estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2005-03-31

Vai deixar-nos trabalhar, está bem?

"Uma mulher morta à facada hoje de madrugada aqui na avenida? Não sei de nada", diz o empregado de mesa. "Pergunte aqui ao lado". Pergunto ao empregado do talho. "À uma da manhã? A essa hora está tudo fechado. Eu não ouvi falar de nada".
Na esquadra da PSP de Chelas, o agente de serviço recosta-se na cadeira e sorri: "Foi aqui, foi. Mas só agora é que vocês vêm? Olhe que aqui em Chelas acontece muita coisa e não vos tenho visto por aqui". Peço para falar com o comandante mas sem sucesso. "Já sabem como são as normas, tem de pedir informações às relações públicas do comando geral". Explico que as relações públicas pouco adiantaram sobre o esfaqueamento. "Ah, quer o número da porta? Não lho posso dar..." Antes de saír ainda lhe suplico uma pista: "Não me pode dar só uma pista?" Responde: "Vá sempre em frente até lá abaixo, à zona demarcada...", diz a sorrir.
A zona demarcada é a Zona J de Chelas. Pelo caminho, encontro um reporter fotográfico e uma colega jornalista, ambos desorientados: "Dizem que foi ali ao pé daquele candeeiro, que havia sangue no chão, não 'tá lá nada". Farejo os postes dos candeeiros feito Sherlock Holmes de trazer por casa. Nem uma pinta de sangue. Entro no restaurante atascado mais próximo, já na Zona J. Uma mulher jovem serve um copo de branco, ri-se e grita: "Oh Paulo, ouviste falar nalgum esfaqueamento em Chelas? Vê lá tu, um esfaqueamento em Chelas! Não, não sabemos de nada!"
Regresso abatido pela avenida. De repente, vejo parar dois carros de onde saem vários homens. Um traz uma máquina fotográfica ao tiracolo. Outros calçam botas de cano alto. Um homem alto e com cara de poucos amigos coloca uma placa amarela com o número 1 junto ao passeio. Depois, vai até ao caniçal próximo e coloca a placa amarela com o número 2. "Vocês são da Polícia Judiciária?", pergunto-lhe. "Somos. E você? Jornalista? Vai deixar-nos trabalhar, está bem?"

Mijou que eu vi!

Praça da República, Coimbra, cerca das 2h00 da manhã. "Oh chefe! Chegue aqui!" Oh chefe? Oh chefe chegue aqui? Mas que modos são estes? Eu paguei a conta...Volto atrás e deparo com um empregado pequeno, ruivo, a marca de um qualquer acidente no olho esquerdo que lhe entorta a sobrancelha. "Ouça lá, você sabe que mijar é no urinol, não é no lavatório..." São duas da manhã, já passaram por aquele café esplanada da Praça da República dezenas e dezenas de bebedores de cerveja.
O tribunal está, contudo, montado. Um outro empregado observa-me de alto a baixo. De que é que você está a falar?, pergunto. O empregado do olho torto explica que um cliente me viu a urinar para o lavatório da casa de banho. Não posso crer. Dirijo-me ao balcão, peço o livro de reclamações, exijo que tudo seja esclarecido senão deixarei a minha raiva e revolta gravadas com furor no livro de reclamações. "Eh pá, oh chefe, não se exalte, é que um cliente diz que o viu..." E onde está o imbecil desse cliente? "Eh pá, isso aí..."Dez minutos mais tarde. Explico que dali não saio. Das duas uma, ou me dão o livro de reclamações ou o cliente aparece para pôr tudo em pratos limpos.
Reparo no rosto encabulado de um homem jovem, de cabelo eriçado com gel e uma camisa barata estilo Hawai via Feira da Malveira. De tanto lhe dirigir o olhar rancoroso, levanta-se e vem ter comigo: "Ouça, fale baixo, se você não fala baixo não dá para nos entendermos". Falar baixo? "Então você diz aos empregados que me viu a mijar no lavatório e agora quer que eu fale baixo?" Argumenta que me viu a saír da casa de banho e que quando lá entrou o lavatório cheirava a mijo. "E então?", pergunto. "Pronto, não vi nada, errei, peço desculpa..." O empregado do olho torto: "Oh chefe, pronto, peço desculpa..."
Saio porta fora, um suor animal a molhar-me a testa e a colar-me a t-shirt às costas. Entro noutro café da Praça da República. Peço outra cerveja sem alcool. Bebo-a de um trago. Não, não fui à casa de banho.

Mais sacrifícios?

1- João, olha o que diz aqui no jornal...
2- Humm...o quê?
1- O jornal "Finantial Times" diz que é preciso fazer sacrifícios em Portugal!
2- 'Tás a brincar? Mais ainda?
1- Diz que o cenário económico de Portugal continua a ser muito difícil.
2- E eu ralado. Oh cara, traz aí mais uma caipirinha. Capricha nisso, tá?
3- Concerteza, patrão, cê que manda...
1- Diz que a seca ainda piorou as coisas...
2- Uma g'anda seca 'tás me tu a dar. Olha, é da maneira que fico aqui por Porto Galinhas!

Experimenta trabalhar nas obras!

"O meu trabalho é o mais difícil do mundo"
José Manuel Durão Barroso
Revista Focus, 30/3/2005
Isso é porque nunca trabalhaste nas obras, malandro!

Democracia líbia nas camisolas da Juventus

O presidente da Líbia, Muhamar Kadhafi, reforçou a sua posição na equipa italiana de futebol Juventus, na qual já é o segundo accionista, com 7, 5 por cento, através da sociedade financeira Lafico. A companhia petrolífera de Kadhafi, Tamoil, vai tornar-se no único patrocinador a dar o nome nas camisolas a partir de 1 de Julho, a troco de 24 milhões de euros durante os próximos cinco anos.

2005-03-30

Ol' Boss 's coming back!

Bom, acabei de ouvir a primeira canção do álbum "Devils and Dust" de Bruce Springsteen, a lançar dia 26 de Abril. Vem na tradição acústica dos álbuns "Nebraska" e "The Ghost Of Tom Joad" e a mensagem tresanda à Guerra do Iraque. Good Ol' Boss 's coming back!

