estradas perdidas

Atrás de casa, encoberta por tufos de erva daninha, silvas e bidões abandonados, o comboio de janelas iluminadas vinha das Quintãs e silvou depois do túnel em curva, em direcção a Aveiro. Ali ao lado há uma estrada, a minha primeira estrada. Mulheres e homens cruzam-na impelindo teimosamente os pedais das bicicletas. Junto à vitrine de um pronto-a-vestir lê-se "Modas Katita". De uma taberna, saem dois homens que se dirigem para duas Famel-Zundapp. Estrada perdida.

2005-05-31

BOSS EM MADRID

Quinta-feira, é dia de Bruce Springsteen em Madrid, em registo mais intimista do que é habitual. Tudo sobre o concerto do Boss, mais tarde, aqui no Estradas Perdidas.

VOLTA CAMACHO

Feita a homenagem ao Miki, ouvidas as despedidas de Trapattoni, encerradas as batalhas verbais fora e dentro do campo, é tempo de deixarmos o Sport Lisboa e Benfica fechar momentaneamente para balanço. Só falta o treinador. Camacho!!!

2005-05-27

Poxa que friozinho gostoso...

O frio fez com que os hotéis da cidade brasileira Campos do Jordão, a 167 quilómetros da metrópole de São Paulo, lotassem. A Associação de Hotéis da cidade diz que a taxa de ocupação chegou a 95 por cento neste feriado prolongado, uma percentagem acima das expectativas iniciais. Os termómetros ajudaram. A temperatura mínima foi de 4,2 graus durante a madrugada de sexta-feira e a máxima não deve passar dos 19 graus! Cerca de 35 mil pessoas são esperadas na cidade no feriado prolongado de Corpus Christi. Quem vai à cidade aproveita para comprar chocolates e roupas de inverno. "Poxa, tomara que tivesse um bocadinho de neve...oh friozinho gostoso..."

2005-05-25

COINCIDÊNCIA

O anúncio do aumento dos impostos coincidiu práticamente com a celebração da vitória do Benfica no campeonato. "Vamos aproveitar agora que anda meio mundo feliz..."

2005-05-24

A Avenida dos Aliados é nossa


Posted by Hello Ide para a vossa terra, gentinha de merda, "mouros do caralho", nós só queremos ber Lisboa a arder, a Avenida dos Aliados é nossa, nossa e do Senhor Reinaldo Teles e do Pinto da Costa...

VERGONHA

Jorge Nuno Pinto da Costa defendeu ontem a claque Super Dragões dizendo que, "se houve confrontos, foi porque em zona de concentração de portistas surgiram outros". Quando é que este homem é responsabilizado criminalmente pelo que diz?

2005-05-23

LISBOA À NOITE


Lisboa à noite é mais bonita Posted by Hello

ULTRAS= BARBÁRIE= INTOLERÂNCIA= RACISMO

Li hoje na edição online do PUBLICO.PT um comentário magnífico de um leitor de Ermesinde sobre os incidentes de ontem na Avenida dos Aliados e o cancro barbárico em que se transformaram as piores claques organizadas:

"Para quando uma investigação séria e jornalística sobre as ligações entre claques como os NN, a JL ou os SD e as SAD dos clubes? Como são apoiadas? Quem está por detrás deste apoio? Digo investigação jornalística, porque a outra, só a miséria da Justiça que temos a consegue sonegar! Depois, ninguém no seu perfeito juízo consegue iludir a ligação de certas claques a movimentos neo-nazis, proibidos constitucionalmente. Mas a burrice nacional ainda não viu que os NN benfiquistas são uma cruz gamada nazi disfarçada? Cruzem-na! Alguém duvida da simbologia da cruz céltica adoptada em algumas bandeiras dos SD? Alguém dúvida do deliquente que é o FM da Juventude Leonina? Alguém não conhece "O Macaco", esse miserável deliquente dos Super Dragões, ou o bandalho cobarde que ameaçou o Mourinho? Tenham vergonha,, autoridades e poder político do meu país! Tenham vergonha, tristes dirigentes dos clubes nacionais que permitis e incentivais estes arruaceiros, estes energúmenos aprendizes de qualquer coisa que não de homens! "

Na realidade, os únicos incidentes na festa benfiquista de ontem, tiveram elementos das claques como responsáveis. A invasão no Estádio da Luz, cerca das 4h30 da manhã, foi feita por membros dos No Name Boys, sobretudo, enquanto a maioria dos benfiquistas lhes chamava "palhaços".
O futebol português precisa, para se regenerar, de seguir o exemplo britânico: Tirar os hooligans dos estádios, mandar calar os dirigentes e devolver os lugares nos estádios às famílias que querem assistir a 90 minutos de futebol.
Porque é que ainda não foram banidos dos estádios "adeptos" como aqueles que o leitor referiu em cima? Porque é que o Fernando Mendes, líder da Juventude Leonina, continua a ir aos estádios depois das invasões que já realizou e da violência que instigou. E o que dizer dos elementos dos NN Boys que no recente Benfica-Sporting andaram a agredir impunemente casais sportinguistas no perímetro do Estádio da Luz? E o que dizer daquele cara de menino líder dos Super Dragões que diz que nunca faz nada e mandou ontem os capangas para a Avenida dos Aliados?
Última pergunta: Quanto gasta a PSP e o MAI por ano a proteger as claques umas das outras? Quantos adeptos anónimos são agredidos porque a polícia está ocupada a proteger e controlar a saída e entrada das claques no estádio?

Lisboa hoje

Falta de sono, olheiras, automobilistas a executar manobras malucas, cachecois do Benfica, cânticos de "ninguém pára o Benfica..."

Um fenómeno chamado Jack Johnson

O Coliseu dos Recreios recebeu, sábado à noite, o cantor surfista hawaiano Jack Johnson e acabou varrido por uma verdadeira onda teenager. A maioria do público, muito jovem, que abarrotou camarotes, encheu a plateia e transformou a sala numa festa colectiva parecia ter chegado directamente da Praia de Carcavelos. Vestidas de roupas garridas, muitos verdes, brancos e cor de laranja, as raparigas das primeiras filas foram as mais incondicionais, cantando de cor os versos das canções de “Brushfire Fairytales” (2001), “On and On” (2003) e do recente “In Between Dreams”, lançado em Março.
Depois de uma primeira parte conseguida do amigo e também surfista Donavon Frankenreiter, Jack Johnson não precisou de dizer nada para entusiasmar os fãs. Bastou começar os acordes de “Never Know” e os versos “I heard this old story before where the people keep on killing for their metaphors”.A partir daí, foi um desfiar de canções todas elas entre o folk e o reggae, a plateia escura onde ponteavam as luzes de dezenas de telemóveis espetados em direcção ao palco. Por vezes, Jack ficou a tocar a viola e deixou a audiência cantar, ouvindo-se especialmente as vozes femininas.
Quando Jack Johnson ergueu em palco um cartaz de umas fãs, a sala parecia vir abaixo com gritinhos. Os melhores momentos do concerto acabariam por ser os finais, quer quando Donovan e os elementos da banda se juntaram em palco a Jack Johnson, quer quando Jack utilizou, primeiro o acordeon e depois o bem hawaiano ukulele. Foi precisamente com o som de um acordeon que Jackson e Donovan nos presentearam com o regaee “Girl I wanna lay you down”, do EP “Some Live Songs” (2004).
Quando Jack Johnson saiu do palco, o Coliseu quase veio abaixo envolto em gritos a raiar a histeria e em sonoras pateadas que faziam estremecer os camarotes. O surfista regressou para cantar entre outros temas “Other way”, pôr as primeiras filas ao rubro quando desceu do palco e cumprimentou o público à frente e tudo terminou em beleza com “Better together”, toda a gente a cantar “there is no combination of words I could put on the back of a postcard...”

Arrepio na espinha

Helder Sousa, de Azeitão, criou o blog Desafio Deus A Vir Falar Comigo unicamente para expressar a sua dor e anunciar que se ia embora deste mundo. Arrepiante. Uma carta de suicídio na blogosfera. O que faz alguém despedir-se assim? Que Helder descanse em paz.

IVETINHA


Posted by Hello

Ivete Sangalo regressou a Portugal. A Ivetinha falou com o Estradas Perdidas

Você veio com um problema no pé...

Eu só fiz quatro shows com o pé assim mas ainda doendo. Agora, está enfeixado mesmo.

Não vai ser um problema?

Vai ser maravilhoso, não vai ser problema. Veja bem, a minha relação com o show não é só o físico, é a voz, é espiritual, ia ser muito doloroso para mim e para os fãs aqui de Portugal se eu cancelasse quatro shows, então achei por bem não fazer isso, achei por bem eu vir, me dedicar um pouco mais. Tenho a certeza que isso não vai atrapalhar.
Quando eu pensei em cancelar os shows a minha angústia foi tão grande que pensei, oh, em lugar de ficar nessa angústia, vou fazer o show, né? Porque estou muito mais feliz aqui com a possibilidade de fazer o show do que com a possibilidade de não fazê-lo. Procurando desfrutar da energia daqui eu acho melhor.

Vc nunca descansa?

