com o mundo da Bourbon Street, o Brass Rail Club, Dave Bartholomew, Cossimo Matassa, Allen Toussaint, Ace Records, Storyville, a Louis Armstrong Society, a Funky Butt Hall, Marshall Sehorn, o Preservation Hall, o Sea-Saint Recording Studio. Um mundo que provavelmente nunca veremos outra vez.O que vai acontecer ao incomparavel New Orleans Jazz & Heritage Festival? É demasiado cedo para o saber. E o Mardi Gras? Desaparecerá?O que sera dos músicos, dos clubes de New Orleans? Uma cidade musical foi silenciada.
É muito perturbador saber, também, que vários músicos,incluindo Irma Thomas, estão desaparecidos em New Orleans.
Partilhem uma lágrima e uma oraçção pela sobrevivência da grande herança musical de New Orleans.

2005-09-01

FATS DOMINO DESAPARECIDO EM NEW ORLEANS


Posted by Picasa Não é só de uma crise humanitária que se trata em New Orleans, é uma capital do jazz, blues, cajun, zydeco, que está debaixo de água. Fats Domino está desaparecido e existem rumores acerca da rainha da soul music da "Big Easy", Irma Thomas.