DEVILS AND DUST
(Bruce Springsteen)
I got my finger on the trigger
But I don't know who to trust
When I look into your eyes
There's just devils and dust
We're a long, long way from home,
Bobbie Home's a long, long way from us
I feel a dirty wind blowing Devils and dust
I got God on my side
And I'm just trying to survive
What if what you do to survive
Kills the things you love
Fear's a powerful thing, babe
It can turn your heart black, you can trust
It'll take your God filled soul
And fill it with devils and dust
Well I dreamed of you last night
In a field of blood and stone
The blood began to dry
The smell began to rise
Well I dreamed of you last night, Bobbie
In a field of mud and bone
Your blood began to dry
And the smell began to rise
We've got God on our side
We're just trying to survive
What if what you do to survive
Kills the things you love
Fear's a powerful thing, baby
It'll turn your heart black,
you can trustIt take your God filled soul
Fill it with devils and dust
It take your God filled soul
Fill it with devils and dust[Harmonica]
Now every woman and every man
They wanna take a righteous stand
Find the love that God wills
And the faith that He commands
I've got my finger on the trigger
And tonight faith just ain't enough
When I look inside my heart
There's just devils and dust
Well I've got God on my side
And I'm just trying to survive
What if what you do to survive
Kills the things you love
Fear's a dangerous thing
It can turn your heart black,
you can trustIt'll take your God filled soul
Fill it with devils and dust
Yeah it'll take your God filled soul
Fill it with devils and dust

Empate em Brastislava

Está tudo bem quando acaba bem e Portugal continua a liderar o grupo de qualificação mas para quê tanto sofrimento? E o que teria acontecido se o Ricardo não a fosse lá buscar aos 92 minutos? Não se estava logo a ver que era preciso refrescar o meio-campo há mais tempo?

TSUNAMI NUNCA MAIS


Posted by Hello Unawatuna, Sri Lanka, Abril de 2003

Posted by Hello Unawatuna, Dezembro de 2004 (foto publicada na Revista "Tempo")

A escolinha


Posted by Hello
Depressa, regressemos à carrinha dos normais, da civilização. Do lado de lá da vidraça, em frente ao Shopping Polama, em Maputo, os vendedores de artesanato só esperam que pestaneje, sorria ou olhe um segundo na sua direcção. Há um pequeno, muito negro, de olhar suplicante, que vende um presépio em madeira por 5 euros, o mesmo presépio que vendia por 10 momentos antes. Ah, depois há um gordo, baixo e atarracado que ainda não desistiu de me vender duas galinhas em madeira por uns 200 meticais, há os rapazes dos panos pintados, os batiks e não esquecer o rapaz das três girafas de madeira. Isto, claro, observado de dentro da carrinha. Lá fora, numa alucinação de "amigos", cada artista queria vender uma peça. "Amigo, p'ra ajudar, amigo..." No meio da confusão de braços, chamamentos, artigos em madeira espalhados pela calçada no meio de uma avenida movimentada de Polana, simpatizei com um mulato sorridente. Apareceu-me com uma escolinha moçambicana muito naive, o quadro preto onde se lê aeiou pendurado numa árvore, a professora apontando com uma vara para o quadro e os alunos aprendendo ao ar livre, pobre mas livre de Moçambique. Lá fui eu com a minha escolinha em madeira para o Hotel Rovuma. Parei no elevador, junto de um empregado e de uma mãe e de uma criança moçambicanas. "Ei, mãe, olha uma escola", comentava o miúdo, olhos a brilhar. A mãe: "Filho, isso não é uma escola, uma escola tem paredes e telhado". O empregado: "É sim, é uma escola lá no campo..." A senhora: "No campo?" O empregado: "Sim, no campo, antigamente. Agora, as coisas mudaram". A senhora: "Ah...." O miúdo: "Olha, onde se compra essa escola?" Comentário da mãe: "Ah não, eu não vou carregada para Nampula com uma escolinha dessas..."

PLAY IT LOUD MISTER T


T-Model Ford, "The Bad Man" Posted by Hello

De há três anos a esta parte, vou a Coimbra, ao “Coimbra Em Blues”. Telefono à minha avó a pedir para ficar lá em casa, meto-me no comboio e só paro no Teatro Gil Vicente. Normalmente, os bluesmen mais divertidos são os homens que vêm do norte do Mississipi. No primeiro ano, em 2003, o Paul “Wine Jones” bebeu uns copos a mais e não satisfeito em fazer a primeira parte, invadiu o palco onde tocavam os serenos Elmo Williams & Ezekiah Early e tocou até, praticamente, o terem de mandar embora. Foi magnífico, o Paul Jones de chapéu de cowboy e guitarra eléctrica em punho, a plateia do Gil Vicente endiabrada. Este ano, a grande figura foi o T-Model Ford, o “bad man” de Greenville, Mississipi. No primeiro dia, quando a carrinha dos artistas se abriu, vi sair Robert Belfour, de bengala e o seu semblante reservado e atrás dele, também de bengala, evoluir um homenzinho de casaco castanho a dar para o miserável, com uma pinta de tinta na parte de trás. O homem virou-se para o primeiro jovem que viu e perguntou: “Do you remember me?” Não, não se lembrava dele. Perguntei ao jovem se era o T-Model Ford. Disse-me que não sabia, não conhecia ninguém. Nos dias seguintes, fui observando o T-Model Ford à distância, com uma vontade danada de me meter com ele. Via-o a tocar com a bengala, deliciado, numa das extremidades do palco, enquanto Belfour actuava. Vi-o a cantar agarrado à bengala como uma guitarra, na plateia do Gil Vicente, falando com toda a gente e cumprimentando toda a gente. Até que, no sábado, 18 de Março, sentei-me a seu lado num dos sofás do Gil Vicente, o baterista Spam e um jovem da Fat Possum a quem devia ter perguntado o nome, ouvindo-nos e rindo. "Eu trabalhava no campo de madeireiros e ia enviando dinheiro para casa, para a minha mulher o guardar, porque íamos precisar dele. Um dia, chego a casa, ela estava grávida e diz-me que me tinha comprado um presente. Eu perguntei: "Que raio de presente?...". E ela mostrou-me o amplificador e a guitarra. Fiquei furioso: "Por que é que gastaste o dinheiro neste lixo? Eu não sei tocar. Nem tirei a guitarra da caixa. Uma semana mais tarde, a minha mulher pegou nas crianças e foi-se embora. Fiquei ali em casa, sentado, sózinho. Tentei ligar várias vezes o amplificador, e não consegui. Até que uma luz vermelha se acendeu. Depois, peguei na guitarra e não saía som nenhum. Mas lá consegui fazer o "dum dum dum". Três dias mais tarde, já tocava uma canção do Muddy Waters. Um dos colegas de trabalho aparecia-me em casa. Para me chatear, dizia que eu não sabia tocar. Isso deu-me mais força para continuar a aprender. Depois, começaram a convidar-me para tocar em casa de outras pessoas a troco de whisky. Eu tinha vergonha. Mas acabei a tocar num bar da cidade. Às vezes só me pagavam o whisky, outras vezes pagavam-me 30 dólares".