Descanso sim. Eu tenho muita energia mesmo, estou sempre brincando mas eu tiro folgas de dez dias seguidas, volto a trabalhar. Mudou muito o meu ritmo, era mais pesado. Há uns anos atrás eu acabei me expondo muito fisicamente, agora fazemos uma média de 10 12 shows por mês, dantes eram 17, 18. E também expunha mais a minha imagem. Descansava um dia de folga, dois dias de folga. Chegava em casa, deitava, tentava alimentar bem. E vir a Portugal é um passeio.

Mas você vai andar de um lado para o outro

Estou acostumada com isso. Acaba-se acostumando, é a loucura, acaba se acostumando

No Brasil, o seu ritmo é louco.

Tenho procurado estar nas regiões do país mas sem aquele exagero de presença de antigamente. È super tranquilo e hoje eu tenho um jatinho, eu viajo no meu avião. Aí é mais prático, saio de casa na hora do voo, chego no lugar próximo do show, volto mais cedo para casa.

Não trouxe o jatinho para Portugal?

Ahahah, não trouxe…as estradas de Portugal são maravilhosas em comparação ao Brasil e dá a possibilidade de ver aquelas cidadezinhas durante as passagens. È muito gostoso…

Você lembra-se do Rock In Rio Lisboa, você a ler aqueles cartazes todos que os fãs trouxeram. Leu todos, de uma ponta a outra? Porque é que faz isso?

Imagina você estar em sua casa, pegar uma folha de papel, pegar um lápis, escrever que gosta de alguém, ir para o show, esperar todo aquele tempo, conseguir estender aquele papel no show…é o mínimo que eu posso fazer é me comunicar com outras pessoas. Tenho prazer em fazer isso. A relação minha com os fãs é a mesma, a mesma entrega que eles têm comigo, eu tenho com eles. Mas não sou uma pessoa que exagera na dose. Como artista tenho de me dedicar aos meus fãs. No meu dia a dia, tenho os meus momentos de privacidade e lazer. Quando estou no show, acho importantíssimo prestigiar eles.

Num país tão mediático como o Brasil você consegue manter a privacidade?

Consigo porque eu moro na Baía, um pouco longe desses flashes de media, apesar da minha vida ser bastante vasculhada.

Em Julho, você vai ao Japão pela primeira vez. Como vai ser?

Todas as histórias de brasileiros que estiveram lá e fizeram shows lá são bacanérrimas. Tenho uma amiga baiana super artista e super compositora, a Rosa Passos, que vai fazer show aqui e que é muito famosa no Japão. Ela me disse: “Olha Ivete, é impressionante como eles valorizam a música brasileira”.

O seu show é muito comunicativo e muito assente na língua portuguesa. Como é que vai comunicar com os japoneses?

A música é uma comunicação que transcende a língua, transcende tudo. Lógico que eu vou aprender algumas palavras, boa noite, tira o pé do chão e joga a mão para cima.

O que faz para manter o físico?

Me exercito diariamente, tenho uma alimentação balanceada, cuido da voz, não bebo, não fumo. Não bebo refrigerantes, só bebo água e sumo e água de coco na Bahia. Procuro poupar minha voz durante a noite, dormir bastante, dormir é o melhor remédio para a voz. Tenho que dormir 9 horas. Adoro dormir.

Você não é noctívaga?

Não, gosto mais do dia do que da noite. Só me divirto à noite nos meus shows. Uma vez ou outra vou para boite ou restaurante. Normalmente, eu vou para o hotel.

Ivete, você é uma pessoa famosa, vai muito ao show da TV Globo “Faustão”, o que guarda no seu íntimo da infância e adolescência em Juazeiro, lá no sertão?

Você sabe que isso aqui (estávamos na Portugália, junto ao Rio Tejo) lembra muito o Rio São Francisco. Você conhece? Tive uma infância muito rica em Juazeiro, uma infância que construiu a minha personalidade. Sou uma pessoa que por conta da minha infância eu não me irrito muito com as coisas, se tiver que comer aqui tem, se tiver que comer em outro lugar uma sandes eu como, não tenho regras, essas coisas, acho que isso vem da minha infância. Eu vivi muita coisa boa em Juazeiro, inclusivamente a música. Comecei a conhecer a música em Juazeiro.

Que música é que você ouvia em casa?

Eu sofri uma influência muito grande dos meus pais. O meu pai ouvia muito Dolores Duran, Ângela Maria, Nelson Gonçalves…a minha mãe também ouvia tudo isso. Em Juazeiro, havia também uma influência muito forte dos novos baianos, João Gilberto, Caetano, Gil, Betânia, todos os tropicalistas. Eu ouvi tudo isso quando era pequena.

Não ouvia forró?

Não, só Luís Gonzaga. O meu pai ouvia muito Luís Gonzaga. Eu adoro forró. Gosto de Jackson do Pandeiro, Dominguinhos, e do Alceu Valença e da Elba Ramalho, que não cantam apenas forro mas integram forró nos seus reportórios. Gosto também dos Fala Mansa, adoro Fala Mansa, eles são de São Paulo e gostam de forró, tem um tempero pé de serra…

Você não vai a Juazeiro?

Ultimamente, vou mais a trabalho. Nos dias de folga, eu fico em Salvador. Juazeiro, eu ía mais quando era criança mas estou morrendo de saudades. Estou combinando com o meu irmão a gente dar um pulo lá em Juazeiro, comer um bode assado…Eu amo o sertão, a paisagem, o clima, a comida. Tem uma nostalgia do sertão. É um povo muito amoroso.

Salvador é a sua sede?

È, Salvador é a bênção do meu trabalho, começo todas as tournées lá.

Os primeiros tempos de carreira não foram muito fáceis.

Como todo o início de banda, comecei com a Banda Eva mas assim, bastaram duas canções para a gente ficar conhecido na Bahia, conquistar o nordeste e aí o sudeste, o sul do país. Foi trabalhoso. O trabalho para mim é uma coisa que não é difícil não. O trabalho quando se tem onde trabalhar é maravilhoso, você ter uma coisa que fazer, um ofício, uma carreira, isso é muito digno. Eu trabalhei muito…Tenho muito prazer nas coisas que eu faço. Eu sempre faço construindo, sabe? Eu sempre acho que estou construindo coisas na minha vida.

Você esperava ter este sucesso em Portugal?

Não, assim não. Por mais semelhança que tenhamos, é um outro país, do outro lado do Atlântico, culturalmente diferente. Eu imaginei que pudesse ter um público de brasileiros mas fiquei surprendida…tomei uma rasteira. Fiquei completamente apaixonada pela reacção do público português.

Você já está a trabalhar no novo cd?

Estou em vias de. Vai ser em Setembro, Outubro. Já estou fazendo a selecção, sou eu que faço, inclusivamente quando a gente faz os arranjos, nunca é nada que eu não goste, às vezes eu não sei fazer todo o arranjo mas eu sei o que eu não gosto. Já estou escolhendo o reportório, estou compondo algumas canções com os meninos da banda e estamos em fase de audição. Já fizemos uma pré-produção de uma canção, antes de vir a Portugal. Quando eu voltar do Japão, aí a gente entra em estúdio. Ainda está no processo de selecção.

Vai continuar no formato de axê?

Vai porque eu sou uma cantora da Bahia, adoro a música da Bahia e a música que eu faço. É difícil eu me desenvencilhar disso agora. Eu tenho muito orgulho da música que eu faço, ela me traz muitas outras alegrias que um artista mais intimista talvez não tenha. Apesar de eu achar lindo, sou fã de vários artistas que não têm banda.

Para quando um disco acústico?

Eu tenho esse projecto mas tem que ter um porquê na minha carreira. O meu disco ao vivo, por exemplo, eu demorei cinco anos para o fazer. Não vou fazer um disco simplesmente para vender, esse projecto acústico vai ter que ter uma história e um porquê.

Em Portugal gosta de alguma coisa?

Gosto Da Weasel, eu adoro Dulce Pontes, aquela melancolia, eu adoro…adoro Mariza.

CAMPEÕES 2004/2005

plantel 2004/05

CONVITE

Aos portistas que queimaram cachecois benfiquistas na Avenida dos Aliados, apenas um convite: Podem vir a Lisboa festejar campeonatos como festejaram no ano passado que até fecharam a Avenida da República só para vocês. E aproveitem para visitar o Rossio ou a Praça da Figueira a um dia da semana: ele há pessoas vestidas com camisolas do FC Porto, outros do Sporting, outros do Benfica, ele há negros, ucranianos, indianos, chineses, romenos, brasileiros, portugueses. Todos diferentes, todos iguais.

FOI LINDA A TUA FESTA PÁ


Posted by Hello "Campeões, campeões, nós somos campeões!"

Posted by Hello Até o cão é do Benfica

Posted by Hello Foi linda a tua festa pá

Posted by Hello "SLB, SLB, SLB!"

Posted by Hello "Ninguém para o Benfica, ninguem para o Benfica, oehoh...

Posted by Hello

Posted by Hello A felicidade é isto ou qualquer coisa parecida

Posted by Hello Até que enfim, eles vêm aí!

Posted by Hello

Posted by Hello Está a chegar a equipa, só pode ser...

Posted by Hello Eh pá, não estraguem a festa...

2005-05-22

O Estado do Estradas Perdidas às 16h00

Cérebro algo conturbado. Estado de ansiedade generalizada que se estende desde o cerebelo às pontas dos pêlos mais ínfimos. Alguma comichão e tendência para a irritação caso seja provocado. Receio, angústia. Fé para o final da tarde.

2005-05-21

REPITAM LÁ ISSO OUTRA VEZ


Posted by Hello Foto Pedro Lopes, "A Capital"

2005-05-20

NUNO'S JUKEBOX


Posted by Hello Ultimamente, graças aos ingleses, tem sido possível revisitar os heróis esquecidos da country soul branca do sul dos Estados Unidos. Primeiro foi a compilação "Country Got Soul", depois a "Country Got Soul II" e depois "The Country Soul Revue". De todos, o meu preferido continua a ser o falecido Eddie Hinton. Em 1993, dois anos antes de falecer, a voz já timbrada pelo whisky e pelos cigarros, gravou "Very Blue Highway". É da melhor soul e rithm and blues que se pode ouvir. No Alabama, destroçado e precocemente envelhecido, Eddie Hinton justificava porque lhe chamaram "the white Otis Reding"

VAMOS TODOS SURFAR A ONDA DO JACK JOHNSON

O Coliseu dos Recreios vai receber sábado à noite o surfista da viola acústica, da praia e das ondas, do alto astral. Promete ser uma noite de paz, amor e isqueiros


Um tipo simples com uma guitarra acústica a cantar num bar de praia à luz de umas velas. É essa a imagem que Jack Johnson não se importaria que retessem dele, o surfista hawaiano que um dia gravou um disco produzido por Ben Harper e entrou na vaga dos artistas “boa onda”. Sem a espiritualidade, a voz e o virtuosismo de Ben Harper, Jack Johnson é alguém que nunca encarou verdadeiramente uma carreira musical a sério mas que se deixou levar na onda do sucesso do primeiro disco, “Brushfire Fairytales” (2001).
A folk impregnada de reggae de Jack é tranquila, um pouco ao estilo do veterano James Taylor, por vezes com pinceladas de Ben Harper (“Never know”) ou da folk mais agressiva de Mason Jennings mas quase sempre largando uma aura de bem estar e positividade à sua volta.
Influências assumidas: O bluesman Taj Mahal, Otis Reding, Bob Dylan, Neil Young. Apesar de por uns tempos, na adolescência no Hawai, Jack ouvir Jimi Hendrix e bandas punk como os Bad Religion, Fugazi ou Minor Threat.
Jack Hody Johnson, o mais novo de três filhos, nasceu em Oahu, no norte do Hawai, filho do profissional de surf Jeff Johnson, em 1975. “Ele levava um vida simples”, contou Jack há três anos ao Chicago Tribune, “ e a vida dele fez-me ver que não é preciso muita coisa para se ser feliz”.
Jack Johnson iniciou-se no surf profissional aos 14 anos mas teria de abandonar a promissora carreira aos 17, depois de ter embatido contra uma barreira de corais. Para além de ter sofrido bastantes golpes, perdeu os dentes da frente e parando de surfar durante uns meses, começou a dedicar mais tempo ao hobby da guitarra, que mantinha desde os 14 anos. No liceu, a local Kahuku High School, tocou numa banda punk, os Liver Chiken, para a qual compunha mas onde apenas tocava guitarra.
De qualquer forma, uma carreira profissional de surf era coisa que Jack encarava com a mesma desconfiança com que hoje encara a faceta mais comercial do seu eu musical. “Eu praticava surf mas sem querer compromissos e com a música, é a mesma coisa. Simplesmente, a música mal é partilhada, deixa de ser nossa. O surf é algo muito puro, quero guardá-lo só para mim”, explica.
Johnson só deixou o Hawai e mesmo assim, trocando-o as ondas da ilha pelas da Califórnia, para estudar e formar-se em cinema em Santa Barbara. Em 96, conheceu o produtor Emmet Malloy que se tornou seu manager.
Foi com “Brushfire Fairytales” (2001), produzido por Ben Harper, que surge a tocar lap steel e a oportunidade de fazer a primeira parte dos concertos de Ben, que Jack Johnson começou a ganhar atenção. Até então, Jack era conhecido na comunidade surfista e entre os que rodavam filmes sobre surf e passava grande parte do tempo a tocar em pequenos clubes para onde se dirigia com os outros músicos numa pequena carrinha.
“Eu comecei a pegar na guitarra para tocar em churrascos ao ar livre. Cantava canções do Jimmy Bufett, do Van Morrison, do Cat Stevens. Mais tarde, os meus pais compraram-me uma guitarra eléctrica”, conta.
Mesmo quando começou a ter de se ausentar mais tempo do Hawai para andar em tournée com Ben Harper, Jack nunca pensava na música como uma carreira a sério. “Eu pensava em ir em tournée durante três meses e ver se gostava daquilo e se não tirasse prazer do que estava a fazer, continuaria a fazer filmes sobre surf”, disse ao site Launch.
Por vezes, Jack confessa que está no palco e só pensa no surf. “É raro mas já me aconteceu estar no meio de um espectáculo, olhar para aquelas cabeças todas e pensar que aquele era o último sítio onde queria estar. Ás vezes, a minha cabeça está longe, está no surf, surfar com os amigos”, explica.
Em 2003, dois anos depois de se expor, a si, à sua viola e à sua tábua de surf, Jack Johnson regresou com “On and On”, produzido por Mario Caldato Jr. (Beastie Boys, Jon Spencer Blues Explosion) mas sem grandes alterações no som: A mesma linha tranquila acústica, que só se altera por vezes, quando alinha um pouco na folk interventiva de Mason Jennings, uma reconhecida influência, em canções como “Gone” ou “Traffic in the sky”.
No final de 2003, Jack Johnson lançou finalmente o cd com a banda sonora de “Thicker Than Water”, um documentário sobre surf realizado uns três anos antes juntamente com os companheiros das ondas Chris e Dan Malloy.
Com Jack, surgem na banda sonora G. Love & Special Sauce, The Meters, Finley Quaye. Os temas de Jack Johnson alinham na mesma linha acústica de sempre (“Moonshine”, “The Cove”, “Holes to heaven”) com sons de praia e banhistas por trás enquanto G. Love traz um pouco de blues que poderíamos apelidar de blues pacífico ou blues “boa onda”, bem exemplificado em “Rainbow”. Mesmo o som mais soul /funk assente nos sintetizadores de Finley Quaye parece caminhar entre as areias da praia, o horizonte azul avistado entre as dunas.
“In Between Dreams”, lançado recentemente, é talvez o álbum mais apelativo, mais dançável e comercial de Jack Johnson, começando com a folk muito à James Taylor “Better together”, passando pela pop/ reggae de “Good People”, o funk de “Staple it together” e acabando com o folk/pop/reggae de “Never know” que concerteza fará dançar muita gente amanhã no Coliseu. Outros temas que os fãs identificarão facilmente será, sem dúvida, a melosa “Constellations”, ou a amorosa “Banana Pancakes”, na qual o autor pergunta à amante se não percebe que vai continuar a chover, lhe pede para não atender o telefone e lhe explica que o melhor é ficarem em casa, na preguiça, a comer panquecas de banana.
Algo que Jack nunca largará, além da viola, serão as praias e o surf. Quando vai em tournée, ele e o baterista levam sempre a prancha atrás. “Eu escrevo muita coisa durante as viagens que faço para surfar e isso porque o surf dá-te tempo para pensar, liberta-te a mente de outras coisas”, explica. “O surf dá-me equilíbrio e positividade”.

Sábado, dia 21, Coliseu dos Recreios
21h00

TODOS À AVENIDA DOS ALIADOS QUE A PORRADA É POR NOSSA CONTA

Comunicado da claque portista Super Dragões emitido hoje

Os Super Dragões vêm por este meio informar os seus membros e demais adeptos do Futebol Clube do Porto que:
1.No próximo Domingo, após o FCP-Académica, está a ser preparada uma festa na Avenida dos Aliados, para onde desde já se convidam todos os adeptos portistas, naquela que se deseja que seja uma sã celebração.
2.A festa de Domingo na baixa portuense acontecerá, independentemente, do resultado do jogo a realizar contra a Académica de Coimbra. Ainda assim, os Super Dragões acreditam no tricampeonato.
3.Entendem os Super Dragões que, tendo em conta algumas opções menos felizes da Administração da SAD do FCP ao longo deste ano; as arbitragens de embalar campeões do milénio anterior; os processos sumaríssimos programados e cumpridos e a apressada imprensa «pseudo-dourada», EXISTE RAZÃO PARA CELEBRAR UM EVENTUAL SEGUNDO LUGAR NA SUPERLIGA.
4.A concentração de Domingo será realizada, imediatamente após o fim do jogo, na Avenida dos Aliados.
5.Os Super Dragões ZELARÃO PELA SEGURANÇA DE TODOS OS ADEPTOS DO FCPORTO QUE SE DIRIGIREM AO LOCAL
6.
Os Super Dragões apelam a todos os seus membros para comparecerem no Estádio do Dragão no próximo domingo, a fim de apoiar os Campeões do Mundo no último jogo deste ano, como sempre têm vindo a fazer ao longo dos últimos 19 anos.
A Direcção

2005-05-19

LONNIE BROOKS EM MATOSINHOS

O 9º Matosinhos em Jazz vai ter amanhã, sexta-feira, dia 20, a honra de receber o veterano e carismático guitarrista de blues Lonnie Brooks, 71 anos. Natural da Louisiana, Lonnie cresceu em Port Arthur, no Texas, onde começou a tocar a guitarra ao jeito de B.B King e Long John Hunter mas assimilando sempre elementos da música da Lousiana, juntamente com rithm and blues e rock. Foi, no entanto, em Chicago que Lonnie Brooks, o seu inconfundível chapéu de cowboy e a sua guitarra blues rock fizeram furor a partir dos anos 70. Não é de esperar grandes calmarias hoje à noite na Exponor. Na primeira parte actua a banda portuguesa Johnny Blues Band.
Sexta-feira, dia 20 às 21h30
Exponor, Leça da Palmeira

2005-05-17

Inquérito Foo-di-do (Criado pelo Altino do Blog Food-i-do)

1 - Na tua opinião a blogosfera lusa tem impacto na sociedade portuguesa?