T-Model Ford, 84 anos

Uma pena de dez anos de prisão por homicídio da qual cumpriu dois anos
Quatro discos gravados na editora Fat Possum

2005-03-28

Vamos partir tudo? 'Bora aí!

Quem está habituado a ver as ruas portuguesas depois de uma derrota internacional da nossa selecção de futebol, sabe como sofremos tudo em casa, muitas vezes no quarto. Em Bamako, capital do Mali, os 70 mil espectadores do Mali-1-Togo-2, que afastou a equipa da casa da qualificação para o próximo mundial, não só não deixaram a partida terminar como milhares e milhares de populares desceram às ruas e partiram tudo. Muitas lojas saqueadas e edifício incendiados depois, havia ainda quem pedisse a cabeça de algumas estrelas da selecção do Mali.

INOPORTUNO

Penso que é consensual que o Papa João Paulo II não está bem. Sim, é verdade, lá enviou a benção ao Princípe Rainier mas também não é menos verdade que ontem o colocaram à frente do microfone, a Praça de São Pedro expectante e...nada.
Daí que não se perceba o que é que um italiano foi fazer para a cúpula da Basílica de São Pedro alegadamente "exigindo do Papa o lançamento de uma lotaria internacional para ajudar os orfãos". Para adensar o mistério em redor de tão inoportuna personagem, há quem diga que a mesma pessoa já uma vez ameaçara saltar da Torre de Pisa. A comunicação social ainda procurou ouvir a mãe deste à espera de uma mensagem para o novo milénio. "Não sei porque é que ele está a fazer isto", declarou ela. Ele há cada uma... Uma lotaria, querias tu, para ajudar os orfãos...nesta altura...

FICÇÕES DO PAÍS OBSCURO

Em Lisboa, a capital estranha e extravagante do país obscuro, ninguém sabe do “mayor local”. Nem as fãs mais empedernidas lhe conseguem pôr a vista em cima. “O Pedro gostava tanto de aparecer…E falar, o que ele gostava de falar. Deve-lhe estar a custar muito não poder falar em público”, comentava uma angustiada Teresa da Cunha, apoiante de longa data, a roer as unhas.
“Alguém o está a manter preso lá dentro, no edifício da Câmara. Só pode ser! Um homem como ele já tinha pelo menos enchido a cidade de cartazes a explicar o que se passa”, dizia Dadinha Sofia de Barros, outra apoiante.
“Até o Papa, coitado, aparece à janela todos os dias a fazer o sinal da cruz. E só Deus sabe o que lhe custa levantar-se da cama. O Pedro não, é um homem saudável. Alguma coisa se passou. Não lhe custava nada ir ali à varanda e acenar uma vez por dia…”, comentava Susana de Vasconcelos, outra fã, munida de binoculares cor de laranja em plena Praça do Município. “Tété, conseguiste ver alguma coisa?”
“Pedro! Pedrooooo!”, gritavam as santanistas presentes na Praça do Município no dia em que a nossa reportagem ali passou. “Pedro, filho, apareces ou não? Fala connosco!”
Alguém muito próximo do “Mayor” lisboeta ter-se-á deslocado mais tarde junto do grupo de apoiantes pedindo “paciência” e manifestando a necessidade de não haver “escândalo”. O autarca está bem vivo e deverá voltar a dançar muito brevemente. “Ele disse e fez muita coisa. Está em reflexão. Temos de lhe dar algum tempo. Tenham paciência…”, terá explicado essa fonte próxima.
Em off, foi possível ainda saber que alguns dos cartazes que irão ser retirados da cidade, serão plantados na relva do jardim da residência oficial de Monsanto, onde poderão ser mostrados pelo autarca aos visitantes: “Aquele ali era aquele onde eu prometia um novo Parque Mayer em 8 meses, ihihih…e aquele dizia que com o túnel do Marquês dava gosto de viver em Lisboa…”
A América profunda, essa, ainda não digeriu totalmente a nomeação do “anti-americano” Freitas do Amaral para ministro dos negócios estrangeiros de Portugal. “Bom, filho, desde que a Peggy Sue morreu e fecharam o General Store lá na cidade que eu deixei de me interessar pela política. Mas que esse homem está a pedir sarilhos, está, disso não tenho quaisquer dúvidas”, disse à nossa reportagem, Jimmy Lee, à porta da casa de madeira que partilha com a esposa, em Long View , Arkansas.
“Amaral? Nós tivemos aqui um rapaz dos Açores com esse nome…Amaral…”, comentou John Barry, produtor de leite no vale de San Joaquin, na Califórnia. “O que lhe sei dizer é que esse Amaral que eu conheci era um dos melhores trabalhadores que eu tive aqui na quinta. Dormia com as vacas e deitava-se com as vacas. Era mais leal e fiel que qualquer das mulheres que eu tive. O que deu na cabeça desse outro Amaral? Bom, ninguém sabe o que vai na cabeça de um homem quando chega ao poder, disso eu tenho a certeza. Um primo meu, o Jay Dean…escute o que lhe digo amigo, o Jay Dean, bom, o Jay Dean era o rapaz mais atinado das redondezas. Um dia resolveu concorrer ao lugar de “mayor” na cidade. Nunca mais foi o mesmo. Dizem que a política lhe subiu à cabeça. Fugiu com a secretária mexicana. O Tom Berenger diz que o viram um dia em Tijuana feito em fanicos”.
No dia em que José Sócrates, primeiro-ministro português falou com o presidente George W. Bush para alegadamente o sossegar em relação ao “anti-americanismo” de Freitas do Amaral, Lou Ann e Johnny Doe, de Springfield, Montana, estavam a regressar de Las Vegas. “Há anos que andava a prometer à Lou Ann uma ida a Las Vegas”, conta Johnny Doe. “Não é Lou? Lou? Oh, esqueça, está chateada porque gastei no jogo o dinheiro que tinha guardado para o vestido de noiva da filha. O que ela queria? Vegas é Vegas. Já lá esteve? Vira a cabeça a qualquer homem, disso eu não tenho dúvidas. Mais um bourbon? Onde é que eu ía? Ah sim, nesse Amaral…Estranho eu não ter sabido nada do assunto…e olhe que não faltam ecrãs de televisão naquela cidade. Eles gostam de nos manter entretidos. Curioso ninguém me ter falado nesse Amaral. Anti-americano diz você. Esteja descansado se ele aparecer por estes lados eu aviso-o”.