A ver vamos. Para já, tem algum impacto na mesma sociedade portuguesa que lê jornais e serve para distracção e comunicação de muitos. Ainda é cedo para falar em impacto.

2 - Quem aconselharias a criar um blog e porquê?

Aconselho toda a gente a criar um blog, de todas as idades. É higiénico, é saudável, é comunicacional, é o diário dos nossos dias. Alguns levam-no a sério mas é o seu caracter indisciplinado, anárquico e profundamente democrático que me leva a recomendar a quem quiser
3 - Qual a tua opinião sobre os livros que nasceram dos blogs?
Nunca li e confesso que desconfio um bocadinho da qualidade deles mas isso pode ser defeito meu.
4 - Qual a tua opinião sobre blogs pagos?

Totalmente contra. O blog é para ser livre e acessível a todos

5 - No caso de já conheceres o Blog " Abrupto" qual a tua opinião sobre a carta à mãe que Pacheco Pereira lá colocou.

Não li
6 - Se o teu blog não fosse esse mesmo que blog gostarias de ter? Porquê?

O blog que tenho é o blog que vai nascendo todos os dias, é este. Já tem a minha cara, eheh

7 - Alguma vez um blog te influenciou politicamente?

Não, gosto de ler e comentar alguns mas prefiro ler os editoriais nos jornais

8 - Que celebridade "blogosférica" gostarias de conhecer e porquê?

O que é isso? Não sabia que a Blogosfera tinha aderido à Quinta das Celebridades!

9 - Qual a tua opinião sobre os blogs anónimos?

Os blogs são como cada qual. Só condeno os que se escondem na covardia do anonimato

10 - Qual a tua opinião sobre os encontros de bloggers?

Cheira-me um bocado aos encontros dos antigos alferes milicianos do regimento de infantaria 4 mas, cada qual há-de saber se lá quer ir ou não. É como os encontros do fãs do Star Trek

Inquérito criado por Altino Torres, do Blog Food-i-do

2005-05-16

FERNANDO MAGALHÃES (1955-2005)


Posted by Hello Foto blog Litux

O que é que um gajo diz num momento destes?

Go Rest High On That Mountain
(Vince Gill)

I know your life on earth was troubled,
And only you could know the pain.
You weren't afraid to face the devil.
You were no stranger to the rain.
Cho: Go rest high on that mountain.
Son, your work on earth is done.
Go to heaven a-shoutin'Love for the Father and the Son.
Oh, how we cried the day you left us!
We gathered 'round your grave to grieve.
I wish I could see the angels' faces
When they hear your sweet voice sing. (Chorus)
Go to heaven a-shoutin'
Love for the Father and the Son.

(Escrita pelo Vince Gill em homenagem ao irmão mais velho, pertence ao álbum "When Love Finds You", MCA, 1994 )


O funeral do meu colega e amigo Fernando Magalhães, crítico musical do jornal Público desde a sua fundação até hoje, realiza-se quinta-feira, às 13h30, da Igreja São João de Deus, na Praça de Londres para o Cemitério do Alto de São João, em Lisboa.

NUNO'S JUKEBOX


Posted by Hello NUNO's JUKEBOX, secção SOUL MUSIC. Se gostam de Otis Reding, deverão gostar do retro soul de Ricki Fanté e sobretudo dessa figura atormentada e esquecida que foi Eddie Hinton. Eddie era uma espécie de Otis Reding branco sem o sucesso de Otis e que morreu em 95 na mesma obscuridade do Alabama, onde sempre viveu. Ultimamente têm surgido várias gravações póstumas. Este "Hard Luck Guy" é de chorar por mais

2005-05-15

ANJO NEGRO


Posted by Hello Mantorras, o anjo negro do Benfica, em plena festa da vitória sobre o Sporting. A foto é do fotojornalista do PÚBLICO Miguel Madeira

NUNO'S JUKEBOX


Posted by Hello Estes são quatro dos cd's a rodar aqui pelo Estradas Perdidas ultimamente, todas da colheita de 2005 e qual deles o melhor. Kathleen Edwards avança pelo country/ rock neste segundo álbum enquanto a Mary Gautheir continua a desenvolver e a burilar o seu folk noir e as suas figuras destruturadas. Lee Ann Womack anda os anitos para trás e vai buscar fôlego novo à country dos anos 60 e 70 reminiscente do Trio Dolly Parton/ Tammy Wynette/ Loretta Lynn. Por fim, o Boss deixa-nos com um punhado de novas histórias de gente anónima ( uma prostituta de Reno, um imigrante que morreu afogado a atravessar o Rio Grande em busca de uma vida melhor, o soldado americano perdido entre o pó do deserto iraquiano). Os arranjos (violino, pedal steel, recurso à Nashville String Machine, resultam na quase perfeição. Não se deixam esmorecer os temas mais melancólicos e ouçam "Mary's Bed" ou "All I'm thinkin about"

BEEN THERE DONE THAT


Posted by Hello

Morreu o "King of Bluegrass"

Morreu ontem Jimmy Martin, o meu músico de bluegrass preferido. Era uma morte anunciada mas não deixa de ser sentida. Hoje vou ouvir "Freeborn man". Cliquem no título

"Such a night..."

Na minha cabeça um pouco alcoolizada Dr John canta “such a night…”. Um grupo de jovens agita bandeiras do Benfica e canta: “Ninguém pára o Benfica, ninguém pára o Benfica, olé, oh”. Ao meu lado, um homem pequenino todo de encarnado, lata de Sagres na mão, dança ao som de um rádio caixote onde se ouve: “Somos Benfica, somos paixão…” O filho, minúsculo, vestido com o equipamento do centenário coberto pelo pano de uma bandeira maior que ele, vai brincando aos pontapés numa lata vazia. O homem da roulotte explica que a imperial (fino) acabou. “Mas há cerveja em lata? Quer uma cerveja em lata?” Um outro homem, com um ramo de eucalipto ao pescoço, explica às raparigas da roulotte, entre o divertido e o surpreendido, “a grandeza do Benfica”. Só interrompe o discurso para maçar dois sportinguistas a acompanhar amigos benfiquistas. Os sportinguistas estão com cara de quem quer beber uma última imperial, rumar a casa e meter-se na cama mas o homem do ramo de eucaliptos não se cala. Um negro de chapéu de Pai Natal celebra a vitória do Benfica no meio da estrada. Um carro-vassoura da câmara, daqueles pintados de verde alface, apita à passagem junto aos benfiquistas concentrados junto às roulottes. O meu filho mais novo reclama: “Bebe lá isso depressa”.
Táxi para casa. O taxista é…do Benfica e meu vizinho, morador no Pica Galo, encosta sobranceira à Trafaria: “Isto aqui não é nada, o trânsito está cortado na Avenida da Liberdade e no Marquês do Pombal. Foram lá meter-se com o leão…(risos)”. No Marquês do Pombal? Mas ainda não ganhámos nada…”Ganhámos aos lagartos!”, desabafa o taxista.