2005-03-25

Tudo em nome de DEUS

Limitado pela doença de Parkinson e agora a convalescer da traqueotomia a que foi sujeito, a fim de poder respirar melhor, o Papa suporta cada vez menos as intervenções para limpar e desinfectar o pequeno tubo que lhe foi colocada na traqueia. Além disso, alimenta-se pouco, o que provoca anemia. Para compensar, toma ferro, mas isso causa dores de cabeça e náuseas. Entretanto, a colocação de uma sonda gástrica poderá vir a revelar-se necessária, porque a alimentação por via intravenosa arrisca-se a não ser suficiente. Todos estes tratamentos acabam por cansar-lhe o coração. Em nome de Deus, Amen.

2005-03-23

O sinal da cruz

O Papa João Paulo II apareceu hoje à janela do seu estúdio no Vaticano e abençoou, fazendo o gesto da cruz com as mãos, os fiéis reunidos na Praça de São Pedro. Enquanto for aparecendo à janela, é porque está tudo bem. À janela, a dizer adeus ou a fazer o sinal da cruz. Mas há que estar preparado para o dia em que aquele braço, inevitavelmente, irá descaír, lutar com todas as suas forças para fazer o sinal da cruz e...

2005-03-22

Os cartazes do Santana Flopes

Santana Flopes vai mandar retirar os cartazes que mandou espalhar pela cidade de Lisboa com dizeres do género "Alfama está mais catita" ou "Vale a pena viver em Lisboa". Sabe-se já que alguns irão ser plantados na relva do jardim da residência oficial de Monsanto, onde poderão ser mostrados pelo autarca aos visitantes: "Aquele ali era aquele onde eu prometia um novo Parque Mayer em 8 meses, ihihih... e aquele dizia que com o túnel do Marquês dava gosto de viver em Lisboa. Mandei limpar o cartaz, os meus homens tiveram algum trabalho a limpar completamente o cimento e o pó mas agora está impecável..."

2005-03-16

VENHAM REFRESCAR ESTA ESPELUNCA

Um estudo da União Europeia indica que seis em dez portugueses estão contra a entrada no país de mais emigrantes. Quer-se dizer, então eu estou orgulhosamente no grupo dos quatro em dez portugueses que querem mais. Queremos mais! Moldavos e moldavas, mongóis, piauenses, maranhenses, eslovacas, russos e russas, americanos e venezuelanas, polacas, camaroneses, australianos, alemães, franceses, espanhois, moçambicanos, costariquennhos, esquimós, turcos, cariocas, paulistas, magrebinos, suevos, visigodos, brancos, negros, albinos, altos e magros. Venham! Se o barco se desequilibrar há muitos fascistas para mandar para fora do barco.

2005-03-15

EU TAMBÉM

"Estações de serviço também querem vender medicamentos" (Público.PT) . E eu também. Monto uma banquinha na minha rua e vendo mais barato que a farmácia da frente.

CHAMEM-LHE O QUE QUISEREM

Questionado pelos jornalistas sobre se deve ser tratado como presidente da Câmara, Santana Lopes respondeu apenas: "Chamem-me o que quiserem". E esta, hein? "Gatuno! Biltre! Bandido! Tonto! Maluco! Cabeça de girafa!"

SANTANA E CARMONA TOGETHER

Santana Lopes e Carmona Rodrigues entraram hoje juntos na Câmara Municipal de Lisboa, pouco antes das 11h00. Não, não íam de mãos dadas. Nenhum usava bibe. Um psiquiatra contactado pelo Estradas Perdidas diz que ainda é cedo para avaliar o estado psicológico de Santana: "É complicado. É como analisar o comportamento de um cata-vento. Dê-me mais uns dias".

Sócrates 1-lobbies-0

O Estradas Perdidas aplaude a vontade de José Sócrates em enfrentar o lobby farmacêutico. Clap, clap moderado, à espera dos passos seguintes

2005-03-14

MORTE NA ESQUADRA (BASTIDORES)

É quarta-feira e a camioneta da EVA chega finalmente a Lagos depois de quase quatro horas de viagem, cerca das 16h00. Saio da estação de camionagem, atravesso a ponte junto à marina e sigo a pé para a Meia Praia. Dirijo-me à escola de windsurf onde trabalhava José Reis. Explicam-me que pouco terão a dizer enquanto a família não falar e a família não fala. Na moradia vizinha dos pais de José Reis, não está ninguém. "Estão para fora, para casa de família", explicam-me.
Palmilho tudo de volta a Lagos. Ligo para o meu contacto, alguém que testemunhou tudo no Grand Café. Resposta: "Já lhe disse tudo. Os meus amigos estão a ser ameaçados, não lhe posso dizer mais nada". Ligo a um amigo: "Fostes aí fazer o quê? A autópsia confirma suicídio, para investigares mais precisavas de pistas".
Noite de quarta-feira, sem pistas, alguém me dá o contacto que outro alguém que viu tudo. Vou ao local onde essa pessoa trabalha. Diz que não viu nada. Vou ao Grand Café. O gerente está só no bar, essa quarta-feira à noite. Diz que pouca gente se apercebeu do desacato, que não sentiu spray nenhum e que nem Reis nem Domingos alguma vez haviam provocado algum problema ali.
Quinta-feira, de volta ao Windsurf Point, falam-me numa amiga de José num bar de barracas onde ninguém tem medo da polícia e no local de trabalho do pai do amigo de Zé, que fazia anos naquele sábado fatídico. Vou ao bairro e falo com a amiga. Que sim, que lhe contaram o que se passou mas não consegue encontrar rápidamente as testemunhas.
Vou a saír da Meia Praia, vejo um carro estacionar junto a casa de José Reis. São os pais. Falamos junto à porta de casa. Fico a saber que ninguém lhes mostrou a autópsia e que está tudo entregue à filha, Paula Reis. No dia seguinte, já não estarão em casa.
Vou à esquadra. O comandante da PSP de Lagos explica educadamente que não fala nem pode falar.
Regresso a Lagos. Vou ao local de trabalho do pai do aniversariante. Não se encontra. Espero. Só sei o seu apelido. Dizem-me que vem aí. Explico que tenho um assunto particular a falar com ele. Pede-me para esperar de novo e sai. Espero. Quando regressa, explico ao que venho. Diz-me que o filho nunca falará comigo. Insisto.
"Ok, eu levo-o lá onde ele trabalha mas não diga que fui eu que o levei lá". Deixa-me junto ao local onde trabalha o filho, amigo de José. Não está ninguém e chove em Lagos. Abrigo-me junto à porta até que vejo uma pessoa a chegar. Sorri e diz: "Huum, já sei quem você é..." Explico que não sou da polícia. Falamos informalmente. Fico a saber que há pessoas a ser ameaçadas. Por quem? Não sei.
Investiguem a fundo? Muito fácil de dizer e comentar...