Levados ao colo pelos adeptos

Foi lindo ver aquele ambiente na Luz mas calma, ainda não ganhámos nada. Melhor frase da noite: "O Benfica está a ser levado ao colo pelos adeptos" (Manuel Alegre)

2005-05-14

POR TI, HOJE E SEMPRE


Posted by Hello

2005-05-13

Medo de voar

Houve um tempo em que pura e simplesmente tinha pavor de andar de avião, o que me impedia de ver com bons olhos o que quer que de interessante se passasse à minha frente nos aeroportos ou dentro do avião. As aerogares eram para mim lugares inóspitos e frios cheias de gente angustiada e nervosa sempre que esperava por um voo e tornavam-se em maravilhosas casas-abrigo sempre que aterrava.
Como toda a gente, a minha visão da realidade mudou com o tempo e com as horas de voo. Passei a coleccionar bares de aeroporto, a observar com minúncia as hordas de passageiros em trânsito e comparo a qualidade do catering das companhias com a minúncia de um maitre de hotel.
Se há um território magnífico para testar a nossa capacidade de paciência e resistência a todas as possíveis agruras e angústias de andar de avião, esse é o arquipélago dos Açores. Uma vez vinhamos a levantar voo da Base das Lajes, na Ilha Terceira, num pequeno avião a hélice, quando o meu companheiro de avião, depois de olhar demoradamente pela janela, comentou: “é pá, esta hélice deste lado não está nada bem. Ouve, ouve, não sentes que a pá está a rodar mais devagar que a outra?”
Outra vez, cerca de uma hora depois de saírmos de Ponta Delgada, estavam as hospedeiras a distribuir os tabuleiros do jantar quando o avião começou a estremecer como se com um ataque de epilepsia e pareceu querer caír no vácuo perante os olhares vítreos de passageiros esbranquiçados de medo.
Nos Açores, nem precisamos de reviver as nossas proprias experiências. Há sempre um ilhéu desconhecido pronto a contar-nos as desventuras de ir às Flores e voltar para trás porque o vento atravessava a pista ou daquela vez em que tentou poisar em São Jorge, o avião fugiu para a relva e voltou a levantar voo com toda a gente aos gritos: “Vamos embora, vamos embora daqui!” No avião, consta, seguia Mota Amaral.
Outro passatempo preferido dos ilhéus, sobretudo nas ilhas mais pequenas, onde os aviões aterram duas vezes por semana, é olhar para a pista desoladoramente vazia, abanar a cabeça e dizer: “oh, não me parece que o avião venha amanhã. Acho que ainda não é amanhã que você vai saír daqui”. Nessa altura, já o forasteiro desesperado pergunta como e porquê o açoriano consegue ter tanta certeza do cancelamento do voo. “Tá vendo aquele vento cruzado? Tá vendo a manga a voar? Ê senhô, ninguém aterra com vento tão ruim...”
Ninguém consegue, no entanto, bater os voos da SATA (as linhas aéreas açorianas) em aconchego e intimidade. Passei grande parte de um voo entre a Ilha do Corvo e o Faial a observar, juntamente com uma criança que não parava quieta no assento, o radar no painel dos instrumentos. Depois, como separação entre a cabine e o cockpit é coisa que não existe no pequeno Dornier, divertimo-nos a assistir pelo vidro da frente do avião a aproximação ao Faial.
Uma vez que viajei para a Terceira, até tive a possibilidade de assistir a animação a bordo com acordeonista e turistas idosos estilo Inatel a dançar o vira a alta altitude. Convenhamos: não há nada como uma boa chegada aos Açores: "Senhores passageiros, como vamos atravessar alguma turbulência na aproximação à ilha, pedimo-vos que se mantenham sentados e de cinto apertado”.
Último susto: Fevereiro de 2002, aproximação às Lajes, na Ilha Terceira. O avião contorna lentamente a pista envolta em neblina, sempre pelo mar, a asa esquerda a querer tocar as águas azul escuro do mar. Vira à esquerda, coloca-se na posição de aterragem pelo lado norte da enorme e larga pista das Lajes. Desligam as luzes para a aterragem. O avião vai aterrar e…ahhh, caímos como numa diversão da Feira Popular, as crianças de uma equipa do Sporting gritam todas ao mesmo tempo, saltamos no assento, merda, foi um poço de ar mesmo na altura em que nos fazíamos à pista. Comentário lento e pousado do meu filho mais novo, momentos mais tarde: “Pensei que fossemos morrer”.

TUDO BONS RAPAZES

24 de Janeiro de 2004. O FC Porto acabara de vencer o Estrela da Amadora por 2-0, com um golo irregular de MCarthy. Mantivera assim cinco pontos de vantagem sobre o Sporting, que visitava em Alvalade na semana seguinte. O que se passou a seguir ao jogo, foi ontem contado pelo árbitro Jacinto Paixão à TVI:
"Reinaldo Teles estava no restaurante. Foi ele que nos levou. Quando acabou o jogo, disse para nós o acompanharmos e, depois do jantar, levou-nos ao hotel(...) Quando chegámos ao hotel, estavam lá as senhoras. Três "meninas" que eu não sei quem lá as meteu. Eu corri com elas e, a partir daí, não sei o que se passou. Mas eu não tive relações sexuais. Pensava que tinha sido uma brincadeira entre amigos..."

Olha lá só, oh Paixão, que raio de amigos tu foste arranjar...

De papo cheio

"Levados ao colo", " levados ao colo", "levados ao colo". Era um barulho de fundo que não deixava nenhum benfiquista de bem consigo próprio. Agora, de repente, fez-se silêncio. Estão de papo cheio.

2005-05-12

Aqui posso?

O jovem e ingénuo cineasta Ivo Ferreira, detido no Dubai por alegadamente fumar um charrito, apelou ontem ao Ministério dos Negócios Estrangeiros para que disponibilize informações sobre os vários países do mundo onde não se pode fumar haxixe. "Espero que o meu caso sirva de lição. O ministério e as agências de viagem deveriam disponibilizar mais informações sobre os países", disse Ivo, o pouco informado.
Que te sirva de lição a ti, Ivinho. Saíste-me cá um tótó. Também queres uma cartilha com os países do mundo onde não podes beber alcool na rua? Olha, vai beber Ballantines para o centro de Riad e depois queixa-te que o MNE não te avisou. Ele há cada uma...

2005-05-11

Vocês correm, quem é que não corre?

À porta do Centro de Estágio. "Não jogam um caralho. Não correm. Ainda ontem apareceram aí o João Pereira e o Manuel Fernandes e eu disse-lhes: não correm. Porque é que não correm? E eles disseram: nós corremos. E eu perguntei: Atão se vocês correm, quem é que não corre? Eles calaram-se". Abre-se a cancela e passa um BMW azul topo de gama cheio de jovens lá dentro. "São os juniores. Já os conhece?" Quem? "Os juniores". Não, não, conheço. Os juniores, num BMW? "Oh, meu amigo, ali dentro é só Audis, Mercedes e BMW's". Na idade deles andava de bicicleta. " E eu andava a cavar enxada".

2005-05-10

REASON TO BELIEVE

De Bruce Springsteen (Álbum "Nebraska", 1982)

Seen a man standin' over a dead dog lyin' by the highway in a ditch
He's lookin' down kinda puzzled pokin' that dog with a stick
Got his car door flung open he's standin' out on highway 31
Like if he stood there long enough that dog'd get up and run
Struck me kinda funny seem kinda funny sir to me
Still at the end of every hard earned day people find some reason to believe
Now Mary Lou loved Johnny with a love mean and true
She said "Baby I'll work for you every day and bring my money home to you"
One day he up and left her and ever since that
She waits down at the end of that dirt road for young Johnny to come back
Struck me kinda funny seemed kind of funny sir to me
How at the end of every hard earned day people find some reason to believe
Take a baby to the river Kyle William they called him
Wash the baby in the water take away little Kyle's sin
In a whitewash shotgun shack an old man passes away
take his body to the graveyard and over him they pray
Lord won't you tell ustell us what does it mean
Still at the end of every hard earned day people find some reason to believe
Congregation gathers down by the riverside
Preacher stands with his Bible groom stands waitin' for his bride
Congregation gone and the sun sets behind a weepin' willow tree
Groom stands alone and watches the river rush on so effortlessly
Wonderin' where can his baby be
still at the end of every hard earned day people find some reason to believe