2005-03-13

MORTE NA ESQUADRA

Na noite de sábado, dia 5 de Março, José Reis, 30 anos, instrutor de windsurf, saíu de casa, no Bairro 1º de Maio, na Meia Praia, em Lagos, para o aniversário de um amigo de longa data no Restaurante “O Caseiro”, na localidade vizinha de Araão.
“Ele saíu todo bem disposto para a festa de anos do amigo”, conta agora a mãe, entre o destroço da perda do filho e a necessidade de não falar à comunicação social, imposta desde a primeira hora pela filha, Paula Reis, advogada em Lisboa.
A casa onde José Reis vivia com os pais é um moradia baixa, pequena, branca, uma chaminé algarvia competindo com uma pequena parabólica. De lá terá saído para o “Caseiro”, um restaurante discreto, imerso no campo, que ninguém diz que alberga uma grande sala de refeição. Ao todo, nessa noite, eram umas 27 pessoas.
“O Zé?”, pergunta o empregado que os serviu. “O Zé esteve aí cinco estrelas, estava todo bem disposto. Estavam todos, era uma festa de anos. Ele nem bebeu grande coisa”. Como é que era o José Reis? “O Zé? Era cinco estrelas, já lhe disse. Ele costumava vir aqui várias vezes com clientes lá da empresa de windsurf onde trabalhava. Alguém acredita que ele se enforcou?”
No jantar, Reis falou animadamente, entre outras coisas, sobre surf. “O meu marido faz pesca submarina e eles passaram o jantar todo a falar. Eu, que tenho sempre alguma reserva em relação a uma pessoa que já teve problemas com drogas no passado, gostei dele”, conta uma das participantes na festa.
No fim do jantar, P., o aniversariante não podia conduzir porque já tinha bebido o seu bocado. Foi José Reis que conduziu a viatura dele até Lagos, onde o grupo iniciou um périplo por vários bares. “Estivemos em dois ou três bares e entretanto, o grupo foi-se dividindo. Estavamos no bar “Taberna Velha” e o Zé disse que queria ir-se deitar porque queria ir fazer surf para a costa norte”, conta um elemento do grupo.
Na rua, antes de se dirigirem ao bar “Grand Café”, José ainda dirigiu um piropo a umas raparigas que íam a passar na rua: “Vocês é que não me estão a ver com os músculos à mostra, a fazer windsurf...”
Nessa noite, o bar Grand Café, no centro de Lagos, estava cheio. “Tinha muita gente. Tinha tanta gente que houve pessoas que não se aperceberam bem do que se passou porque o que aconteceu foi junto à entrada do primeiro andar, junto às escadas”, conta um barmen de Lagos.
Ninguém sabe dizer a hora exacta em que, na entrada do primeiro andar de chão de madeira do “Grand Café”, se iniciou a troca de palavras e agressões entre José Reis e o sub-chefe Domingos das Brigadas Anti-Crime, que ali se encontrava à paisana, como sempre.
“Eu não vi como é que tudo começou”, conta V., proprietário de outro bar na cidade, “só me apercebi da luta, dos vidros partidos no chão, dos polícias a chegarem e a levarem o rapaz. E cheirava a gás, cheirava bastante a gás”.
O facto de ter havido pessoas que não se aperceberam de desacatos tem a ver com o tamanho do bar e o facto de se encontrar apinhado. Sobem-se umas escadas de pedra por entre paredes em túnel que lembram um pouco ambientes medievais e acede-se a duas salas amplas em madeira, decoradas com arcos e colunas, grandes espelhos com grossas molduras e a figura de um anjo a pairar sobre o balcão “retro” de uma das salas. O desacato aconteceu junto à entrada, entre as escadas e a porta que dá acesso ao balcão.
“A maior parte das pessoas não deram por nada”, conta José Francisco, o gerente, “Eram umas 3h30, eu estava aqui de trás do balcão a trabalhar. Só me apercebi da confusão quando chegaram os polícias para o levar. Ele gritava “doem-me os olhos, doem-me os olhos, não vejo nada”, era só o que ele dizia. De resto, foi uma confusão normal e muita gente nem se apercebeu”.
Uma testemunha que se encontrava ao balcão diz ter visto José Reis a desentender-se com o sub-chefe Domingos, das Brigadas Anti-Crime (BAC) da PSP de Lagos. “O sub-chefe Domingos estava à paisana. O Zé disse-lhe qualquer coisa, pegaram-se os dois, o sub-chefe pega num spray e manda com gás ali para dentro. Eu fiquei com o nariz e com a garganta a arder e tive de descer as escadas e vir cá para fora”.
O facto de ter descido as escadas de pedra e ter vindo para a rua, permitiu a esta testemunha ver tudo. “O segurança do bar foi lá para separar os dois e também levou com o spray. O sub-chefe Domingos pediu reforços. Às tantas, estavam cinco ou seis polícias a caír em cima do rapaz, a bater-lhe”.
Foi então que um dos polícias que chegou perguntou ao sub-chefe Domingos porque usou o spray dentro do “Grand Café”: “Eu vi o outro a perguntar a ele: Porque é que usaste o spray aí dentro? E vi o Domingos a pegar no spray e metê-lo num guardanapo ou num pano. Foi mesmo à minha frente”.
José Francisco, o gerente, afirma que não viu spray nenhum: “Spray? Se mandaram ou não mandaram, não sei. Não cheirava a spray”. E é normal um polícia à paisana envolver-se no “Grand Café” à pancada? “Ele vem sempre aqui à paisana. Se estava em serviço ou não, não sei...”
Mesmo para quem acompanhava José Reis e pertencia ao grupo inicial que viera de Araão, as razões porque Domingos e o instrutor de windsurf se desentenderam permanecem confusas. “Há quem diga que foi o Domingos que disse: “estás a olhar para mim?” e há quem diga que o Zé o mandou para o caralho. Não sei”, diz um dos elementos desse grupo.
À porta do “Grand Café” gerou-se uma grande confusão. “Eram sete ou oito polícias. Prenderam o Zé no chão e puseram-lhe os joelhos em cima da cara, em cima da cabeça. O Zé queixava-se muito dos olhos e houve um dos amigos que até lhe foi levar água para limpar-lhe os olhos”, conta o mesmo elemento.
José Reis foi para a esquadra da PSP cerca das 4h00 da manhã do passado domingo. Dois amigos terão ido com ele e terão estado com ele na esquadra. O que se passou no interior está no segredo dos deuses. Pelo menos um dos amigos de José Reis, que esteve na esquadra, já recebeu ameaças para não falar à comunicação social. “Ele diz que já lhe telefonaram a ameaçar e que só fala à Polícia Judiciária e ao IGAI (Inspecção Geral da Administração Interna)”, explica um amigo.
Cerca das 4h00 da manhã, José Reis telefona da esquadra para a irmã, Paula Reis, em Lisboa, a pedir um advogado e ajuda. José, entretanto, é detido numa cela sem cinto e cordões dos sapatos, segundo informações da PSP.
O último turno de vigia às celas terá sido às 5h00. A PSP afirma, num comunicado enviado à comunicação social, que José foi encontrado em perigo de vida cerca das 5h20. Teria, lê-se mais tarde na imprensa, “enrolado o pescoço nas calças de ganga”. O comunicado da PSP afirma ainda que foram feitas todas as tentativas de reanimação possíveis no local, quer por agentes, quer pelo elementos do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). Nesse mesmo documento, emitido domingo, dia 6, a PSP escusava-se a explicar onde e porquê José tinha sido detido uma vez que “a família tinha pedido descrição”. A Polícia Judiciária e a Inspecção Geral da Administração Interna (IGAI) passavam a investigar o caso.
Segunda-feira, em tempo recorde, é noticiado via Agência Lusa que a autópsia realizada no Hospital do Barlavento Algarvio confirmou suicídio por enforcamento.
Agora, na casinha baixa e branca do Bairro 1º de Maio, na Meia Praia, em Lagos, a mãe, devastada, só sabe dizer, em lágrimas, que quer saber a verdade: “Eu quero saber porque levaram o meu filho para a esquadra. Eu quero saber. Ele saíu daqui tão bem disposto, ele nem queria ir para o Grand Café”.
Ao lado, olhar cabisbaixo, testemunha da angústia da esposa e confrontado com a sua própria inquietude, José dos Reis, pai de José Reis, encolhe os ombros: “Eu só quero o apuramento da verdade. Hoje (quinta-feira, dia 10) ainda não vi a autópsia e a Polícia Judiciária ainda não veio cá. Os jornais noticiaram segunda-feira a autópsia, nós ainda não a vimos...”
Na esquadra da PSP de Lagos, o jovem comandante surge no hall de entrada, entre os olhares circunspectos e sérios dos agentes: “Não lhe posso dizer nada. O caso está sobre investigação e, por respeito para com a família...” Explico que ainda não disse o que estou ali a fazer. “Mas eu é que já sei o que quer, é o assunto do dia...”

A VIDA ATRIBULADA DE JOSÉ REIS

José Reis cresceu ali, naquele dédalo pequeno e deserdado de meia dúzia de casas brancas e chaminés algarvias, roupa a secar entre carrinhas abandonadas, roulotes, sofás e cadeiras. No Bairro 1º de Maio, na Meia Praia, em Lagos, agora a regra é o silêncio ou as meias palavras. “A família não quer falar e enquanto a família não falar, a gente vai respeitar...”
Aos poucos, no entanto, amigos e pessoas mais chegadas, vão falando. “Sempre foi muito activo, andámos na escola secundária juntos, jogavamos à bola juntos, jogávamos ténis de mesa, andavámos de bicicleta, de BMX. Ele nunca foi de estar parado”, conta A., um amigo de infância.
Por volta dos 20 anos, José experimenta a heroína e navega na onda durante os próximos anos. “Sim, andou naquilo uns quatro ou cinco anos. Foi nessa altura que ele fez mais asneiras”, conta A. “ E foi nessa altura que ele lidou com a polícia e com o sub-chefe Domingos. Se houve ou não coisas entre eles, não sei”.
Não consegui, em tempo útil, ter acesso ao eventual cadastro de José Reis. Em Lagos, há quem diga que tem o registo limpo, quem diga que já esteve preso e o jornal “24 Horas”, chegou a noticiar na segunda-feira passada que José esteve preso 12 anos. “Diziam que ele esteve 12 anos preso. Quer dizer, tinha passado metade da vida preso. Como, se ele tinha o cadastro limpo?”, pergunta o pai, José dos Reis.
Pedro Filipe, do “Windsurf Point”, garante, lacónico, que “nos últimos anos, José Reis nunca passou uma noite na PSP de Lagos”. A., o amigo de infância, que afirma ter-se iniciado na heroína ao mesmo tempo, diz que sim, que nos velhos tempos José “chegou a ir a julgamento duas ou três vezes e a ter pena suspensa”.
Foi durante o auge dos anos negros da heroína que, para o tirar de Lagos, a família o envia para Lisboa, para o pé da irmã, Paula Reis, de onde segue para um Centro de Recuperação para Toxicodependentes em Arruda dos Vinhos. Nessa altura, trabalhou como mecânico na FIAT. “Ele sempre foi de desenracar coisas, uma prancha, uma motorizada”, justifica um amigo.
Nesses tempos em que esteve fora, José Reis ía a Lagos muitos fins de semana. “Nessa altura, estava a cortar com a heroína e estava limpo. Nem alcool bebia”, conta A.
Quando regressou para a casa dos pais, a sua casa de sempre, no pequeno bairro 1º de Maio, na Meia Praia, José começou a trabalhar na escola de windsurf “Windsurf Point”, mesmo ao lado de casa.
“Veio mais calmo. Já cá estava há quatro anos. Dava instrução aos miúdos, os miúdos gostavam dele, era brincalhão. Também arranjava pranchas. Podia ir beber os seus copos à noite a Lagos que no dia seguinte estava aqui às 9h00”, contam na “Windsurf Point”.
Na noite de Lagos e em particular no bar “Grand Café”, onde José Reis teve o desacato final da sua vida, ninguém parece ter razões de queixa. “Ele aqui nunca arranjou problemas”, afirma, taxativo, o gerente, José Francisco.Nos últimos tempos, dizem, José estava entusiasmado com a abertura da loja da “Windsurf Point”, numa urbanização nova situada entre a marina de Lagos e a Meia Praia e preparava-se para assinar contrato na escola. “Uma pessoa que anda entusiasmada com isto, vai-se suicidar?”, perguntam.