2005-05-07

N-17 BLUES

Sérgio Teixeira, 15 anos, não imagina que mesmo ali por cima começa a mítica estrada da Beira, a N-17. Lá em cima, na ponte enferrujada, ouve-se o troar dos automóveis. Na ponte ferroviária, ao lado, os amigos de Sérgio passeiam pela passadeira metálica que existe por debaixo dos carris e atiram-lhe pedras. Cá em baixo, junto ao Mondego, Sérgio foge às pedras e observa a corrente forte do rio. “Não tenho medo do rio”, afirma. As aulas terminaram na semana anterior e Sérgio tem agora todo o tempo do mundo para atirar pedras às águas do Mondego ou escalar com os amigos as margens inclinadas. Ali em cima, apanhará a carreira 9 ou 10 que o levarão de regresso a casa, no Calhabé.
O céu permanece enevoado mas está calor. “Daqui a um bocado vou tomar banho”. A água não está suja? “Isto não é sujo”, explica Sérgio, “a água está castanha por causa das areias que vêm lá de cima”. De repente, muito ronceiro, passa o vagaroso comboio da Lousã, todo pintado de riscas vermelhas e brancas. Alguém acena lá de cima. “Adeus, que vou para a Lousã”, parecem dizer.
No meio do rio, um casal sentou-se de água pela barriga, muito prazenteiro. Na outra margem, há pescadores de rio e lavadeiras enxaguando roupa colorida em grandes alguidares enquanto um par de namorados brinca tendo as duas pontes como pano de fundo.
Dali, das margens do Mondego, até Celorico da Beira segue a N-17, 135 quilometros de curvas e contra-curvas, pinhais e eucaliptais ladeando a estrada, as serras beirãs fechando o horizonte ao longe. Já houve um tempo em que a estrada era a grande via de acesso às terras da Beira Alta. Foi por ali que fugiu o exército napoleónico na primavera de 1811, quando da terceira invasão francesa. Por ali também desciam e subiam os estudantes que assomavam a Coimbra, vindos das beiras e os comerciantes transportando o queijo da serra e os produtos hortícolas da região. Existia um tráfego certo de automóveis ligeiros que, de Coimbra, se dirigiam às terras da Guarda e a Espanha. Hoje, as IP 3 e IP5 estão a roubar-lhe o movimento e a entregá-la ao trânsito local, aos madeireiros, aos emigrantes regressados, às indústrias de lanifícios das bandas de Seia e Gouveia. “Fazem essas IP’s”, lamentava um comerciante, “e roubam-nos o tráfego todo”.
A estrada começa por acompanhar o ramal de caminho de ferro da Lousã para depois seguir junto ao rio Ceira. Ultrapasso uma ponte nova, provavelmente inaugurada por Cavaco e subo entre curvas ladeadas de pinheiros, acompanhando as sinuosidades do Ceira. Num grande placard pode ler-se: “Esta floresta está protegida por nós”.
Entre São Frutuoso e Segade encontro o Nuno Reis, 13 e o Hugo Sales, 14. Desciam a estrada furiosamente em bicicletas de montanha quando os interpelámos. Vestem calções de ciclista e trazem mochilas coloridas nas costas. Vêm da Lousã e seguem para Coimbra, 28 quilometros na N 236 e N17. “Estavamos a pensar em dar um mergulho no Ceira”. Hugo tem um dos pedais da bicicleta folgado. Pega num alicate para o apertar. “Esta estrada é perigosa mas a gente acautela-se”.
À beira da estrada, há venda de laranjas e vivendas novas que vão substituindo a arquitectura tradicional. Vários ramais podem levar o viandante às terras de Almalaguês, Miranda do Corvo, Lousã, Serpins. Deixo o Ceira, que quase se enrola com a linha de caminho de ferro e ignora a N-17.
Em Vale de Vaz, antes da longa recta que leva a S. Miguel de Poiares, Maria Fernanda e Paul Thorp dão as boas vindas no bar as “Duas Bandeiras”. Thorp, um britânico com olheiras de noctívago e um bigode simpático serve-me uma cerveja enquanto explica porque escolheu aquele local. “It’s quiet down here”.
Fernanda conheceu Thorp em Bradford, no norte de Inglaterra, onde viveu 30 anos. Há seis anos compraram uma casa na aldeia da Sobreira e Thorp apaixonou-se pelo local. Maria, por ela, preferiria continuar em Inglaterra mas não conseguiu resistir à paixão de Paul Thorp pela zona da Lousã. Há dois anos compraram o café e transformaram-no num misto de pub inglês e venda portuguesa. Vêem-se canecas penduradas em cima do balcão e panos de marcas de cerveja por debaixo dos copos.
“Abrimos ao meio dia e fechamos às duas da manhã. Passam por aqui rapazes das madeiras e da construção. Temos também ingleses e holandeses, hippies que vivem em Serpins e que descem até cá baixo para celebrar qualquer coisa ou jogar snooker”. Ali na zona, começam a existir pequenas colónias de holandeses e ingleses. “Há 20 ou 30 famílias de ingleses nos arredores de Poiares e em Miranda do Corvo há centenas deles”.
À medida que abandona os campos de cultivo de Poiares, a estrada trepa por encostas cobertas de árvores queimadas. No cimo da encosta, vê-se o vale profundo do Alva rodeado por todo o lado de terrenos queimados. Há fetos e pequenos eucaliptos rebentando junto aos pinheiros carbonizados. Os madeireiros andaram a cortar madeira e juntaram pilhas de barrotes junto à estrada.
“Quer saber se isto dá lucro?”, pergunta entre o desafio e a irritação um madeireiro de S. Martinho da Cortiça. “Dava, se eu tivesse pessoal para trabalhar horas extras e se não fosse tudo para França. Isto está mau. Não é fácil andar aqui a comer o pó...”, afirma enquanto aperta uma porca num camião carregado de madeira.
A conversa começa a azedar quando lhe pergunto se a madeira da serração é madeira do último incêndio. “É tudo madeira nossa, dos meus avós e trisavós”. Há um tom de desconfiança na sua voz. Começa a brincar por viajar de Land Rover: “isso que está a escrever é para quê? Para os ricos verem como os pobres trabalham?Vêm para aqui de jeep armados em ricos...” Respondo-lhe que não tem nada com isso. Acabo a ser insultados e com o madeireiro a ir buscar algo ao carro para nos bater. “Seu filho da puta, ponha-se já daqui para fora, você não sabe do que eu sou capaz...” Bato em retirada da terra da madeira queimada.
A estrada da Beira continua a ladear os pinhais. Sobe-se até à Serra da Moita para encontrar o único motel da N-17, o “American Motel”. Tem uma enorme tabuleta junto à estrada enquanto numa parede pode ver-se o desenho de uma caravela e a inscrição: “Colombo ou Corte-Real?” Ao lado, vê-se a imagem em bronze da Estátua da Liberdade.
O proprietário, Ângelo Martins recebe-me com um boné com as iniciais N e Y de New York. Foram trinta anos como construtor nos Estados Unidos. O orgulho de ser português mistura-se com a desilusão total em relação aos nossos governantes.
“Ramalho Eanes e diversos Secretários de Estado foram lá a Newark convidar-nos a investir em Portugal e prometer-nos ajuda financeira. Afinal, era o conto do vigário. Tudo o que você aqui vê é fruto do meu trabalho, não recebi um tostão furado de apoio do Estado”.
Para piorar as coisas, a Junta Autónoma das Estradas alega que o empreeedimento tem de recuar 50 metros para lá da N-17 e por isso, o motel ainda não pôde ser legalizado. “Porque é que não me disseram isso quando comecei a construir?”, pergunta um Ângelo Martins encolerizado. “Não arredo um milímetro. O primeiro que tentar violar aquele gradeamento sai daqui toldado”.
As relações da Ângelo com a JAE passaram a ser de autêntica guerra. Quando colocou uma placa junto à estrada a publicitar o motel, os homens da JAE arrancaram-na e para a reaver Ângelo teve de pagar. Quando passou um cheque, explicaram-lhe que não podia ser, tinha de ser em duas prestações. “Diga-me lá: é de dar em doido ou não é?”
Até agora o “American Motel” não foi proibido de receber hóspedes e Ângelo recorda que já lá dormiu Rogério Cavaco Silva, irmão do ex-primeiro-ministro bem como a segurança de um ministro. O motel vive, no entanto, na ilegalidade enquanto o emigrante é obrigado a pagar a contribuição autárquica todos os anos. “Nunca fui assaltado em Brooklin ou Harlem e sou assaltado na minha própria terra? O que é isto?”
De novo na estrada, atravesso pequenas povoações entre denso arvoredo: Venda da Serra, Catraia de Mouronho, Gândara de Espariz, Venda do Porco, Venda da Esperança. É um nunca acabar de curvas e contra curvas. A copa das árvores fecha o céu sobre a estrada e uma paragem de autocarros quase é engolida pelos eucaliptos. O horizonte ao longe começa a agigantar-se. Primeiro, ali mais ao lado, a Serra do Açor. Ao fundo, começam a desenhar-se os contornos da Serra da Estrela.
De vez em quando velhas motorizadas passam vagarosamente por nós deixando um rasto ensurdecedor. José Fernandes, 13 anos, vem a pé. Puxa um carro coberto de feto até cima que a avó lhe disse que fosse buscar à floresta que circunda Vendas de Galizes. “As galinhas estão a precisar de mato, é para pôr debaixo das galinhas”. E lá vai ele, a puxar a carroça.