LAGOS, A CIDADE DOS RUMORES

Mulheres sentam-se em mesas de café a falar sussurrado sobre o assunto do momento. “Dizem, dizem que ele se suicidou...”, diz uma. “Tu, lá da tua casa, viste ou não viste?”, pergunta outra. Desde há uma semanas que em Lagos ninguém fala noutra coisa que não seja o suicídio de José Reis na esquadra da cidade. Não se trata de um falar livre, aberto e democrático mas de uma coisa assim entre a ladainha e o sussurro.
As informações e contra-informações sucedem-se. “Agora, já dizem que o polícia, o Domingos, estava em casa a dormir quando o Zé se suicidou, você acredita. Ah, e dizem que o spray apareceu no bolso do Zé...”
À superfície, a cidade parece viver o dia a dia normal de qualquer pequena cidade. Nas entrelinhas, nas conversas de café e da Praça Gil Eanes, o que aconteceu está presente em muitas conversas. Os interlocutores calam-se e baixam os olhos quando o forasteiro os confronta com o sucedido. “Ah, eu cá não vi nada. Porquê, disseram-lhe que eu tinha estado lá? Não, não vi nada”, responde educadamente um jovem barmen, que alguém jurava ser testemunha do que se passou no “Grand Café”, na madrugada do passado domingo.
Para alguém de fora, as pessoas são sempre muito as mesmas. Na Praça Gil Eanes, perto dos “junkies” que se passeiam pelo espaço compreendido entre os CTT de Lagos e as traseiras da Câmara Municipal, os polícias são os mesmos que nos observavam circunspectos quando nos dirigimos à esquadra da PSP local.
O jovem que se cruza conosco num bar é daí a pouco o barmen no animado “Mullens” e o outro, de cabelo com gel, que bebe imperiais no “Mullens”, é o que nos serve o café de manhã, junto à Praça Gil Eanes.
À noite, em plena Praça Gil Eanes ou mesmo na Rua 25 de Abril, a Lagos de Março é um deserto, um vazio quebrado pelas gargalhadas de um bando de turistas, pelo som do mar lá na Meia Praia ou pelo neon de bares como o “Bom Vivant”, os ecrãs gigantes ligados na Sky TV. Num dos bares do centro, um barmen é taxativo: “Lagos é muito pequeno, é um meio muito pequeno e você não vai conseguir que ninguém lhe diga nada”.
Procurar dados sobre o caso José Reis é como riscar a ponta de um iceberg. Em desespero de causa, rumamos ao bairro de 17 barracas junto ao Estádio Municipal de Lagos. “Devia era ter sido aqui. Aqui somos todos unidos e não temos medo da polícia. É quase tudo mulheres porque os homens estão presos. Quando alguém vai parar à esquadra, liga para cá e vamos lá todos”, explica J., uma amiga de infância de José.
“Já aqui tivemos uma placa a dizer “proibida a entrada à polícia”. Uma vez vieram cá buscar uma pessoa, até deram um tiro num carro. Fomos todos para a esquadra. Se o caso do Zé tivesse acontecido aqui, ele ligava, íamos todos lá”, afirma J., peremptória.

2005-03-07

A FOTOGRAFIA DE YANN ARTHUS BERTRAND

Cliquem no título acima para verem as fotos da Terra Vista do Céu. Depois, cliquem na foto do coração. Fotografias de Yann Arthus Bertrand.

INQUIETAÇÕES EM LAGOS

O SUICÍDIO NA ESQUADRA DA PSP DE LAGOS OU ALGO QUE NÃO ME SAI DA CABEÇA

A vida de jornalista é assim. Alguém nos entra pela mente dentro quando menos se espera. Foi o que aconteceu no domingo. Estava à espera de um dia calmo numa redacção vazia quando o correspondente no Algarve me diz que há um caso para investigar no Algarve. Alguém se teria suicidado na esquadra da PSP de Lagos depois de ter andado à pancada com um polícia à paisana num bar.
Liguei para a PSP de Lagos. O comandante não estava, o oficial de dia não estava, ninguém podia confirmar a história. Liguei para o Comando da PSP de Faro. Na primeira chamada, o oficial de dia não estava no gabinete. Na segunda chamada, estava a caminho de Lagos. Liguei para os hospitais de Lagos e Portimão. Não sabiam de qualquer cadáver que ali tivesse entrado naquela noite.
O correspondente do Algarve disse-me, entretanto, que recebeu a informação de que a PSP ía enviar um comunicado. Ligo para o Comando Geral, em Lisboa, não podem dizer nada porque compete primeiro a Faro dar a notícia.
Quando o comunicado chega, diz mais ou menos isto: Que um indivíduo se suicidou às 5h20 de domingo numa cela da esquadra de Lagos depois de ter sido detido às 4h00. No comunicado não é mencionado nem o local nem o porquê da detenção.

Aconteceu o correspondente no Algarve ter contactos em Lagos. Passou-me um número de telefone de uma testemunha ocular do que se passou na madrugada de domingo no BAR GRAND CAFÉ, em LAGOS. Há mais testemunhas mas tiveram receio de falar com medo de represálias.

O que a testemunha conta é que José Reis, 30 anos, instrutor de windsurf e nadador salvador durante o Verão na Meia Praia, se desentendeu dentro do bar com um graduado da PSP, muito conhecido na cidade e frequentador da noite, que se encontrava ali à paisana.
A testemunha diz que ambos já se conheciam e que se fala de problemas anteriores entre eles.
José Reis terá provocado o graduado? A testemunha diz que só deu conta do que se estava a passar quando sentiu a garganta e os olhos a arder.
"O polícia mandou spray para dentro do bar. Se estava cheio? Estava muito cheio. Eu tive de vir cá para fora. Até o segurança levou com o spray".
O polícia à paisana e o instrutor de windsurf agridem-se mutuamente? O que a testemunha conta é que o graduado chama reforços. "Vieram cinco ou seis polícias que caíram em cima do José Reis. Eram todos a bater, ele no chão e eles todos a bater. Parecia que os maus eram os da polícia, nunca vi nada assim".
E o spray? "Um dos polícias perguntou ao graduado: Porque é que usaste o spray aí dentro? Ele pegou no spray e meteu-o dentro de um pano ou de um guardanapo".
José Reis é levado cerca das 4h00 da manhã para a esquadra da PSP de Lagos.
O "Diário de Notícias" de segunda-feira conta que ele telefonou, da esquadra, à irmã, advogada em Lisboa, pedindo um advogado
Às 5h20 é encontrado enforcado com as calças de ganga.
Segunda-feira, o Hospital de Portimão confirmou o suicídio por enforcamento (Agência Lusa)

Compete à justiça averiguar o que se passou na esquadra da PSP de Lagos mas não deixa de me inquietar o seguinte:

A PSP de Faro ter-se-á escusado a explicar domingo à Agência Lusa onde e porque é que José Reis tinha sido detido, com o argumento de que "a família tinha pedido discrição".
Porque é que Reis pediu um advogado e se suicidou em seguida?
Que problemas teria Reis com o graduado? Quem é esse graduado de quem toda a gente parece ter medo? Finalmente: O que teria sido se, em vez do Grand Café de Lagos e da esquadra da PSP de Lagos, tudo se tivesse passado no Kremlin e depois, na esquadra da PSP da Praça do Comércio? Alguém que me responda.