Ao longo da estrada, os cafés, restaurantes e residenciais indicam a proveniência dos proprietários. Não é raro ler-se tabuletas com “cuisine regional” ou “repas et chambres”. É o Café Paris, o Planalto Huambo, o Café Polana, a Estalagem Moçambicana. Atrás do balcão do Restaurante “M’Ombaka”, em Senhor das Almas, Manuel Figueiredo, 61 anos, agradece que lhe venhamos quebrar o tédio de um estabelecimento às moscas.
“Perdi 90 por cento do movimento com a abertura da IP3 e com a crise”, explica o ex-retornado de Angola, “antigamente servia aqui 20 a 30 almoços, hoje quando sirvo quatro ou cinco já é muito bom”. Depois, vira-se para a cozinha e pergunta: “Quantos almoços servimos hoje, Preciosa?” “Um”, responde a cozinheira.
Figueiredo viveu no Lobito 33 anos. “Era uma vida bonita, eu era guarda-livros numa firma, dava-me bem com toda a gente. Isto aqui é uma prisão, não interessa a ninguém. É só agricultura e resina. A batata não se vende e a resina está em crise”. Figueiredo insiste para que coma lá em casa. Lá fora, junto à estrada, Senhor das Almas parece deserta.
Grandes camiões vêm embarcar madeira às fábricas de Oliveira do Hospital. Há também inúmeras oficinas assinaladas por pneus pintados, fábricas de mármores e granito. José Pereira trabalha o granito sózinho numa pequena choupana junto à estrada. Está a fazer uma lareira e tem junto a si pequenas colunas de pedra. “Faço tudo sozinho”, explica, quase num sussurro, sem nunca deixar de bater a pedra: “pac, pac, pac”.
Quem queira observar bem a Serra da Estrela pode ficar na Pousada de Santa Bárbara, na Póvoa das Quartas. “Isto aqui de Inverno chega a ser um bocado aborrecido”, confessa a simpática recepcionista, “só há movimento aos fins de semana e quando há neve”. Paira um silêncio retemperador pelos salões da pousada. Da janela dos quartos, vê-se Sandomil lá em baixo, repousando no vale, junto ao Alva. À noite, as aldeias da Serra da Estrela luzem como pirilampos enquanto o som dos grilos se cruza com o dos rebanhos ao longe.
A partir da Póvoa das Quartas, a estrada está a ser beneficiada. A JAE adjudicou a obra a um empreiteiro transmontano. “Somos todos de Bragança, Vinhais e Macedo de Cavaleiros”, explica um jovial Duarte Rodrigues, 42 anos, o homem que coloca a “cola” antes do alcatrão e segue um ritual demorado antes de segurar na mangueira. Molha umas botas de cano alto, veste umas luvas e um fato de macaco que deixa propositadamente aberto por causa do calor. Do alcatrão sobe uma nuvem de vapor. Duarte, 13 anos de casa, sempre a “andar no tapete”, nunca deixa de sorrir, mesmo quando os bagos de suor se acumulam na testa.
A N-17 encontra-se agora definitivamente na rota da Serra da Estrela. Um camião solitário percorre Torrozelo, cujas casas parecem desertas, os estores fechados. Aproximam-se os cruzamentos de Seia e de Gouveia e o vulto da Serra vai-se agigantando.
Perto de Santiago, num campo de oliveiras, dois agricultores conversam junto a uma vaca, um deles entretido a ceifar erva, o outro a pastorear um rebanho de mais de 100 ovelhas. “Isto aqui na zona está mesmo mau”, exclama o pastor Luís Lopes, 33 anos, uma camisa aos quadrados aberta sobre o peito, o chapéu puxado para trás, o queixo apoiado no cajado. “O queijo é o que vai dando mais ou menos porque a lã é dada. Até a dava pelo trabalho de tosquiar as ovelhas”.
Lopes anda revoltado com os fiscais das finanças que querem que ele pague imposto. “Quem tem mais de cem ovelhas tem de as pagar. Tenho 120 e 13 com brucelose. Vieram-me chatear a cabeça, eu disse-lhes para as virem guardar eles. Se me vierem chatear outra vez, vendo logo metade do rebanho”.
Nos campos de batata, as coisas não estão melhores. “Os adubos estão sempre a subir e a batata sempre a descer. Se a coisa desse, eu semeava 10 ou 15 sacas de batata. Assim, nem para consumo. Ainda por cima, o pessoal é dois contos por dia, quer dizer, dois contos as mulheres porque os homens recebem três contos. Não dá. Vale mais deitarmo-nos ao sol que trabalhar na agricultura”.
Junto a Catraia de São Romão, dois homens entregam-se à mais aborrecida das tarefas. Têm uma fita métrica e atravessam-na de um lado ao outro da entrada para São Romão. “Isto é para a gente ter uma ideia da massa betuminosa que leva aqui”, explica um dos homens, funcionário da JAE, que pede o anonimato. “Sabe, é que estamos a contrato e estamos mesmo na altura de revalidação do contrato”.
Medir a estrada, de fio a pavio, não os aborrece. “Desde que se goste do trabalho”, diz o outro, limpando a testa do suor. “Esta estrada quando estiver pintadinha e sinalizada, ainda vai rivalizar com as IP’s”, diz em tom de profecia.
A N-17 não para de trepar, beira acima. Já lá vai o cruzamento para Seia, alcançamos a aldeia de Pinhanços. Uma residencial anuncia entre televisão a cores nos quartos e parabólica, a utilização de fax. O único taxista da terra senta-se junto a um fontanário e desespera. “Há dias para tudo. Hoje, estou aqui ao sol”. Depois, apressa-se a chamar um senhor “que percebe mais das coisas da terra e pode dar mais informações”.
“O senhor” é José Luis Almeida, 66 anos. A casa junto à estrada da beira de onde o vejo saír era uma antiga estalagem onde se mudavam os cavalos. José, que esteve 32 anos na TAP, é uma daquelas memórias vivas de aldeia que recorda o ano da fundação da associação recreativa ou fala sem parar da emigração para os Estados Unidos.
“Está a ver estas casas em pedra? Foi tudo construído nos anos 30 pelos emigrantes que vieram da América fugindo à grande depressão. Isto aqui é terra de emigrantes. Mais de 80 por cento dos homens emigraram todos para a Argentina e para a Europa.”
Acompanho o dorso da Serra da Estrela. Surgem penedos irrompendo junto da urze rasteira.De vez em quando há mansões isoladas, fruto da emigração. Atravessar a N-17 nesta zona é um acto solitário. A estrada, até aqui em beneficiação, perde a camada de asfalto e reaparecem os paralelepípedos.
Em Cortiçô da Serra, quase em Celorico da Beira, uma viatura de ingleses que vinham do Algarve está sem bateria. Um taxista de Celorico veio ajudá-los e um pequeno círculo de pessoas rodeia os desafortunados turistas. Um deles, é o carteiro, que obviamente, não terá muitas cartas para entregar. Outro é cunhado do taxista e dono da cervejaria do outro lado da estrada. Chama-se António Jerónimo, 42 anos.
“Eles estão aqui desde manhã. O homem é engenheiro, esteve em África, esta já a segunda mulher dele, é da California”. Como é que soube tanta coisa? “Ah, ah, eu falo inglês, vim há quatro anos de Rhode Island”. A bateria do carro dos ingleses parece ter finalmente recarregado. Despedem-se em inglês. “Take it easy”, grita Jerónimo. “We’ll stop again”, despede-se a americana. “São uns gajos porreiros”, afirma Jerónimo enquanto vai dizendo adeus, “até deixaram dinheiro à minha miuda para comprar um gelado”.
A N-17 termina discretamente à entrada de Celorico da Beira, junto a um campo de futebol e a um terreiro. A povoação está toda engalanada para o seu S. João. Essa noite é uma noite especial na estrada da Beira. Um pouco por todo o lado, em seu redor, acendem-se fogueiras de rosmaninho que os mais jovens se entretem a saltar.
Arcozelo da Serra, a quatro quilometros da estrada da Beira, engalanou as ruas estreitas e empedradas para uma festa. A música— “é dos carecas que elas gostam mais”— é da pior e o recinto da festa está com muito pouca gente. “Hoje não é bem festa”, explica António Cabral, que tira a mão dos bolsos para nos bater no peito, “deviam ter vindo no sábado”. Depois, enumera a lista de artistas nacionais que já cantaram em Arcozelo. “Rodrigo, Roberto Leal, Amália e ah... Júlio Iglesias, esteve quase, quase para cá vir”.
Batemos em retirada e acabamos na única discoteca da estrada da beira aberta à quarta-feira. “Dantes, não havia pubs, a malta vinha mais cedo”, explica Adelino Rodrigues da Silva, o dono da Turbo Seven, “agora vem tudo depois da uma da manhã”. Há uns anos realizou-se ali uma prova de resistência dos barmen e dos disc jockey. “Foram 200 e tal horas sem parar, foi recorde nacional”, orgulha-se Adelino, que estranha que nós nunca tivessemos ouvido falar da Turbo Seven.
Uma espécie de colunas dóricas delimitam a pista invadida pelos raios de luzes coloridas. É quarta-feira mas já se dança na Turbo Seven. “Forever young, I wanna be forever young”. Lá fora, não param de chegar automóveis. Numas escadinhas mal iluminadas, junta-se um grupo, trocando confidências ao som da música que vem lá de dentro. Na estrada, um risco de luz a média velocidade anuncia a passagem de mais um carro na direcção de Seia. É a noite na N-17.