2005-03-06

Intercâmbio

O secretário-geral do CDS-PP anunciou que vai enviar, por correio, o retrato de Freitas do Amaral que até agora se encontrava no Largo do Caldas para a sede do PS. O MRPP também lá tem um do Durão Barroso para enviar para o PSD. Outros envios de fotos de políticos que foram mudando de cor e de casaca são esperados a todos o momento. "É uma hora de intercâmbio e reconciliação. Afinal de contas, somos todos do centro hoje em dia", explicou um político ao Estradas Perdidas.

2005-03-05

Preocupações

A seca está queimar a fruta no Algarve. Em Trás-os-Montes, a população percorreu oito quilómetros até ao Santário de Santo Antão, em procissão pela chuva que não cai. Em Lisboa, discute-se se Santana Lopes regressa à câmara.

E nós a vê-los passar...

Defesa central do Benfica: Sai Luisão, entra Andersson? Entre o compra e vende e o vende e compra, onde fica a mística, o amor ao clube?

2005-03-04

O Circo volta à cidade

Santana Lopes quer regressar à Câmara Municipal de Lisboa, dizem. Já estão em preparação os novos cartazes: "Por uma Lisboa mais divertida", "Lisboa vai ser absurda", "Viver Lisboa no caos dos estaleiros", "Venha destruír Lisboa"

COIMBRA EM BLUES


Posted by Hello

PROGRAMA DE FESTAS IMPERDÍVEL

Dia 17 de Março, 21h30 Robert Belfour
Keith Dunn & Sherman Robertson
Dia 18 de Março, 21h30 Toni Lynn Washington
Sheila Wilcoxon
Dia 19 de Março, 21h30 The Sherman Robertson Band
T-Model Ford

2005-03-03

Ele é professor e então e eu, sou o quê?

"O professor regressa. Ainda me hão-de explicar quais os motivos que levam a que uns sejam professores e outros, que também o são, não o sejam. É claro que a televisão leva a imprimir e reforçar certas formas de tratamento. Tantas vezes Marcelo Rebelo de Sousa foi tratado de professor na TVI que a dada altura já não era Marcelo que era o professor, mas, sim, o professor que era Marcelo. Daí que os jornais possam agora apresentar como título aquilo que parece ser um acontecimento nacional: o regresso do professor".
O professor Eduardo Prado Coelho, hoje na sua coluna diária no PÚBLICO

"Então que porra é esta. O gajo só porque abre muito os olhos e tem aquela pinta de gajo com genica e que lê trezentos livros por semana e acompanha a cena política de trás para a frente, é professor. Eu, como sou lento e pastoso e gorduchinho e não fico bem na televisão, já não sou professor, ou quer dizer, não o sou para as massas e não o sendo para as massas, não o sou, realmente, não existo enquanto tal. É isso? Merda de vida..."
Anónimo

NAS MEIAS-FINAIS OU UMA NOTÍCIA ALEGRE


Já estamos nas meias-finais da Taça de Portugal ou, por outras palavras, lá vão ter que nos continuar a aturar Posted by Hello

JIMMY MARTIN OU UMA NOTÍCIA TRISTE (Clicar no título)


Posted by Hello Os médicos deram duas a quatro semanas de vida ao grande Jimmy Martin. Hoje à noite vou ouvir "20-20 Vision"

ROUTE 66 EM PORTUGUÊS (clicar)

Para quem não sabe, se é que existe alguém que ainda não saiba, desde 1997 que a net conta com uma esmerada página em português sobre a Route 66, aquela que nos povoa os sonhos de cadillacs espetados no meio do nada, drive-ins abandonados, moteis decadentes, neons na noite e gente estranha a falar de aparições de ovnis no deserto.

Resenha de blogs

Singular, no SOPA AZEDA, a análise desse fenómeno sequencial que se traduz, desde tempos imemoriais, no retirar macacos do nariz. "Finalmente respira-se em Beirute", escreve Ali Massour, no impertinente blog libanês BEIRUTICES. A não perder.
Entretanto, do "O MEU BOI MORREU", chegam-nos novas de Urubúia, Piauí: "Rapaz, puta que pariu, tá um calor danado, vixe Maria. Papai tá lá no sítio pedindo chuva para Padre Cícero e bebendo Pitú. Maninha está em Campina Grande cantando forró. O produtor, Márcio Bezerra, fala que maninha pode virar a nova Rita de Cássia, imagina só! "Quando estiver só, pode chamar que eu vou, ah! Com você eu vou, por qualquer estrada, nada de chorar, eu choro por você, topo qualquer parada..." Celso está preso lá em Serra Talhada, esse cabra nunca teve juízo mesmo. Sorte a dele não ter virado presunto lá em Cabrobó".

Post curto

Na blogosfera, são essenciais os posts curtos e as citações a outros blogs, de preferência mais lidos que os nossos. Eis um post curto. As citações seguem dentro de momentos.

2005-03-01

TAXIDRAMAS

"O meu problema é que eu não consigo ficar sem reagir. Se for atacado, fico muito irritado, muito irritado e não consigo deixar de reagir. Por isso é que ultimamente não trago a pistola no carro. Se a tiver aqui e me tentarem assaltar, uso-a. Sei que não devo, mas uso-a. É instintivo. A única vez que não reagi foi em Luanda, em 75. Nunca mais vínhamos embora e os pretos sempre a provocarem-nos. Uma vez, um grandalhão, lá no refeitório do quartel, vem direito a mim com uma banana na mão e pergunta: "Isto é banana que se dê a comer?" O gajo estava a querer sublevar o pessoal todo. Eu, assim num segundo, foi uma coisa que me passou na cabeça, pego na banana, descasco a banana e como a banana. Nunca mais me esqueci desse dia. Aquele filho da puta queria porrada"
Taxista que foi Comando em África

Cabeça no volante, olhos inchados: "Vocês desculpe, é que peguei às 7h00 no primeiro trabalho. Ando a guiar uma carrinha e a descarregar mercadoria. E depois das 5h00 da tarde até à meia noite ando aqui no táxi. Chego a casa às 2h00, 3h00 da manhã, durmo umas horas e vou trabalhar. É que dantes, só o táxi dava para pagar as contas. Agora, só com dois empregos e já ando nesta vida de dois empregos há dois anos. Eu sei que um dia destes dá-me uma exaustão. Quer ficar aqui parado ou posso procurar outro caminho. É que ficarmos aqui parados nem é bom para si nem é bom para mim. Você perde dinheiro e eu perco a paciência"
Mulher taxista