"Keké'isso' ó meu?"

"Keké'iss'ó meu?" Morreu o Jorge Perestrelo, fintado estúpidamente pelo coração. Que raiva...

2005-05-06

Encontro de bloggers da Costa da Caparica já!

Entrei agora pela primeira vez numa coisa chamada "Blogo" que apresenta blogs frescos I e blogs frescos II escolhidos criteriosamente por uns eleitos que depois explicam que não aceitam inscrições. Desde que descobri as votações do blog do ano e do blog mais catita e da bloguista mais interessante e dos encontros de webloggers portugueses, como aqueles encontros dos fãs do Star Trek ou dos Amigos da Casa de Alvaiázere, que meus amigoszzzz...já nada me admira.

Cumplicidades blogosféricas

Mais uma achega sobre o funcionamento cada vez mais complexo, palaciano e cúmplice da blogosfera:

"O que é entronizado é bom"

Agora desatou tudo a responder ao mesmo questionário sobre livros (é aquela coisa que começa pelo “Fahrenheit 451”). Intriga-me esta tendência que convoca o feérico desejo de massificar e repetir os registos. E a verdade é que dezenas de blogues tentam inventar originalidades em forma de beco invisível. Como se a blogosfera fosse uma tertúlia de amigos e não um conjunto de dispositivos onde se processam expressões. Como se ter e escrever num blogue implicasse uma inevitável rede de afectos e de ternas familiaridades (de que se falará, por exemplo, num encontro de blogues?).Juro que, qualquer dia, ainda espalho pela blogosfera uma pergunta do género: “O que faz nos tempos livres?” (a minha resposta é, aviso já: "Jogo ao monopólio"). No Miniscente

A TRIBO DO FUTEBOL


Posted by Hello Como toda a gente sabe, a tribo do futebol vive e alimenta-se em clãs. No futebol, ao contrário do discurso politicamente correcto dos governantes e das televisões, o nacionalismo não existe. Os adeptos do Glasgow Rangers odeiam o Celtic, a "torcida" do Flamengo detesta os "vascaínos" a quem chama "bacalhau filho da puta" e nem vale a pena falar do que a maioria dos adeptos do Barcelona desejam que aconteça ao Real Madrid sempre que este participa numa competição europeia.
Se em Portugal, fosse diferente, eu ficaria admirado. Portanto, quando o meu colega e amigo Tiago saltou de alegria ao assistir ao terceiro golo do Az Alkmaar, eu não aplaudi mas compreendi. Afinal, ele fez apenas o que muitos aquela hora estariam a fazer em Portugal inteiro. E quando, minutos mais tarde, saí à rua e um grupo de jovens adeptos sportinguistas festejavam a vitória gritando " SLB, SLB, filhos da puta, SLB", eu encolhi os ombros. O futebol é tribal, feito de rituais e de preceitos próximos da religião que nada têm a ver com o facto de se ser desta ou daquela nacionalidade.
Afastados por momentos os resquícios tribais, e apelando ao mais cristão que há em mim, sei que há um grupo de pessoas, todas elas sportinguistas, todas elas minhas amigas, colegas e familiares, que estão neste momento muito felizes: O Pedro Caldeira Rodrigues, que há dias simulou queimar o meu cartão de sócio do SLB com o seu isqueiro; A Mariana; o Jorge Pombo; o Mário; o meu sogro; o Zé Mateus, que passa a vida a deitar abaixo o emblema do Benfica que tenho em cima do móvel junto à secretária; o meu Tio Jorge, que deve ter curtido em Norwich a notícia; o Fernando Magalhães, o Marco Vaza, o Paulo Curado, o Luciano Alvarez, o Carlos Filipe...é tudo pessoal porreiro...deu-lhes para ali, o que se há-de fazer?

2005-05-05

Presidência Aberta sobre o Alcoolismo SET 2005

Numa taberna, algures no Deep Portugal

PR- Precisamos claramente e de forma efectiva de alternativas culturais e educativas ao alcool e de enfrentar de forma clara, adulta e responsável essa chaga nacional responsável pela elevada sinistralidade rodoviária, violência doméstica, rupturas sociais de toda a espécie...Vejo aqui este amigo e apetece-me abraçá-lo, venha daqui esse abraço...Pfffff....oh homem, você cheira a bagaço!
Anónimo- Foi só um, senhor presidente. Porquê? Era para não beber?

Não deixaram dormir o Sporting

Indivíduos desconhecidos fizeram explodir ontem à noite perto do hotel, onde está instalada a comitiva do Sporting, duas bombas de carnaval, com alguma potência, tendo acabado por acordar os jogadores leoninos. "Deixa eu dormir pô, porco do car...", terá ainda comentado Liedson ao seu companheiro de quarto. "Cê acha que eu peido tão de mansinho? Escuta só..." Liedson: "Não, por amor de Deus..."

2005-05-04

Something the money can't buy

"History, you can't buy history" cantavam os milhares de fãs do Liverpool no mítico Estádio de Anfield Road enquanto a equipa milionária do Chelsea comprada a peso de ouro pelo magnata russo Roman Abramovich deixava, cabisbaixa, o terreno de jogo

Desabafo

" O Liverpool está a ser levado ao colo"

Fã anónimo de José Mourinho

PREOCUPANTE

"Quero morrer", terá dito Pinnilla, o avançado chileno do Sporting ao jornal "Las Ultimas Noticias". O jogador, que tal como Nuno Gomes (Benfica) e Costinha ( FC Porto) se encontra lesionado, disse ainda a dado momento: Perdoa-me que não queira falar mas estou morto".
Estas preocupantes declarações, publicadas na edição online do Jornal Record estão a atormentar a família sportinguista, que já vivia com angústia a degradação da saúde mental de Dias da Cunha.

2005-05-03

Mais uma tragédia portuguesa concerteza

Num país de tristezas, fados e guitarradas, a RTP quis-nos convencer que estavamos todos, portugueses, convocados e do lado do Chelsea. Em rodapé lia-se "portugueses sofreram com o Chelsea" e um entrevistador perguntava a José Mourinho o que achava do golo "duvidoso". Acontece, em primeiro lugar, que este português de gema, que tem cabeça para pensar, vibrava nos anos 70 e nos anos 80 com o futebol apaixonante do Liverpool, especialmente da equipa do Kenny Dalglish e do Souness. Em segundo lugar, a RTP Mourinho sabe que mesmo que a bola não tivesse entrado na baliza, o árbitro teria de marcar penalty e expulsar o guarda-redes do Chelsea por falta sobre o Baros.
Se amanhã o José Mourinho for para o Milão e levar dois ou três jogadores portugueses, vamos todos sofrer pelo Milão?

"YOU NEVER WALK ALONE"


Posted by Hello Anfield Road já não vivia uma noite assim há muitos anos. Até parecia que os anos 80 tinham sido ao virar da esquina. Quem tem adeptos destes merece tudo. They didn't walk alone.

Portugal forreta

"Áustria é o país mais generoso em dádiva de sangue, Portugal o mais forreta"
Não oferecem telemóveis nem viagens de uma semana a Porto Galinhas...

Vamos lá a dar todos as mãos outra vez

O Presidente da República Jorge Sampaio, defendeu hoje mais polícias na rua. "Defendo, quero que o saibam, defendo dizia eu, clara e inequivocamente, que o país como um todo deveria ter, dispor de mais polícias na rua. Como os vai ter ou deveria ter, dir-vos-ei também que não sei nem quero saber, como sabem estou quase a pôr-me ao fresco mas quero deixar aqui a minha palavra solidária de apreço e de apelo à coragem de todos para que em conjunto, todos juntos, saibamos dar a volta a mais este problema. A questão da segurança é uma questão que me preocupa e que num gesto digno de cidadania e de solidariedade deve preocupar um a um todos os portugueses, daí que eu, mais uma vez..."

2005-05-02

A ANTRAL ACONSELHA

“À noite não há casas de banho públicas, os cafés também estão fechados e, como é óbvio, os motoristas não podem ir a casa”, explicou o presidente da ANTRAL*, Florêncio Almeida ao "Correio da Manhã" sobre o sempre actual drama dos taxistas lisboetas quando de bexiga apertada.
“Serão poucos os taxistas que urinam junto às praças, mas infelizmente isso faz parte da rotina de algumas pessoas, o que não faz sentido pois o carro passa por muitas zonas desertificadas onde podem fazê-lo”, argumenta Florêncio.


* Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários Em Automóveis Ligeiros

2005-05-01

"Levados ao colo"

Está uma daquelas noites que anunciam o Verão. Milhares de pessoas caminham, entre a alegria e a insatisfação de ter ganho com um golo de penalty. As luzes do Estádio, enorme por detrás, alumiam-lhes os rostos e as conversas. Lá em baixo, um carro buzina, acenam-se cachecóis. "Já?", pergunta alguém, "vamos a ter calma". Muitos dirigem-se como autómatos para as roulottes iluminadas. Nada como uma bifana, uma imperial, dois dedos de conversa e um gritos alcoolizados de "Benficaaaa!" Num terreiro improvisado de parque de estacionamento, paira o arraial excursionista da grande família encarnada. "Casa do Benfica da Trofa", lê-se numa camioneta. "Casa do Benfica de Canas de Senhorim", lê-se noutra. "Casa do Benfica de Évora", lê-se adiante. Junto a um autocarro onde se lê "Viação da Beira Interior" um homem ergue em sinal de triunfo uma garrafa de vinho na minha direcção. Mais adiante, entre duas camionetas, vários homens compartilham um garrafão de vinho sob o som de buzinas, de gritos, de vozes de crianças minúsculas de cachecol à Benfica e a mão dada ao pai. De repente, um homem baixo e de cabelos brancos, auscultadores nos ouvidos e transístor na mão, grita: "Golo!" Todos pensam que o homem se refere a um golo do Marítimo no FCPorto- Marítimo. Falso alarme. O homem enganara-se. Fora golo do Porto. "Raio do velho, mais valia estar calado!", comenta alguém. Numa roulotte, um magote de adeptos acorre a ver a repetição do golo de McCarthy: "Eh! Mas o homem está fora de jogo! Foda-se, isto é um escândalo! E depois somos nós que estamos a ser levados ao colo!

O homem descobriu a pólvora

"Sampaio aponta falta de civismo como causa da sinistralidade rodoviária". Este homem está cada vez mais parecido com o La Palisse.